Leio no blog da jornalista Vanessa Alencar que o vereador Francisco Sales (PPL) criticou – e com razão! – o aumento de 100% do valor da passagem do VLT em Maceió. A tarifa sai de R$ 0,50 para R$ 1,00. O vereador está correto ao chamar a atenção para o assunto, pois tem um peso significativo para o trabalhador, que passará a gastar por mês o dobro do que gastaria antes.
Para quem já recebe tão pouco e é sufocado por impostos nesse país, eis um peso absurdo na renda familiar. Sales faz uso da tribuna para reclamar de algo de extrema relevância. Ele ainda classifica o presidente Michel Temer (MDB) como um “miserável”. Temer é parte desse estamento burocrático que tomou conta do país e merece a alcunha só por isso.
Lembrando que miserável aí não é aquele que possui poucos recursos financeiros. Entre malas e aposentadoria, Temer vai muito bem nesse quesito. O miserável aqui é uma referência ao espírito. É a miséria moral mesmo!
Mas, Sales poderia ir mais fundo na questão, ao invés de ficar na superfície. Da forma como coloca, parece que só há problema agora e que o custo final da passagem já não é subsidiado desde sempre. Porém, acontece que no desarranjo das contas públicas ainda nos governos petistas, muitos órgãos já vinham perdendo recursos e muitas estatais estavam sendo carcomidas pela corrupção, pelos desmandos e pela incompetência.
Há governos petistas miseráveis, não é Francisco Sales? O senhor lembrou deles?
O resultado disso? Quem mais sofre é convidado a pagar a conta com o tempo, pois todo populismo deixa marcas. Então, vereador Francisco Sales, não é culpa apenas do presidente Michel Temer, mas desse estamento burocrático medonho que tomou conta do país e vendia uma ilha da fantasia nos programas eleitorais ao mesmo tempo em que escondia o que andava quebrando.
E nem escondia tanto assim. Em outubro de 2015, quando Dilma Rousseff ainda era presidente (já que ela só foi afastada em 2016), Marco Fireman – na condição de presidente nacional da CBTU - esteve em Alagoas para visitar as obras de expansão do sistema ferroviário e declarou que o órgão não tinha mais como arcar o subsídio. Isto, conforme Fireman, iria provocar o aumento de 100% no valor da tarifa, incluindo aí os trens mais antigos ainda utilizados no transporte.
Lembra disso, Francisco Sales?
Eis o que Fireman colocava: “oferecemos um serviço de qualidade com o preço baixo e que não paga todos os nossos custos. Há projetos e discussões para aumentar a passagem”. Era ou não era já um governo – a levar em consideração o critério usado por Sales – “miserável”? Fireman só salientou que o custo não aumentaria naquele ano. Em outras palavras, já era um projeto desde o governo anterior.
Ele ainda frisou prejuízos.
Em alguns locais do país, a Prefeitura assumiu o subsídio. Ocorreu no Rio de Janeiro, por exemplo.
Segundo os dados de 2015, em Alagoas 95% da passagem era subsidiada pelo governo federal e os investimentos a serem feitos não estavam dentro desse subsídio.
Há uma sequência de fatos a ser explorada em relação a este assunto. Seria interessante que Francisco Sales – já que levou o fato à tribuna da Casa de Mário Guimarães – solicitasse as informações quanto ao subsídio em relação aos últimos anos, que convocasse a CBTU e a Prefeitura Municipal para discutir o assunto. Será que não há espaço para um subsídio municipal ou outras soluções?
Uma audiência pública é válida para saber a razão pela qual o reajuste chegou agora e se há alternativas.
Entender o processo é muito importante, pois nos detalhes pode estar a solução para que o trabalhador que precisa do transporte realmente não sofra. Afinal, desde antes essa bola era cantada, mas no Brasil tudo fica para quando a bomba estoura. E aí, o miserável da vez – não que deixe de ser miserável por conta disso – é quem acaba sendo a personificação do único culpado.
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