O senador Renan Calheiros (MDB) saiu em defesa do medium João de Deus, que é acusado, conforme as mais recentes reportagens, de ter abusado de mais de 200 mulheres.
Calheiros diz - dentre outras coisas - o óbvio: João de Deus deve ser investigado e, como estamos em um Estado Democrático de Direito, deve ser garantido a ele todo o direito de defesa.
As denúncias contra João de Deus se avolumam e são gravíssimas. Que a polícia faça o seu trabalho. O médium nega as acusações. E aí, Renan Calheiros, tanto o direito à defesa quanto o caminho das investigações pouco devem se importar com quem é João de Deus, mas sim com o que for fato.
Pouco interessa se ele é "patrimônio nosso da espiritualidade". A lei é igual para todos e se houver o cometimento de crime, como Renan Calheiros mesmo coloca, que ele seja condenado.
O repúdio que se observa em muitos comentáros, senhor Renan Calheiros, não é por conta de uma "sociedade doente e odienta", mas sim pelo que é descrito pelas vítimas.
O que se repudia é a possibilidade dos abusos terem sido cometidos por alguém que se aproveitou da confiança de pessoas que o procuravam em um momento de fragilidade já que João de Deus se apresentava como a cura.
Diante do posto, é natural que muitas mulheres assumam a cautela de não mais procurar o médium enquanto tudo não for devidamente esclarecido. Quem colocaria a si e seus familiares neste risco?
Mas Renan Calheiros tem razão em um ponto: João de Deus não é o maior problema do Brasil. É difícil até elencar o maior problema desse país. No caso da violência, ela se dá todos os dias e contra todos. São mais de 60 mil homicídios por ano. O número só cresceu desde o Estatuto do Desarmamento, que Renan Calheiros apoia e conhece tão bem.
São incontáveis os casos de estupros, latrocínios, roubos etc. Poderiamos ainda adentrar pela decadência intelectual e moral que vive a nossa nação.
Assim como Renan Calheiros, evito o prejulgamento e quero ver Justiça feita nesse caso, com a investigação dos fatos. Não é a primeira vez que João de Deus vai à berlinda por conta de acusações neste sentido. Todavia, o que chama atenção agora é o volume. Não se espantar com isso é perder o senso de proporcionalidade, pois a primeira pergunta que se faz é: estariam todas as mulheres mentindo?
E aí repito: pouco importa quem é João de Deus. Se ele for inocente, que seja reconhecido. Se culpado, que seja julgado e condenado com o maior rigor da lei diante de um crime nefasto cometido em circunstâncias que só tornam mais grave.
Agora, o que chama atenção em relação à declaração de Renan Calheiros é o seguinte: cobrou cautela em relação ao médium alvo de denuncias de várias mulheres. Todavia, há poucos dias, em uma discussão no Senado Federal, com Lasier Martins, usou de uma acusação de violência contra a mulher para constranger o colega de Casa.
Martins também não havia sido julgado. Mas, Calheiros, de forma irônica não se preocupou com isso. O Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou a denúcia contra Martins, mas para Renan Calheiros ainda era válido - naquela circunstância - citar o caso.
Para alguns casos, Renan Calheiros pede a cautela e se coloca ao lado das garantias que são inerentes a qualquer pessoa acusada de qualquer crime. Para outros casos, estas premissas não são tão válidas assim.
Tanto que Renan Calheiros, em suas redes sociais, compara o médico Roger Abdelmassih ao rival Lasier Martins, perdendo por completo o senso de proporcionalidade. Faz politicagem. Nada mais que politicagem... Se coloca como defensor das mulheres, mas utiliza do discurso para atingir um alvo: o colega senador.
E se João de Deus fosse um rival político de Renan Calheiros? Pois é...
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