Desde que o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), resolveu não ser candidato usei de uma metáfora aqui: assumiu a presidência do partido para ser o coveiro do “ninho tucano”. É óbvio ululante – como diria Nelson Rodrigues – que é uma metáfora.
Não remeto ao funesto, mas sim ao fato de sepultar expectativas de aliados e ao mesmo tempo jogar uma bomba no colo dos tucanos em Alagoas que, em um primeiro momento, se viram sem alternativas.
Não digo com isso que Rui Palmeira deveria ser o candidato ou que só ele poderia assumir esta missão. Longe disso! Palmeira tem todo o direito de não disputar a governo estadual. Aliás, é até compreensível que opte por continuar sua administração para a qual foi eleito em 2016.
No entanto, ainda na campanha de 2016, seu nome já aparecia como um dos “players” de 2018. Desde então, dentro de uma reflexão legítima, Palmeira foi dúbio.
Criou-se, ao seu redor, um bloco oposicionista que esperava por sua posição. Era natural que o prefeito de Maceió tivesse um compromisso para com esse. Mas, ao desistir da candidatura fez esse gesto de forma estabanada, açodada – em que pese o tempo que passou pensando – sem preparar o próprio grupo que o seguia.
Perdeu, logo de cara, o aliado Maurício Quintella Lessa (PR), que era ministro dos Transportes e voltou ao cargo de deputado federal.
Na época de indecisão, já havia perdido o PDT.
Rui Palmeira se mostrou inábil politicamente.
Agora, ao fim do mandato, corre o risco de um ostracismo. Isto já foi dito até por um dirigente tucano: Claudionor Araújo. Comentei sobre isso no blog. Palmeira poderia ter preparado o terreno entre os aliados e assim, o grupo já poderia estar unido em torno de uma segunda opção, que poderia já ser – por exemplo – o deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB). Aposto que o nome de Cunha uniria o grupo.
Os partidos aliados ficaram como baratas tontas a fazer cálculos ao mesmo tempo em que sofriam pressão do governador Renan Filho (MDB) para entrar na arca calheirista. Ou não? O PSDB foi ficando isolado e, somente agora, tenta reagrupar o que restou na dependência da decisão de Rodrigo Cunha. Este provavelmente concorrerá ao Senado Federal, o que é importante para o PSDB, mas não tão importante para o grupo quanto tê-lo candidato ao governo do Estado.
Isto tudo com a outra administração municipal tucana – a de Rogério Teófilo em Arapiraca – passando por problemas junto à opinião pública. É claro que Palmeira não tem culpa disso, mas em política todos os fatores são levados em conta já que uma candidatura majoritária nunca é uma candidatura de si mesmo, mas de um conjunto.
O PSDB repete o erro cometido pelo ex-governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), em 2014, quando não conseguiu construir uma forte candidatura para lhe suceder.
As principais lideranças tucanas ficam fora do pleito de 2018. Rodrigo Cunha é o único nome com viabilidade para uma majoritária, mas está mais focado em seus projetos políticos que no partido. Isso é visível e legítimo por parte dele.
Não se trata – portanto – de uma acusação ou xingamento ao prefeito. O coveiro em questão é metafórico para representar que, ainda que sem querer, Rui Palmeira jogou terra no PSDB, enfraqueceu a legenda e abriu portas para que não houvesse uma oposição em Alagoas ao governador Renan Filho e ao senador Renan Calheiros (MDB).
Claro que há terceira via, mas nem ela se encontra plenamente estruturada, quiça com a capilaridade necessária nesse momento. Se vai crescer, aí é com a história e cada eleição tem a sua.
Ressaltar a importância de uma oposição em um processo democrático não é concordar com ela. Mas entender que qualquer hegemonia é prejudicial ao processo democrático, pois se reduz a crítica e a situação se sente acomodada.
Um processo democrático sadio tem que ter correntes políticas que favoreçam opções, ainda que estas sejam quase iguais (como é o caso histórico de Alagoas). Quanto se tem uma só vertente, os males disto serão vistos no futuro, inclusive criando um parlamento estadual bem mais subserviente do que o que já é.
Repito: a decisão de Rui Palmeira é compreensível e legítima. É o que disse desde sempre. Mas a forma como ele conduziu o processo, ocupando o principal cargo do principal partido do bloco opositor, foi de uma falha política terrível. Pode-se acreditar em tudo, menos que Rui Palmeira é inexperiente.
De perfil tucano, é um sujeito reflexivo, uma esfinge. Esperava-se que daí surgisse também uma inteligência política capaz de articular o xadrez. Afinal, o próprio tucano disse que estaria no processo direta ou indiretamente. Até agora não está presente nem de um jeito nem de outro.
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