O deputado federal Givaldo Carimbão tem o direito de votar em quem quiser e até mesmo de votar nulo. É direito seu e não questiono isso. Cada qual tem sua consciência livre para analisar o momento que o país vive, que nos levou a uma eleiçao plebiscitária, e assim optar pelo que enxerga como melhor caminho, caminho menos ruim etc.
Carimbão rejeita o voto no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e disse também que não votaria em Fernando Haddad (PT), mas não por conta do PT em si ou de Haddad, mas sim porque a vice da chapa - Manuela D'Ávila (PCdoB) - é favorável ao aborto, ideologia de gênero, dentre outros temas que, como católico, Carimbão diz ser contrário.
É direito dele, repito! Não questiono seu voto.
Mais vale uma pequena análise. Por qual razão. Ora, diante disto, Carimbão afirma ser um ato de "coerência". Vamos aos pontos...
Há questões da nota de Carimbão que merecem destaque. O deputado federal diz que sempre enfrentou poderosos. Ora, nem sempre Carimbão, nem sempre; pois nos anos mais recentes esteve ao lado de quem deteve o poder. É verdade que em alguns momentos não, como quando enfrentou o Ministério da Cultura em defesa dos católicos. Ali, mereceu elogio dos católicos.
Carimbão base do governo petista na Câmra de Deptuados. Em Alagoas, tanto na gestão do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) quanto na atual de Renan Filho (MDB) foi o responsável pelas indicações da Secretária de Prevenção à Violência, antes Secretaria da Paz. De certa forma, isto é estar entre os poderosos. Afinal, são políticos que acumulam poder de decisão. O que não quer dizer por si só que seja errado ou certo. Claro que não.
É possível deter o poder em mãos e fazer coisas corretas a partir daí. Não há demérito nisso, caso o correto tenha sido feito. Apenas não é totalmente verdade que Carimbão sempre esteve enfrentando poderosos, pois sempre soube articular para transitar no poder. Claro que em alguns momentos da História - como ele mesmo diz em nota - Carimbão foi opositor. É verdade, reitero.
Ele foi oposição, por exemplo, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O outro ponto são os motivos para rejeitar Manuela D´Ávila. Se a vice do PCdoB não representa Carimbão por conta de pautas como o aborto, por qual razão o PT o representa? Se Carimbão entrar no site do Partido dos Trabalhadores encontrará vários textos já deste ano em que a política pró-aborto é defendida.
Um deles tem o título: "Aumento da bancada conservadora ameaça debate sobre o aborto". Em outro, a questão da PEC 181, em que a senadora Gleise Hoffman (PT) diz que é "leviana" a proposta que considera ser vida o feto desde sua concepção.
Em fevereiro de 2017, essa foi a declaração de Lula sobre o aborto, conforme a Folha de São Paulo: “Não se trata de ser contra ou a favor [ao aborto]. Mas de se discutir com muita franqueza porque é uma questão de saúde pública. Se perguntarem quantas madames vão fazer aborto até em outro país? E as pobres que morrem na periferia? Não se trata de ser contra ou não. É preciso que se faça o debate”.
Se tais valores são para Carimbão "inegociáveis" (palavras dele em sua nota), seria interessante o parlamentar entender que eles se fazem presentes em agendas do PT, do PSOL, do PCdoB e de outros partidos que formaram a base que Carimbão compôs.
Claro, não nego alguns acertos do governo Lula e até já elogiei - e continuarei elogiando - o Bolsa Família. Mas é Carimbão quem coloca os valores inegociáveis como critério de decisão de voto e apoio. Também tenho tais valores como inegociáveis e o leitor que me acompanha aqui sabe disso.
Carimbão votou, no primeiro turno, na democrática Marina Silva, que queria resolver tudo por plebiscito, inclusive a questão do aborto.
Entendo que Carimbão tenha rejeição a pontos das ideias de Bolsonaro. É da democracia. Não critico isso, mas apenas chamo atenção para o fato de que Manuela D´Ávila não é uma "estranha no ninho" que destoa dos valores do PT. Ao contrário, são muitas as semelhanças, sobretudo nas pautas que o deputado federal cita.
Não deveria, portanto, ser ela o fiel da balança, mas o conjunto de pautas ditas "progressistas" em si. Carimbão ainda não entendeu isso? No mais, que bom que Carimbão respeita quem pensa diferente. Meu respeito por ele também é grande, ao ponto de - sem atacá-lo pessoalmente (o que jamais farei!) - chamar atenção para o óbvio: aquilo que Carimbão coloca como inegociável, o PT que ele defendeu sempre negociou.
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