Do real para o virtual: quando a amizade ultrapassa os limites do 3G

02/07/2018 06:24 - Internet
Por Maria Maia* e Polyana Lima*
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Qual é a primeira coisa que você faz quando pega o celular e ativa a internet? Checa seu o WhatsApp, abre o e-mail, dá uma olhadinha no Twitter, confere as atualizações dos seus contatos no Facebook ou vai stalkear os stories de algum amigo no Instagram? Ou até mesmo uma checada no Tinder pra ver quem deu match?

Atualmente, existem vários estudos que comprovam que estamos o tempo inteiro interagindo com outras pessoas por meio das redes sociais, principalmente, com amigos. Que a internet facilita a vida das pessoas, isso não é mais novidade. Até porque com ela se tornou muito mais fácil manter contato com os amigos e conhecer gente nova. Seja no âmbito familiar, empregatício, amoroso ou de amizade; as relações on-line vem se estreitando cada vez mais. Diferentes e curiosas são as histórias de pessoas que se conheceram via internet e conseguiram manter o contato mesmo com as limitações causadas pela distância.

Pensando nisso, a reportagem do Cada Minuto resolveu fazer uma matéria especial relatando casos de pessoas que formaram grandes ciclos de amizade mesmo estando a quilômetros de distância.

Bonde das Açucaradas

Com um título um tanto curioso, o subgrupo Bonde das Açucaradas, que continha milhares de mulheres, teve origem no Facebook através do grupo - em homenagem ao cantor Chico Buarque - Com Açúcar, Com Afeto, da mesma rede social. Parte do Bonde, formado exclusivamente pelo público feminino, migrou para outra rede social: o WhatsApp.

Hoje, o grupo no WhatsApp não passa de dez mulheres que, desde 2013, mantêm contato diariamente através da rede social e, parte dele, já chegou a se conhecer pessoalmente.

Eliara Ramos, de 22 anos, participante do Bonde, relata que o administrador do grupo original proibia a criação de subgrupos, mas, indo contra essa ideologia, as meninas decidiram arriscar nessa improvável amizade que já dura cinco anos. “Compartilhamos tudo sobre nossas vidas. Ajudamos umas as outras nas tomadas de decisões, nos confortamos quando passamos por momentos ruins e estamos aqui uma pela outra sempre! Tanto é que sinto como se vivêssemos pertinho e nos víssemos todos os dias”, informa a goiana.

Ainda de acordo com Eliara, o momento mais importante do grupo foi quando Thaís Pereira, uma das participantes, deu a luz ao bebê Theo. “Ele é a criança mais linda e amada do mundo!”, completa.

“Ele é a criança mais linda e amada do mundo!”

“Distância é apenas um detalhe quando você constrói algo tão bonito e firme como a nossa amizade”, finaliza Eliara.

Ruane Araújo, de 20 anos, também participante do Bonde, conta que um dos momentos mais especiais do grupo foi o casamento da amiga Raylane Cambuí, no início de junho, na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso.

A cerimônia fez com que Luara Alves e Anna Fernanda, integrantes do grupo, saíssem  de seus respectivos estados para prestigiar esse momento tão importante na vida da amiga.

A jovem cearense também diz não acreditar que a distância seja um problema. “Acredito que a distância seja só um detalhe, talvez um grande detalhe, mas o fato de não termos a presença física não afeta na confiança e amor que criamos entre nós”, desabafa.

Jogos Virtuais

Jogo Ragnarok

Quem costuma se divertir nos jogos on-line também tem a possibilidade de fazer amizades virtuais. Foi o caso do Gestor Financeiro, Estevão Victor, de 23 anos. Ele conta que fez muitos amigos através do jogo Ragnarok, algumas amizades com oito a nove anos de duração.

“A vantagem é que não existe preconceito. Você não liga se a pessoa é negra, branca, alta, baixa, feia ou bonita. O que importa é que o outro está disposto a ‘perder tempo’ com você fazendo algo que os dois se divirtam”, explica Estevão.

Sobre o quesito confiança, o rapaz diz que já chegou a compartilhar senhas das contas do jogo – que são avaliadas em até R$2 mil - com os amigos.

Distância x Tempo

Vitor relata ainda que, em meados de 2012, quando ainda cursava o ensino médio, ele participou de um grupo formado por um de seus amigos no MSN no qual ele não conhecia uma das meninas que foi adicionada ao grupo, mas que logo foi apresentada virtualmente. Contudo, somente após seis anos, ele conheceu a amiga virtual. Segundo ele, a amizade é real mesmo sendo virtual.

“Quando entrei no ensino médio, encontrei alguns moleques meio loucos e engraçados e fiz logo amizade que perdura até hoje. Assim como foi com o Filipe, conhecido por nós como “Hellboy”. Nós brincávamos muito com as outras pessoas e riamos de tudo. Certo dia, numa brincadeira dessas, ele me adicionou em um grupo do MSN e me apresentou a “Jô”, que era uma menina que ele falava muito com ela, também pela rede social. Na hora, lembro que uma das minhas primeiras perguntas foi ‘mas e aí, ela é gata?’ [risos]”, explicou.

Ele relata ainda que, a partir do grupo formado, ele passava horas conversando com os amigos sobre tudo. Mas com o passar do tempo ele acabou perdendo o contato com a amiga.

“Nós ficávamos horas conversando sobre tudo. Eu não me importava se não conhecia bem as pessoas e já brincava como se tivesse intimidade. Em algumas dessas brincadeiras, a Jô que era nosso maior alvo, por muitas vezes ficava com muita raiva, tanto que me bloqueou por diversas vezes [risos]. Com o tempo fui me ocupando. A moda do MSN foi caindo também e acabamos meio que perdendo o contato. Seis anos depois disso tudo, voltamos a nos ver, dessa vez pessoalmente (finalmente). Foi engraçado porque ela jogou na minha cara que não conhecia, depois lembrou (diz ela). Em pouquíssimo tempo, voltamos a nos falar e formar uma amizade que eu valorizo muito.”, comentou.

“Foi incrível! Como alguém que eu conheci lá atrás me fez tão bem quando eu reencontrei tanto tempo depois e de verdade? Eu acredito que uma amizade não pode ser tachada de virtual ou real. Uma amizade mesmo que à distância é uma amizade. Quando você passa muito tempo compartilhando o seu tempo com aquela pessoa, você constrói uma amizade, independente se à distância ou com um vizinho. Uma amizade virtual também é uma amizade real!”, finalizou.

Amizade x tempo x confiança

“São 4 anos de amizade agora"

O estudante de Jornalismo, Victor Lima, de 22 anos, conta que era muito fechado e que tinha dificuldade para conhecer novas pessoas e resolveu baixar um aplicativo chamado MeetMe para criar novas amizades, mais ou menos em junho de 2014. “São 4 anos de amizade agora e, assim, em relação a confiança, por exemplo, não foi nada muito difícil. A gente sempre se deu bem. Desde o começo vimos que tínhamos muita coisa em comum, nos demos muito bem. Logo começamos a conversar por chamada de voz e de vídeo, então a confiança foi sendo estabelecida.”

“A desvantagem numa amizade virtual não é por causa da amizade em si, e sim por causa da circunstância (duas ou mais pessoas que são amigas, mas que moram mais distante do que o comum). Às vezes, você gostaria muito de ter aquele amigo por perto, porque o contato físico é realmente diferente, mas quando a amizade de verdade, não há perca por isso. E sobre vantagens, a primeira, no meu caso, foi em relação a confiança também. Eu sempre tive dificuldade pra confiar nas pessoas inicialmente, mas quando você conhece uma pessoa com a qual tem muita afinidade, trocam uma energia muito boa e ambas estão dispostas a serem amigas, você cria confiança com mais facilidade, uma vez que aquela pessoa não está vinculada/não conhece ninguém que desperta desconfiança em você, entende? Claro que tem o outro lado da confiança, mas eu sempre tive um lado sensitivo muito aflorado, então pelas conversas de voz e de vídeo eu conseguia perceber se era uma pessoa confiável ou não. Até porque se não fosse, provavelmente a pessoa nem toparia conversar por esses métodos ou algo do tipo. Através dessas chamadas e de um contato inicialmente diário, a gente foi encurtando a distância também”, explicou o estudante.

Victor disse ainda que muita coisa marcou a amizade dos dois, “mas eu acho que a parceria e a confiança que a gente conquistou um no outro sempre foram fatores de destaque porque com a gente aconteceu aquela coisa de ‘reconhecimento de amizade’ mesmo. A gente sabia que poderia contar um com outro, que qualquer coisa era só ligar e isso sempre fez uma grande diferença”.

“Além de toda a proximidade e apoio que a gente sempre deu um ao outro, a gente já se encontrou duas vezes também durante esses 4 anos e estamos planejando a próxima visita pra mês que vem. A gente só conseguiu se ver pela primeira vez em dezembro passado (a visita física ainda não tinha acontecido por questões financeiras mesmo), mas já no final de janeiro nos encontramos novamente. Em dezembro eu fui, em janeiro ele veio (risos). E é isso, sabe? É uma amizade, mesmo com uma distância física maior do que as outras e é a amizade, o vínculo construído, que realmente importa. Não há demérito nisso”, concluiu.

Laninha Ferreira, de 24 anos, conta que quando ainda tinha 13 anos de idade conheceu um amigo por meio do Orkut e logo se adicionaram no MSN. Ela relata que,

apesar de na época não ter computador em casa, ia todos os dias para uma Lan House para conversar com o amigo virtual. “Foi tudo muito rápido, coisa que geralmente não acontece comigo. No segundo mês já abrimos segredos, sonhos e desabafos”.

“As desvantagens com toda a certeza é a distância. Porém, quanto as vantagens, eu não sei se por ter a segurança de que estando atrás de uma tela de computador, mas a gente acaba que se expondo mais; acabou que eu consegui me abrir mais rápido do que em um relacionamento presencial”, disse.

Laninha disse ainda que, somente após um ano de conversa, eles conseguiram se encontrar pessoalmente. No entanto, atualmente eles moram na mesma cidade e conseguem se encontrar com facilidade. “Encontramos-nos no baile da marinha onde, em uma tentativa inusitada, ele pediu a minha mãe para que eu pudesse acompanhar ele e ela deixou (não sei como até hoje)”.

 

“Acho que o maior marco da nossa amizade, realmente foi no dia que nos conhecemos. Vê-lo descendo do carro vestido com o uniforme da gala da marinha, todos os vizinhos olhando - eu morta de vergonha e ele pedindo a autorização a minha mãe. Logicamente o baile foi incrível, conversamos a noite Inteira, não nos faltava assunto, parecia que a gente já tinha se visto várias vezes, apesar de nunca termos nos visto antes, tínhamos uma afinidade fora do comum, que foi construída ao longo dos meses”, explicou.

“Acredito que as coisas acontecem quando têm que acontecer. Acredito que amizade não tem nada a ver com tempo ou distância. Acredito que amizade é encontro de almas. Tem gente que a gente conhece hoje, mas a energia bate tanto que parece amigo de infância. Já tem gente que está há tanto tempo nas nossas vidas e nunca deixou de ser um ‘colega’”, finalizou.

Do real para o virtual

A Gestora Ambiental, Karol Araújo, de 24 anos, conta que sempre gostou de acampar e em um desses acampamentos, no ano de 2009, em Pernambuco, ela conheceu e se tornou amiga do Astrogildo.

“Ele participava da organização e me recebeu assim que cheguei, nos tornamos próximos a partir de então. O evento durou 3 dias e depois disso nunca mais nos vimos pessoalmente. Desde então, mantemos uma amizade 'virtual', já que só temos contatos via redes sociais e raros telefonemas.”, explicou a gestora.

“Apesar da forte ligação que mantemos todos esses anos, não estar perto fisicamente é por vezes triste. Essa é a desvantagem, mas apesar da distância o sentimento não muda. Quando um procura o outro pra dividir alegrias ou algum problema, a distância não é sentida”, finalizou.

Emprego e amizade virtual

Para Vanessa Sampaio, a história foi um pouco diferente, ela conta que a amizade surgiu por uma necessidade do trabalho em conversar com a pessoa quase que diariamente, durante dois anos, e a amizade hoje já dura cerca de cinco anos. E um dos fatos que mais a marcou foi quando emprestou-se um dinheiro para salvar a pele do outro. Além disso, ela relata que, quando o trabalho não os unem, eles acabam inventando saídas em confraternizações, aniversários ou eventos.

“As vantagens em ter um amigo distante estão em ser muito prático e não acontecerem tantos desentendimentos. A principal desvantagem é não ter a presença física desta amizade em muitos momentos!”, explicou.

“No caso da minha amizade não é possível estar sempre perto. Então, de forma virtual, sempre estamos em contato e sabendo como o outro está, sempre conseguimos manter a conversa em dia e inclusive é por onde combinamos nossos encontros”, concluiu.

 

*Estagiárias

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