Distante da era onde foi “glamourizado” por estrelas do cinema, o ato de fumar está cada dia mais associado a doenças, prejuízos econômicos, emocionais e ambientais e uma série de incômodo àqueles que são obrigados a conviver com fumantes. Este ano, o Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio) foi celebrado com o tema, escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), “Tabaco e doença cardíaca”.

Conforme o órgão internacional, sete milhões de pessoas morrem todos os anos em decorrência do tabagismo, sendo em torno de 900 mil vítimas de fumo passivo. O uso do cigarro é uma das causas principais de doenças cardíacas, como infarto, angina e acidente vascular cerebral (AVC) e a principal causa de morte evitável.

De acordo com Vetrúcia Teixeira, coordenadora do Programa Estadual de Combate ao Tabagismo, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), o lado positivo deste quadro é que, no Brasil, a Política Nacional de Controle do Tabaco adotada tem surtido efeito, com a redução no número de fumantes. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) apontou que, entre 2006 a 2016, a prevalência de fumantes caiu de 15,7% para 10,2%.

Alagoas, por exemplo, está entre os dez estados com menor número de fumantes entre pessoas acima de 18 anos: 7%, segundo dados do Ministério da Saúde.

“Mesmo assim, somente em 2017 foram gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Estado, R$ 39 milhões por conta de internações relacionadas ao tabagismo. Já o custo das internações motivadas por doenças cardíacas foi de R$ 25 milhões”, destacou a coordenadora, acrescentado que, em Alagoas, a Sesau ampliou o número de municípios com atendimento a fumantes de três, em 2016, para 20 este ano.

Cigarro e coração

Em entrevista ao CadaMinuto sobre o tema do Dia Mundial Sem Tabaco, a cardiologista Flávia Lira reforçou que as relações entre as doenças cardiovasculares e o tabaco estão muito bem definidas e documentadas amplamente pela literatura científica.

“As 4700 substâncias tóxicas presentes no cigarro são responsáveis por 25% das mortes por doença coronariana, 85% de mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 30% de mortes por câncer das mais diversas áreas. O risco de infarto do miocárdio é 3,6 vezes maior nos fumantes quando comparado aos não fumantes, além da elevação em 10 vezes nos casos de morte súbita, quando comparado aos não fumantes”, explicou.

Para os interessados em largar o vício, a médica apresentou uma boa notícia e um incentivo a mais: parar de fumar apresenta resultados quase que imediatos e produz benefícios imensuráveis. “A cessação do tabagismo beneficia a saúde, prolonga a expectativa de vida em qualquer idade e ainda há um declínio relativamente imediato de cerca de 50% de risco de doenças cardiovasculares já no primeiro ano da suspensão do hábito de fumar”.

Ela acrescentou ainda que foi observado que após 72 horas sem fumar já há uma concentração de monóxido de carbono no sangue semelhante à dos não fumantes e após um ano o risco para doença cardiovascular diminui para a metade.

Ainda sobre a planta descoberta pelos colonizadores no século 16, utilizada pelos índios nas Américas, difundida de forma lenta pela Europa nos séculos seguintes e divulgada como modismo positivo, também no Brasil, Flávia lembrou que somente na década de 50 levantamentos epidemiológicos relacionaram o consumo habitual do tabaco a enfermidades crônicas graves e letais, com destaque para as doenças cardiovasculares.

Leveza

Em meio a um sorriso, a médica orientou que, além de evitar o cigarro ou parar de fumar, o cultivo de outros bons hábitos de vida confere vida longa ao coração que, não à toa, é o órgão do amor e do sentimento.

“Sem muito radicalismo e com mudanças simples é possível reverter os males do tabagismo. Para isso devemos ter algumas mudanças em nosso estilo de vida, com alimentação saudável, atividade física regular e continuada, combater o stress, embora saibamos que é difícil, mas hoje existem várias técnicas, como meditação, exposição ao sol e outras, além de evitar bebidas alcoólicas, parar com o tabagismo e principalmente acreditar em si mesmo, no outro e no mundo, com o cultivo de bons sentimentos. Precisamos ser leves nessa vida”, concluiu Flávia Lira.

No Brasil e no mundo

A OMS divulgou, no ano passado, um relatório destacando que o número de mortes provocadas pelo consumo de cigarro aumentou de 4 milhões, no início do século, para mais de 7 milhões. Metade das pessoas que consomem tabaco morre de doenças associadas ao fumo e o tabagismo custa aos governos e às famílias mais de US$ 1,4 trilhão em gastos com saúde e perda de produtividade.

Para a OMS, o tabaco poderia provocar no século 21 o total de um bilhão de mortes em todo o mundo e, para evitar a tragédia anunciada, a Organização defende medidas consideradas radicais por muitos, como a proibição da publicidade e da venda do tabalo em locais fechados, além do aumento dos impostos e dos preços do produto.

O estudo “Tabagismo no Brasil: Morte, Doença e Política de Preços e Esforços”, realizado com o apoio do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mostra que 428 pessoas morrem por dia por causa do tabagismo, o que representa 12,6% das mortes anuais no País, e cerca de R$ 57 bilhões são perdidos anualmente em função de despesas médicas e perda de produtividade.

Ainda conforme o estudo, a arrecadação de impostos com a venda de cigarros no Brasil é de R$ 12,9 bilhões, o que gera um “saldo negativo” de R$ 44 bilhões por ano.