O dirigente tucano Claudionor Araújo – como já relatado pela jornalista Vanessa Alencar em seu blog – também falou do “tempo” do deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB) para decidir se será ou não candidato ao governo do Estado.
Repito o que já disse ao analisar as falas do prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB): o tempo de Cunha é o tempo de Cunha e é legítimo que ele queira refletir sobre a proposta que lhe é feita para disputar o Executivo. A questão são os outros relógios do processo eleitoral. Cada partido tem o seu e não pode ficar refém de uma decisão tão importante às vésperas de uma eleição que é tiro curto.
Claudionor Araújo, mais do que ninguém, sabe como é política e negociações para composição de chapa. O candidato majoritário nunca é um candidato de si mesmo, mas sim de uma aglutinação de forças. Tanto é assim que, quando havia a indecisão de Rui Palmeira, o próprio Claudionor Araújo salientou o risco de Palmeira cair no ostracismo político em função do momento que se abria para ele.
Diante disso, Araújo sabe dos riscos que o ninho tucano sofre: perder a posição de protagonista do processo, como já tem perdido, e virar uma sigla nanica (em Alagoas) e sem forças para eleições futuras. Nada disso é culpa de Rodrigo Cunha, apesar dele poder ser um “salvador” dos tucanos em um processo eleitoral, independente do resultado deste pleito. Afinal, o parlamentar tem uma boa imagem e capilaridade que pode crescer durante o processo.
O problema são as condições que Rodrigo Cunha impõe (já tratei disto no blog em textos anteriores) e o fato dele ter uma eleição estruturada para a Câmara de Deputados. Simples assim. Diante disto, os demais partidos que compõem o que sobrou da oposição trabalham com outro relógio que visa salvar os seus na eleição proporcional, buscando se articular sem depender de uma majoritária, para eleger deputados estaduais e federais.
Negar isso é negar a realidade. Eu, particularmente, não acho a possibilidade de Rodrigo Cunha ser candidato ao governo impossível. Acho improvável. Em política tudo é possível. Agora, em uma análise, a fotografia do momento nos leva a probabilidades. Araújo também sabe disso. É experiente no processo.
E as probabilidades maiores são de uma articulação que envolva o senador Benedito de Lira (PP), o deputado federal Arthur Lira (PP), o deputado estadual Bruno Toledo (PROS) e o ex-secretário municipal José Thomaz Nonô (Democratas), cada um deles com seus interesses particulares (o que é legítimo) dentro da construção de um bloco que se encontra fora da chapa palaciana. Neste sentido, correm em uma velocidade maior que o tempo necessário para Cunha chegar a uma decisão.
Além disso, na decisão de Cunha pesa o seu projeto de ser candidato à Câmara de Deputados, no primeiro plano, e a Senado Federal em segundo plano.
Ninguém nega que Rodrigo Cunha seria um candidato forte ao Executivo. Tem inclusive um terreno imenso para crescer em pesquisas. Mas até isso inclui a necessidade de tempo para trabalhar seu nome. Ou não? Claudionor Araújo – se deixar as paixões tucanas de lado – precisa também levar isso em conta. Logo, querendo ou não, o PSDB corre contra o relógio. O que não quer dizer que maturar, por parte do deputado estadual tucano, não seja legítimo. Claro que é.
Ninguém diz isso por defender um “cenário de candidatura única e de vitória com “os pés nas costas”. Isso, como já disse aqui neste blog, é péssimo para a democracia. Mas se tem um culpado por esse cenário é o PSDB. Todo mundo confiou em Rui Palmeira. Ele tem o direito de não querer ser candidato, mas ao anunciar da forma como fez, sem alinhar com sua base e sem se portar como protagonista na busca por solução, ajudou a esfacelar o grupo. Tanto que o bloco perdeu o PR de Maurício Quintella Lessa logo de cara.
Gostem ou não dele, Quintella era um dos articuladores da oposição e hoje se encontra ao lado do senador Renan Calheiros e do governador Renan Filho – ambos do MDB – sem sequer perder espaços na Prefeitura de Maceió.
O recado que se passa com isso é que Rui Palmeira não está nem aí para o processo e que legendas outras podem aderir ao bonde calheirista sem precisar tirar o pé do barco da administração municipal de Maceió.
Portanto, negar que Renan Filho tem uma vantagem enorme nesse xadrez político é negar a realidade. Análises políticas não são motivas por paixões, mas por fatos. O fato é que – neste momento – a oposição está mais perdida que cego em tiroteio. Pode mudar? Claro que pode. Mas os principais caciques tucanos que poderiam interferir no processo deixaram os índios por conta própria.
Aglutinar novamente requer trabalho e Rodrigo Cunha não está disposto a ser candidato apenas para juntar a turma na Arca de Noé para, assim, tentar salvar todo mundo de um dilúvio provocado pelo PSDB.
Está certo Rodrigo Cunha. Ele tem sua própria trajetória e sua própria biografia. Será que Claudionor Araújo não sabe disso?
Não escondo que torço por uma oposição forte. Acho péssimo para uma democracia que não haja oposição, haja vista o que já acontece na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas diante da ausência de vozes críticas. Com exceção de Cunha e de Bruno Toledo, por exemplo, os demais deputados estaduais deram um cheque em branco para o governador Renan Filho remanejar o orçamento como queira em pleno ano eleitoral.
Houvesse oposição forte, Renan Filho teria mais dificuldades e o parlamento estadual não se comportaria como um apêndice do Executivo, tendo apenas como opositores dois deputados estaduais.
Concordo com Claudionor Araújo quando ele fala que é cada vez maior o desejo de renovação e de mudança na população, mas isso precisa ser construído. O nome de Rodrigo Cunha pode capitalizar esse sentimento? Pode! Mas o fará do dia para a noite? É difícil, mesmo diante da capilaridade eleitoral que já possui.
Sim, como diz Claudionor Araújo, tudo tem seu tempo. “Embora curto, mas tempo ainda há”. Eu concordo. Porém, assim como tudo tem seu tempo, todos possuem seu tempo também. Política é também – neste caso – a arte de casar relógios, oportunidades, necessidades, vontades e protagonismos.
Hoje, o PSDB parece carecer de tudo isso. Eis a razão da análise que fiz.
Nos bastidores, entretanto, surge uma nova informação: Rodrigo Cunha e Benedito de Lira seriam os dois candidatos ao Senado da oposição, Arthur Lira e Bruno Toledo seriam as mais fortes apostas para os cargos de deputado federal e na cabeça surgiria um terceiro nome para concorrer ao governo do Estado, sendo uma solução de improviso, que apenas sustente o grupo dentro de um “guarda-chuva”. Se isso se confirma, se confirmam as análises que tenho feito até aqui.
E por falar em tempo, ninguém teve mais tempo que o PSDB para avaliar todos os quadros. Mas tucanos são tucanos sempre...E quem compara a eleição de agora com a eleição em que Teotonio Vilela Filho (PSDB) enfrentou João Lyra (PSD) esquece de uma coisa: Lyra não tinha a máquina pública em suas mãos. Renan Filho tem um governo com algo concreto a ser mostrado. Vilela poderia não ter a maioria dos deputados estaduais e prefeitos, mas tinha o senador Renan Calheiros ao seu lado. E este senhor é um enxadrista que não pode ser desprezado.
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