Se há algo nesse processo eleitoral que precisa ser esclarecido com base em todos os fatos e sem deixar dúvidas é o atentado contra o presidenciável Jair Messias Bolsonaro. Pouco importa aqui o que se pensa dele, mas trata-se de tirar qualquer dúvida existente sobre o ocorrido, afinal é um fato grave para um país que se pretende uma democracia.

As narrativas que vão se associando ao caso são estarrecedoras, desde colocar a culpa na vítima até a pressa em esquecer detalhes dos fatos, como tomar Adélio Bispo por um mero louco ou até mesmo – como chegou a fazer um veículo nacional – classificá-lo como um conservador religioso, que soa por si só absurdo.

Se há ou não mandante é algo que a polícia tem que esclarecer. Portanto, acerta a Polícia Federal, quando abre mais um inquérito no dia de hoje, 25. É preciso total isenção nesta apuração. Os elementos apontam para um ato que não foi isolado: um desempregado, com vários celulares, computador, hospedagem paga e auxílio imediato de advogados que não custam barato. Estes não são os únicos elementos a serem destacados.

A pressa que uma parcela da mídia teve ao associar Bispo a um ato isolado não seria vista, por exemplo, se fosse um eleitor de Bolsonaro a agredir um candidato de esquerda. Tenham certeza disso. Qualquer ato de violência seja contra quem for é repudiável. Não é assim que se combate ideias das quais discordamos.  

Acerta o delegado regional de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais, Rodrigo Morais, ao não descartar a conexão com algum grupo. Eis sua fala: “Elementos importantes foram encontrados no material apreendido, como agenda de contatos, troca de telefonemas e mensagens via aplicativos nos dias que antecederam o atentado, o que motiva a investigação de novos suspeitos. Em um dos celulares que Adélio Bispo utilizava para navegar na internet detectamos que ele buscava na mídia informações relacionadas ao presidenciável Jair Bolsonaro”.

Portanto, a polícia ainda investiga a possibilidade real de um mandante. Adélio já foi indiciado por atentado pessoal por inconformismo político, com base na Lei de Segurança Nacional.

Outro fato é: a entrevista que Adélio dará à imprensa. Ela pode ser mais um mecanismo de narrativa para relativizar o crime e seu contexto, reforçar a visão de um louco agindo solitariamente etc. O que Adélio tem a dizer e como isso será explorado é algo para se estar atento, afinal, o jogo político é bruto e há tempos, muitas das campanhas, não sabem como agir diante das intenções de votos e das inegáveis ações que surgem pelo país em prol de Bolsonaro ou contra ele.

O ambiente é polarizado e tudo virou arma de campanha. Quanto mais cedo o caso for esclarecido, menos danos à democracia.