Comentei, na manhã de hoje, em minhas redes sociais, sobre o livro O Papa Contra Hitler do escitor Mark Riebling. Inicialmente, reitero: como é bom encontrar bons livros de História que buscam vasculhar os fatos e colocá-los na perspectiva correta.
O papa em questão é Pio XII (Eugenio Pacelli), que foi vítima de uma das campanhas de difamação mais ferozes do século XX, envolvendo - como mostra Ian Pacepa e Rychlak, em Desinformação - a inteligência russa.
Riebling, sem a mesma profundidade de Pacepa e Rychlak (é verdade), coloca os pingos nos is e mostra como a Igreja Católica foi a primeira instituição, com forte influência de Pacelli e de seus próprios documentos, a condenar o nazismo, como fez com outras ideologias seculares. A lição também se faz presente por Riebling mostrar os erros de muitos católicos que se deixam encantar por visões ideológicas.
O relato jornalístico de Mark Riebling se faz em um tom romanceado, mas sem perder a objetividade, nos levando a uma leitura envolvente. Há o mérito também, evidentemente, da tradução, que traz essa edição em Língua Portuguesa pela Leya.
Quem se aventurar nessa leitura, que desde já indico, vai se deparar com Josef Müller, persoagem já citado aqui por mim, e seu sentido de missão. Vai julgar também - evidentemente - algumas ações conspirativas; só peço que ao fazer isso não perca mão do contexto histórico na qual está inserida, pois é retratado também a visão que Santo Tomás de Aquino possui em relação ao combate legitimo aos tiranos.
Ribeling também mostra os danos da divisão da cristandade na Europa de forma isenta e atenta aos fatos. É uma obra de leitura rápida, diferente de Desinformação de Pacepa, que requer mais atenção ao processo. Por sinal, são livros que podem ser vistos como complementares para quem gosta de estudar o período. Mark Ribeling me lembrou até a obra - creio que esgotada, infelizmente - O Papa dos Judeus de Andrea Tornielli.
O resgate biográfico de Papa Pio XII é fundamental pelo homem que ele foi na História. Pio XII foi um exemplo de tolerância em relação aos que não possuem a sua visão religiosa. Mais que isso, foi um homem que lutou pela dignidade humana e pela vida, independente de qualquer coisa. Foi o responsável, naquele contexto, por salvar a vida de alguns milhares de judeus contra um dos regimes mais nefastos do século XX, marcado por totalitarismos que se alimentavam de ideologias.
A História, sem sombra de dúvidas, nos deixa lições. Uma delas é o grande mal das tiranias que se apoiam em pseudocientificismos para justificar suas ações intolerantes. Se o caro leitor quiser ainda aprofundar sobre o período, fica aqui a indicação de historiadores como Ian Kershaw e sua obra De Volta ao Inferno, Martin Gilbert com a História do Século XX e a trilogia Terceiro Reich de Richard Evans.
Esses livros associados às análises precisas das tragédias daquele século - comunismo, nazismo e fascismo - de Alain Besançon (A Infelicidade do Século), Richard Overy (Os Ditadores) e Robert Gellately (A Era da Catástrofe Social) mostram bem o quanto as ideologicas seculares são meros conjuntos de ideias que travestem fins políticos perigosos por conta do maniqueísmo absurdo de dividir o bem e o mal pelo mero espectro político, descartando a imensa complexidade humana em nome do racionalismo já denunciado pelo pensador Michael Oakeshott.
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