O filósofo e economista americano John Kenneth Galbraith cravou certa vez que “nada é tão admirável em política quanto uma memória curta”. A ironia de Galbraith não poderia estar mais correta, pois define bem o que vemos na prática, quando alianças – ao sabor das circunstâncias eleitorais – começam a ser travadas pouco importando as contradições ali presentes.
Para desprezar tais contradições, só mesmo a memória mais curta o possível...
Não por acaso, o alemão e também filósofo Nietzsche dizia que, na disputa política, o que não é inimigo pode ser instrumento e isto varia conforme o cenário. Ao lembrar dessas duas sentenças desses pensadores, encaro a caminhada do ex-ministro do governo do presidente Michel Temer (MDB), Maurício Quintella Lessa (PR), na disputa pelo Senado Federal, como no mínimo curiosa.
Já destaquei aqui, em outros textos, que concordo com muitas das pautas que Quintella levanta publicamente, como a revogação do Estatuto do Desarmamento, ser contra o aborto, ter uma visão sóbria em relação à temática das privatizações, dentre outras. Não escondo isso. Porém, a matemática eleitoral empurrou Quintella (e ele se deixou ser empurrado com toda vontade do mundo!) para um poço de contradições.
Antes, no grupo da oposição liderada pelo prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), Quintella estava crente de que o chefe do Executivo municipal seria candidato. Não foi. Desarticulou a oposição naquele momento e Quintella saiu da oposição para a situação, fechando aliança com Renan Calheiros (MDB), que também disputa o Senado Federal, e com o governador Renan Filho (MDB), que tenta a reeleição.
As bandeiras defendidas publicamente por Calheiros e Quintella são antagônicas. Mas lá estão os dois estampando o mesmo adesivo. Já até falei disso aqui. O ex-ministro de Temer também optou por apoiar a candidatura do presidenciável de Geraldo Alckmin (PSDB), mas tem o apoio do PT local. Como entender essa salada?
Não é apenas por votar em Alckmin. É que Quintella votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Foi chamado de golpista, fascista e todos os demais adjetivos da arrogante cartilha petista que não pode se deparar com uma divergência. Quintella soube do peso do que é se posicionar contra o PT.
Mas, Quintella foi absolvido pelos caciques do PT de Alagoas. Afinal, recentemente – em uma atividade de campanha – lá estava o ex-ministro fazendo o “L” com uma das mãos. A expressão de apoio ao “Lula Livre”. Ao seu lado, o deputado federal Paulão e o presidente do PT em Alagoas, Ricardo Barbosa. A benção vermelha foi estendida sobre Quintella. Essa coisa de golpista fica então no passado...
O detalhe é que as convicções que Quintella demonstra seriam contrapostas, no campo das ideias, por Paulão e vice-versa. Mas o que são ideias, o que são convicções, se o assunto, meu caro eleitor, é voto!
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