Após a repercussão dos vídeos divulgados no início do mês de janeiro, onde internautas afirmaram ter visto tubarões à beira-mar, em frente ao antigo Meliá, na praia de Jatiúca, em Maceió, a redação do CadaMinuto foi às margens da orla para ouvir a opinião dos banhistas e saber se eles continuam a frequentar o local.
Morando há seis meses em Maceió, a comerciante Verônica Carvalho diz que desacredita da aparição de tubarões na cidade e, mesmo após o caso ter sido noticiado, ela continua frequentando a praia normalmente. Acompanhada do esposo, Itamar Savóia, do filho e do afilhado, a banhista ainda relatou que dois amigos vêm visitar a capital e também não estão preocupados com o fato.
De acordo com o comerciante e praticante de pesca, Itamar Savóia, as pessoas “confundiram o cardume de xaréu que ataca os peixes dentro do arrecife, quando a maré está baixa, com tubarão [...] o xaréu nada em linha, então dá a impressão de ser um tubarão, mas não é”, afirmou Savóia.
O prestador de serviços da orla, José Paulo Santos, também ficou sabendo do caso, mas disse acreditar que o animal visto era golfinho ou arraia. “Eu trabalho aqui na praia há 36 anos e nunca vi tubarão aqui [...] o mar não é aberto, não tem como tubarão passar, então era golfinho ou arraia”, alegou José. Além disso, o prestador de serviços explicou que no momento da repercussão, o nível do mar estava baixo o que, segundo ele, impossibilita a passagem do animal devido ao seu tamanho e peso.
Ciente do caso no momento da entrevista, o ambulante Edivaldo dos Santos alegou que não sente medo, pois nunca ouviu falar sobre a aparição de tubarões na orla lagunar de Maceió. “Eu já vi tartarugas e golfinhos nessa região, mas tubarão, eu nunca ouvi falar. Se existisse, já teriam colocado a placa para alertar os visitantes”. O ambulante ainda afirmou que após a entrevista, iria tomar banho de mar.
A reportagem do CadaMinuto também entrou em contato com Cláudio Sampaio, professor da UFAL Penedo, dos cursos de Engenharia de Pesca e Biologia, além do Programa de pós graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos/UFAL, e, questionado sobre a atual situação da praia da Jatiúca com relação a aparição dos tubarões, ele disse que, a praia, possui recifes que protegem uma parte de seu litoral, mas há uma parte aberta, conectando diretamente as regiões rasas até as mais profundas. Essa característica faz com que peixes, grandes e pequenos, tenham livre acesso. Tanto que essa Praia é bastante utilizada por pescadores e as capturas de peixes grandes, como xareus e outros predadores, não são raras.
Claúdio Santos disse ainda que, o perigo para os banhistas é variável e que não há casos de incidentes envolvendo banhistas e tubarões no Estado.
“Devemos sempre lembrar que as praias, mesmo urbanas são ambientes naturais, selvagens. Queimaduras causadas por águas vivas, ferimentos causados por ouriços do mar são relativamente comuns, já incidentes envolvendo banhistas e Tubarões em Alagoas são desconhecidos, apesar do grande número de banhistas e praticantes de esportes náuticos. Um risco real e muitas vezes subestimado em nossas praias são os lançamentos de esgoto e o lixo na praia, que podem contaminar as águas e os banhistas com bactérias e vírus, além de resíduos sólidos que podem machucar, cortando ou furando banhistas”, explicou o professor.
O especialista comenta ainda que, caso os banhistas se deparem com algum animal silvestre de grande porte na água, a recomendação é que se afastem e saiam da água.
“A recomendação é que os banhistas se afastem, garantindo a segurança de todos, pois podemos transmitir e contrair doenças (zoonoses), mas no caso específico de tubarões, a recomendação é sair da água, alertar o salva vidas mais próximo e tentar registrar em fotos e vídeos, pois é um evento extremamente raro em nossas praias”, justificou.
Além disso, a reportagem questionou o professor a respeito das imagens que estão circulando, e também, sobre os internautas negarem a aparição dos tubarões. Durante a entrevista, ele informou que “as imagens, feitas com telefones a noite, possuem pouca qualidade, dificultando a observação das nadadeiras dorsais dos tubarões. Dificilmente um banhista ou um leigo observando as imagens, teria condições de confirmar a presença dos tubarões. Depois de muitos exames das imagens, além de entrevistas com testemunhas, não temos dúvidas em afirmar que eram tubarões”.
Para Claúdio, os tubarões, possivelmente, foram atraídos pela grande iluminação artificial da região, onde isso faz com que os animais fiquem desorientados.
“As luzes artificiais, direcionadas a praia, atraem pequenos peixes, que formam cardumes e devido a iluminação e a profundidade reduzida ficam desorientados. Essa movimentação errática pode atrair peixes carnívoros, como xareus que já foram capturados em grande número por pescadores locais e os tubarões, que possuem órgãos sensoriais refinados, podendo perceber e serem atraídos por essa movimentação de peixes em águas rasas, onde a predação é facilitada. Normalmente, esses tubarões passam a maior parte do tempo afastados da praia, em águas mais profundas, especialmente durante o dia, sendo mais ativos à noite, quando buscam alimento”, explicou.
Segundo o especialista,” não há nenhum órgão que fiscalize a aparição de tubarões. Contudo, todos devem estar bem informados e orientados para essa possibilidade, inclusive para outros animais, como peixes boi, que eventualmente aparecem nas praias, causando grande alvoroço entre os banhistas. Também não podemos descartar a possibilidade de que esse fato tenha acontecido outras vezes, mas que somente agora, no verão, quando há um número maior de banhistas utilizando a praia a noite tenha sido registrado. Também é importante destacar que esses fatos não possuem qualquer relação aos incidentes com tubarões nas praias urbanas da região metropolitana do Recife (PE), relacionados a construção de um grande porto, onde recifes e manguezais foram eliminados, causando desequilíbrio na região”, finalizou.
O professor informou ainda sobre a existência do Projeto Tubarões e Arraias de Alagoas, que desenvolve campanhas educativas, voltadas a crianças e pescadores em todo litoral alagoano.
Os interessados em saber mais sobre as ações e conhecer as propostas do projeto, podem entrar em contato com os responsáveis, por meio da página oficial “Tubarões e Arraias” no Facebook e Instagram.