A sensação possível – ao se ler as mais recentes palavras do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) – é e que “ninho tucano” observa outra realidade, em outro tempo, enquanto o bonde do Brasil, que se faz no aqui e a agora, passa.
De forma bucólica, no trem dos acontecimentos, a janela pela qual o PSDB observa é de que tudo será resolvido e os tucanos terão o destaque que já tiveram. Não é levado em conta que as decisões políticas recentes acabaram por enfraquecer a legenda no cenário local e nacional. Em Alagoas, isso tornou a oposição firmada ao seu redor em uma “mãe” para a situação comandada pelo governador Renan Filho (MDB).
No campo nacional, só um exemplo: um esqueleto chamado senador Aécio Neves é colocado dentro de um armário cujas portas estão arrombadas pela realidade.
Voltando a Alagoas, sem muitas alternativas, Vilela nega o óbvio: a existência de desentendimentos na oposição formada por Democratas, PROS, PP e o próprio PSDB. Esses desentendimentos existiram. Agora, que se aparam arestas em nome das sobrevivências.
Logo de cara, por exemplo, o PR do deputado federal Maurício Quintella Lessa saltou do barco e foi se abraçar com Renan Filho para não naufragar.
Se atualmente esses partidos se unem – como já confirmaram o deputado estadual Bruno Toledo (PROS) e o deputado federal Arthur Lira (PP) – é uma questão de sobrevivência que foca muito mais nas eleições proporcionais. As duas majoritárias, ao Senado Federal, já são candidaturas distintas com Rodrigo Cunha (PSDB) e Benedito de Lira (PP). Muito dificilmente terão sentimento de grupo.
O PSDB já vai à terceira alternativa para compor a cabeça do que sobrou do grupo: a candidatura do vereador Kelmann Vieira (PSDB) ao governo do Estado. Vale salientar: ainda não há resposta dada por Kelmann. Se disser sim, ele pode reunir os partidos, pois o interesse destes há, já que se forma uma frente para eleger estaduais e federais. Se disser não, qualquer candidato-tampão cumprirá essa função, como cumpriu o prefeito de Palmeira dos Índios, Júlio Cézar (PSB) – guardando as diferenças das situações – em 2014, quando disputou o Executivo pelo “ninho tucano”.
A prefeitura de Arapiraca - de Rogério Teólifo (PSDB) – que poderia ser uma referência passa por graves problemas na gestão. O prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), na presidência do partido, se mostrou inábil e não concretizou o plano esperado. Tudo isso são baques dentro do tucanato e não podem ser ignorados.
Achar que está tudo bem, tranquilo, e que o PSDB continua tendo protagonismo no processo é tapar o sol com a peneira. Vilela, que tem um temperamento que o aproxima de uma esfinge, demonstrando um silêncio profundo em todas as circunstâncias, sabe muito bem disso em seu íntimo. Fora do pleito, participa de forma indireta. É natural que busque vender a versão de que a construção de um palanque majoritário de oposição vai bem.
Mas, a cada novo passo do PSDB, as chances de êxito diminuem. O relógio se encontra contra os tucanos.
Se possuem um candidato ao Senado – que é o deputado estadual Rodrigo Cunha – com densidade eleitoral, não se deve ao PSDB, mas única e exclusivamente à biografia de Cunha, que será, naturalmente, uma opção oposta a todos aqueles que possuem processos e investigações nas costas, o que inclui não apenas o senador Renan Calheiros (MDB).
Rodrigo Cunha na majoritária, por vezes, lembra muito mais um “estranho no ninho” e merece – até aqui – os elogios feitos por Vilela. Estão corretos. Mesmo que se discorde de algumas pautas que Cunha apoiou o levanta, não se pode dizer absolutamente nada de ruim de sua vida pública.
Aliás, o próprio Vilela também merece elogios. Eu sempre disse que sua gestão no governo – com várias falhas – teve pontos positivos.
Vilela ainda fala da disputa presidencial enaltecendo o tucano e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Aquele que teve preguiça (ou por motivos outros) de fazer oposição real ao ex-presidente condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), quando este foi candidato à presidência da República.
Os debates presidenciais entre os dois foram pífios, demonstrando muito bem em que espectro político o PSDB sempre esteve: o da esquerda mais vegetariana, mas ainda assim à esquerda...
Alckmin é do PSDB que esconde o nefasto Foro de São Paulo, que se esquiva de pautas morais sérias ao país, que no cerne se aproxima daquilo que finge combater, sendo favorável à ideologia de gênero, ao desarmamento civil, ao agigantamento estatal e ao próprio estamento burocrático que toma conta do país.
Não por acaso se encontra onde se encontra nas recentes pesquisas eleitorais. Pode mudar? Claro! A pesquisa é um retrato de momento. Mas, acho muito difícil.
Não há nada de novo a oferecer em Geraldo Alckmin. Mais uma vez – no campo nacional – o PSDB se afasta dos problemas centrais do país. A briga do PSDB com o PT e demais esquerdas é uma luta de capoeira. Parecem golpes, mas é uma dança e ninguém se toca. Não por acaso ganhou o apelido de “estratégia das tesouras”. É que a tesoura tem duas lâminas, mas só corta em uma mesma direção.
Vilela diz: “Confio que o Brasil conhecerá Alckmin”. Eu afirmo: “Ex-governador, com todo respeito, eu aposto que o Brasil já conhece Alckmin”.
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