Já elogiei, em alguns textos nesse blog, o atual secretário da Fazenda do Estado de Alagoas, George Santoro. De posição equilibrada, mesmo quando confrontado com críticas (inclusive algumas já feitas por mim), Santoro busca se apoiar em elementos técnicos de sua função para conceder as respostas. Isso é bom.
Há algo que gosto muito no secretário: clareza, franqueza e avaliação pautada em números.
Sem paixões ideológicas, foi - inegavelmente - um dos pilares do governo de Renan Filho (MDB). Eis que leio, recentemente, no blog do jornalista Edivaldo Júnior uma boa entrevista do titular da pasta da Fazenda. Parbenizo de público o jornalista por também ter colhido as declarações.
É que corria nos bastidores que Santoro poderia fazer parte de um eventual ministério da Fazenda de Jair Bolsonaro, sob o comando do economista Paulo Guedes. Ao que tudo indica, a informação é improcedente.
Todavia, Santoro - ao conversar com o jornalista - falou sobre o que espera do governo e sugeriu cautela e clareza nas ações a serem adotadas por Guedes. Isto é bom. Guedes foi duro em recentes declarações, mas trabalhou com a sinalização da verdade: fugir das amarras ideológicas e dialogar com países, em acordos bilaterais, com quem o Brasil tenha a ganhar. Creio que o caminho realmente seja por aí.
Precisamos de maior liberdade econômica. Esta é uma tecla que venho batendo há muito tempo. Desburocratizar, descentralizar e rever o pacto federativo com cautela, para que sejam privilegiados municípios (que é de fato onde as pessoas vivem). Isto tem que ser uma bandeira de governo. Por isso, já elogiei o futuro presidente Jair Messias Bolsonaro quando ele afirma que vai buscar fazer de seu próximo governo "menos Brasília e mais Brasil". Esero que assim seja.
Quanto a Santoro é nome praticamente confirmado na próxima gestão de Renan Filho. No âmbito local, adota um discurso que se traduzido em prática, pode fazer Alagoas ganhar no futuro contexto do país. O secretário falou que Alagoas deve buscar redução de gastos, modernização da máquina pública (o que creio que inclui desburocratizações) e fazer mais com menos. Que isto reflita em diversificação econômica e incentivo ao setor produtivo no Estado de Alagoas, que é quem gera emprego e renda.
Que o Estado foque mais em serviços, sorbetudo a quem mais precisa.
Não votei em Renan Filho, mas torço para que ele faça um excelente governo, como reconheço pontos positivos de sua gestão. Nunca fiz a crítica pela crítica e há bons nomes no quadro da gestão emedebista. Santoro é um deles.
Agora, dentro da cautela, Santoro comentou as privatizações que serão feitas pelo governo central. Concordo com ele em um ponto: tem que ser estratégico neste. Na entrevista de Bolsonaro a Record, o próprio futuro presidente destacou isso: passos estudados, porque envolvem empregos públicos e com foco prioritário naquelas que são deficitárias justamente para combater o déficit público.
Acredito que assim será, justamente para atender ao que Santoro chama atenção na entrevista concedida a Edivaldo Júnior: "uma agenda de reforma do Estado, de simplificação". Como lembra o secretário, o importante é criar agendas e apresentá-las claramente ao país para que possam ser avaliadas.
No entanto, Santoro, que traz uma boa visão, faz uma comparação injusta, ao falar da relação entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-ministro Joaquim Levy e comparar com Guedes e Bolsonaro.
Caro Santoro, o contexto era absolutamente outro. Dilma Rousseff, em sua campanha, praticou o maior estelionato eleitoral já visto nesse país: vendeu ao público uma situação irreal quanto às contas públicas, e ao se eleger buscou um "salvador da pátria" em Levy, pois queria uma contabilidade criativa que a salvasse diante das medidas impopulares que teria pela frente e que desmontavam o seu discurso.
Resultado: Levy passou a ser indigesto para o próprio PT. Afinal, expôs ainda mais o estelionato eleitoral. A relação de Dilma com o Congresso Nacional foi apenas um plus nesse contexto. O Brasil estava naquela situação pela matriz heterodoxa adotada pelos governos petistas que Renan Filho sempre apoiou, mesmo sabendo dos efeitos da crise na época. Levy não encontrou apoio em Dilma, nem no PT, pois a estratégia de poder adotada pelo partido, que se via hegemônico, era mais importante que uma agenda para resgatar o país.
Neste momento, Paulo Guedes vem alinhado totalmente com Jair Bolsonaro e com as metas de governo estabelecida, o que se pode é discuti-las, concordar ou não com elas, ou até mesmo criticá-la caso as ações práticas não correspondam ao discurso. E isto deve ser feito, pois a promessa foi clara: maior liberdade econômica, cortes de gastos, fortalecimento do setor produtivo, privatizações, busca e acordos bilaterais, desaparelhamento etc.
Não há entre Guedes e Bolsonaro ruidos que indiquem que o presidente vá para um lado e o economista para o outro. Agora não há isso. Neste sentido, a equipe a ser montada dentro do Ministério deve ter um foco que a une e contrará com o aval do presidente. A meu ver, a preocupação de Santoro, portanto, não faz muito sentido.
Todavia, é excelente saber que, em Alagoas, temos um secretário que torce para que o plano econômico do governo seja consistente, o que dá sinal de que trabalhará para ajudar nesse sentido. Afinal, mesmo Santoro fazendo parte de um governo que escolheu o outro lado, a hora é de desarmar palanques e pensar na nação.
Outra boa notícia dada por Santoro: não há expectativa, no governo Renan Filho, de aumento de tributos. Ninguém aguenta mais que o problema seja transferido para o contribuinte. No mais, Santoro está correto: a bonança não virá de imediato com uma simples troca de governo, pois "vive uma triste realidade, tem grande déficit e para enfrentar isso erá preciso, às vezes, de medidas amargas". As aspas são palavras de George Santoro.
Pois é, Santoro. E quem trouxe essa triste realidade foi a matriz heteordoxa de Dilma Rousseff e, em campanha, o PT sequer teve a humildade de reconhecer isso. Atribui tudo ao presidente Michel Temer (MDB), que foi frouxo e um mero tampão. Haja vista a oposição pela oposição feita pelo senador Renan Calheiros (MDB) ao se alinhar ainda mais com o petismo.
E quando se peca se peca por ação e por omissão. Renan Filho, ao apoiar Fernando Haddad (PT) também foi um tanto quanto omisso sobre os erros de seus parceiros políticos, mas este é outro assunto e - obviamente - não cabe a Santoro falar dele.
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