A Copa do Mundo 2018 começou há quatro dias e neste domingo, dia 17, às 15 horas, o Brasil estreia. Mas, apesar de a competição ser esperada há quatro anos por adeptos do esporte e por aqueles que torcem apenas pela seleção canarinho, no “país do futebol” este ano a empolgação está em falta nas prateleiras.
Nas ruas, o verde e amarelo quase não se vê e nas lojas a procura por roupas ou adereços ainda não emplacou. Para tentar entender a apatia que tomou conta de grande parte dos brasileiros, o CadaMinuto ouviu as histórias e opiniões de alguns torcedores fanáticos e também de um representante do setor de turismo.
Torcedor assíduo de muitas copas, o administrador de empresas Ranúzio Carlos disse à reportagem que, diferente de muitos anos, quando fazia questão de comprar enfeites e produzir uma vestimenta voltada para a competição, este ano nem sequer pensou nisso. “Ainda não entrei no clima de festa, vou ver as partidas, mas sem nenhuma empolgação extra, como foi nas copas anteriores”, comentou.

O administrador disse ainda que, apesar de agora o Brasil contar com uma seleção boa, que apresenta um conjunto harmonioso, diferente até de outros anos, “a Copa da Rússia ainda não provocou nenhuma comoção, quem sabe depois de domingo, com uma vitória, a animação possa aumentar”, afirmou, lembrando que nas edições anteriores, com bastante antecedência, familiares e amigos já definiam os locais onde os jogos seriam assistidos, quantos aparelhos de TV´s seriam disponibilizados além, é claro, do cardápio de tira-gostos e bebidas.
“A pisa abala”
O representante comercial Pablo Rodrigo Lopes Lins, conhecido como “Binho”, também é daqueles torcedores apaixonados que todas as pessoas lembram quando o assunto é futebol. Natural de Recife e alagoano de coração, ele conta que já foi mais fanático e até brigou com amigos por causa do esporte, mas mudou depois das denúncias envolvendo favorecimento de clubes.

Apesar de perceber o arrefecimento da torcida brasileira este ano, Binho afirma que sua animação continua firme: “Estou esperançoso, como sempre, mas noto que, em geral, a empolgação está baixa, não sei se por conta da crise, do 7 a 1, de ambos... Mas, o brasileiro é assim... Tem que começar para ver. A pisa dentro de casa abala, mas estou animado com o time do Tite”.
Relembrando 2014, o representante comercial conta que a expectativa com o mundial no Brasil era enorme, inclusive pelo desejo de espantar o fantasma de 1950, quando a seleção canarinho perdeu o título para o Uruguai, em pleno Maracanã, no Rio de Janeiro.
“Em 2014, quando os jogadores choraram, antes do jogo contra o Chile, já deu para perceber que o time estava com o psicológico abalado, mas vinha jogando bem e aí veio o 7 a 1...”, relembra, acrescentando que só não conseguiu assistir ao vivo a alguma das partidas por conta de compromissos de trabalho.
Na época, ele ganhou uma blusa oficial da Seleção no dia dos namorados e adquiriu alguns apetrechos nas cores verde e amarelo para acompanhar as partidas nas casas de amigos. Este ano, comprou apenas um kit, com camisa e calção, para o filho, de dois anos. “Já tenho três camisas oficiais e, para economizar, vou aproveitá-las”.
Sem camisa
Quatro anos e dois filhos depois, o servidor público João Carlos de Albuquerque, que chegou a sonhar em ser jogador de futebol profissional, está vivendo este ano uma Copa bem diferente da de 2014. É a primeira vez em 20 anos, desde 1998, que ele ainda não comprou a camisa oficial da seleção, por exemplo.

“No mundial passado, além de a situação financeira do país estar melhor, eu ainda não tinha filhos e a Copa foi aqui, pude comprar ingressos para assistir aos jogos da Seleção em São Paulo, no Ceará e em Minas Gerais... Também comprei duas camisas oficiais, uma azul e amarela, porque tenho todas desde 1998, mas, agora vou aguardar para comprar durante o mundial ou depois, só para manter a coleção”, contou.
Ele acrescentou que, para não dizer que não gastou nada com a Copa, até agora adquiriu duas camisas polos, nas cores verde e amarelo, uma para cada filho.
“Aquele 7 a 1 ficou muito marcado, abalou a confiança de todo mundo e muita gente não quer nem saber da Seleção... Não é o meu caso. Eu ainda acompanho e, se tivesse condições, iria para Rússia. Não é aquela empolgação toda, apesar de que o Tite deu aquela levantada no time, que vem muito bem. Quem não acompanha, principalmente, ficou com o pé atrás, mas sei que o time tá chegando com chance”, finalizou.
Tá russo ir pra Rússia
O desânimo provocado pela instabilidade econômica e a alta do dólar certamente também devem ter contribuído para que os torcedores contem os gastos que estão inseridos em cada grito de gol. Esse reflexo foi sentido diretamente no mercado do turismo.
Proprietário de uma agência de viagens de Maceió com mais de 40 anos no mercado, Cláudio Perrelli revelou que este ano não vendeu nenhum pacote para a Copa. “A apatia do brasileiro que eu sinto vem de uma crise violenta que nós ainda estamos passando e isso faz retrair o mercado, além da subida do dólar e do euro repentinamente um mês antes da competição, que também criou um problema no sentido do movimento internacional”, comentou o empresário.

Perrelli estima que houve uma queda de cerca de 60% na venda de pacotes internacionais. “Tínhamos vários orçamentos em discussão e a maioria dos clientes desistiu para ver se o câmbio voltava a um patamar mais justo ou mais ‘usável’”.
Ele analisa ainda que a apatia é motivada também de todos os problemas que o brasileiro está passando: “De certa forma a operação Lava Jato, os inúmeros políticos envolvidos em corrupção, as inúmeras pessoas que muitos idolatravam como honestas e todo esse montante de condições aliado à crise e ao alto índice de desemprego faz com que os brasileiros estejam um pouco infelizes, sem contar o receio da última copa depois da partida em que perdemos de 7 a 1 para a Alemanha e isso criou uma tristeza coletiva”.
Claro que o fato de a última Copa ter sido no Brasil barateou os pacotes, e segundo Cláudio, pela proximidade de locais de jogos, como Recife, Salvador e Fortaleza, muitos alagoanos optaram também por ir de carro. Mas, “apesar da Copa ter sido em nosso país as vendas foram boas, e não maravilhosas, como se esperava que fossem, por conta dos jogos regionais onde os torcedores foram de transporte privado, o que gerou decepção de muitas companhias aéreas e de hotelaria”, afirmou Perrelli.
O pacote para a primeira fase, que são três jogos, incluindo passagem aérea, hotel 4 estrelas, traslados e ingressos para os jogos está em média entre R$ 25 a R$ 30 mil, a depender da operadora. Já se o torcedor quiser estar em todas as fases o valor fica em torno de R$ 44 mil.















