O smartphone deixa nosso cérebro mais desatento e preguiçoso, veja como isso acontece

25/09/2018 12:25 - Minuto Tecnologia
Por Emanuella Lima*
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As notificações que chegam aos smartphones ajudam a desprender nossa atenção. Assim que o cérebro humano recebe esse estimulo, ele automaticamente se desvincula de outras ações que estavam sendo executadas e passam a se concentrar em um determinado assunto.

Isso significa que o smartphone não é capaz de ampliar nossas faculdades mentais tão pouco deixar nosso raciocínio mais afiado e nossa memória mais potente ou nos manter mais concentrados. Alguns psicólogos e neurocientistas que estudam o assunto não acharam uma resposta definitiva sobre os efeitos que o celular e outros dispositivos tecnológicos podem ter sobre o cérebro humano, mas eles conseguiram coletar dados que chamam bastante atenção.

De acordo com eles o cérebro recebe um volume gigantesco de estímulos por gadgets que estão relacionados com a deterioração da memória e dificultam a peneira de informações inúteis fazendo com que as taxas de ansiedade e de estresse aumentem o que gera um desperdício da capacidade cerebral.

Para te ajudar a perceber tal desperdício, é muito comum que enquanto estamos assistindo um vídeo no Youtube ou vendo um filme na Netflix que façamos uma pausa assim que chega uma notificação do Whatsapp e ai você se esquece de voltar ao vídeo ou ao filme e abre o Instagram para ver os comentários em alguma foto e antes de terminar de ler já está cansado o suficiente para retornar ao que estava fazendo a princípio.

O gatilho neurológico

Os smartphones, computadores e aplicativos são craques em sequestrar a atenção, eles vivem maximizando seus truques para não conseguirmos deixa-los. Nosso cérebro cai facilmente em todas as armadilhas. O ciclo vicioso do prazer condiciona nosso cérebro a se manter conectado, pois os estímulos criam uma espécie de gatilho neurológico.

O condicionamento cerebral pode ser feito com qualquer coisa, como por exemplo: acordar todos os dias no mesmo horário, passear com o cachorro todo dia de manhã após tomar café ou lavar a louça sempre após o almoço. No entanto, a onipresença dos dispositivos eletrônicos e a imprevisibilidade dos alertas faz com que esse gatilho neurológico não tenha hora nem lugar para disparar.

A diretora do laboratório de neurociência da Nielsen, Janaína Brizante explica que os smartphones nos deixam conectados 24h por dia e cada vez que apertamos a bolinha do celular recebemos uma injeção de neurotransmissores que dão uma sensação de bem-estar, entre eles encontramos a dopamina.

A dopamina

A dopamina é um composto químico derivado do aminoácido tirosina e precursora natural dos neurotransmissores adrenalina e noradrenalina, responsável pelo controle do movimento, memória e sensação de prazer. 

Esse neurotransmissor age em áreas diferentes do cérebro e atinge regiões como o humor, pensamento, atenção e motivação. A sensação de prazer é uma das principais responsáveis pelo condicionamento cerebral. Todas as vezes que recebemos curtidas e comentários positivos no Instagram, por exemplo, sentimos necessidade de postar sempre só para que a dopamina estabeleça novamente em nosso cérebro a sensação de prazer e bem-estar.

Estresse e ansiedade

Devido a esse ciclo vicioso, nosso cérebro nota uma inundação de dopamina e cria uma trava para impedir que meia dúzia de curtidas levem ao êxtase. Digamos que ele cria uma espécie de tolerância para liberar a dopamina, o que antes ocorria em 8 minutos, passa a acontecer em 15 minutos e esse processo vai ficando cada vez mais tardio, levando o usuário ao estresse.

O sistema que libera o neurotransmissor é sensível a pistas de que algo agradável está para acontecer. Nesse momento basta apenas uma notificação para que ele fique em estado de alerta. Esse recurso vai treinando nosso cérebro a uma boa dose diária de estresse para esperar por notificações. O que acaba gerando muita ansiedade, fazendo com que algumas pessoas fiquem todo tempo checando se há novidades no celular.

Além de contar com uma série de gatilhos que abduzem nossa atenção, os smartphones executam inúmeras funções ao mesmo tempo, como tocar música e enviar mensagens. De acordo com os pesquisadores, todas as vezes que pulamos de aplicativo para outro, nosso cérebro paga um pedágio em capacidade de processamento. O que pode comprometer até 40% do tempo produtivo do cérebro como acentua o psicólogo David Meyer.

A constante interrupção nomeada como “loop da dopamina” tem efeitos negativos sobre o desempenho cerebral, já que o efeito libera injeções de cortisol (hormônio do estresse) quando uma atividade é interrompida e de dopamina quando outra se inicia.

Maturação cerebral x Tecnologia

As características multifacetadas dos aparelhos continuam atrapalhando mesmo quando o dispositivo esta desligado, principalmente quando é exigida concentração em uma só atividade.

Os pesquisadores da Universidade de Stanford demostraram que os jovens que estão acostumados com essa enxurrada de estímulos têm cérebros mais preguiçosos e possuem menor capacidade de ignorar informações irrelevantes.

Esses atributos chegam a ser piores em crianças e adolescente que estão em fase de desenvolvimento cerebral. As crianças, principalmente precisam receber estímulos do meio ambiente, mas ao interagir constantemente com os aparelhos eletrônicos isso não acontece e por isso podem sofrer com a linguagem ou com a forma de lidar com o outro, sendo assim não desenvolvem inteligência emocional.

O fato que preocupa ainda mais é quando não conseguimos desvincular a realidade do que é virtual, esperando receber respostas estímulos a nossa volta da mesma forma que recebemos no mundo digital. Para entender melhor, nosso cérebro se desenvolveu e evoluiu para estabelecer interações físicas, vindas da natureza ou da relação direta com outros seres humanos.

Apesar da capacidade de se adaptar, algo chamado de “plasticidade cerebral” ainda não se acostumou com as particularidades do mundo virtual. Por isso muitas vezes o cérebro humano não consegue fazer distinção entre o que é real e o que é virtual. Você já parou para pensar por que os vácuos nas redes sociais te incomodam tanto? A resposta é simples, nosso cérebro entende que a pessoa esta na nossa frente e não nos responde porque prefere nos ignorar, mas nós sabemos que isso não é de fato real.

O problema não é o que a gente sabe, mas a curva que o nosso cérebro ainda não conseguiu fazer que é aquela que separa o virtual do real e por isso lidamos com os dois do mesmo jeito. Situações como essa disparam a ansiedade e o estresse. As redes neurais que processam a dor física é a mesma que analisa a dor social e por isso os términos dos namoros nas redes sociais costumam causar muito sofrimento.

Controle

Para se manter distante dessas interferências cerebrais é preciso adotar uma dieta equilibrada com a tecnologia. Isso não quer dizer que precisamos proibir tudo. O caminho mais fácil para conseguir esse equilíbrio é restringir o uso do smartphone em momentos em que a atenção é crucial.

As atualizações em algumas redes sociais possuem ferramentas que ajudam a controlar o tempo de uso nos aplicativos. A grande polemica que gira em torno do assunto é se eles estão realmente preocupados com o tempo gasto nos smartphones ou em receber processos de saúde como os que existem na indústria do cigarro.

É claro que a responsabilidade do consumo diário do smartphone é realmente dos usuários, mas ficar atento aos riscos que uso do aparelho pode causar é crucial para manter as relações sociais e o cérebro sempre saudáveis.

 
*Estagiária sob supervisão da editoria

 

 

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