O jornal Tribuna Independente publicou uma excelente entrevista com o deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB). O jornalista Carlos Amaral foi direto ao ponto: o que o parlamentar pensa e quais condições para que dispute o governo do Estado de Alagoas nessas eleições.

Cunha é o nome que resta ao “ninho tucano” após a desistência do prefeito de Maceió Rui Palmeira (PSDB) quanto à participação no pleito. Além de Palmeira, um outro nome do partido – que é o ex-governador Teotonio Vilela Filho – também está fora do tabuleiro do xadrez eleitoral.

Com isso, os tucanos – que eram protagonistas da oposição – passaram a condição de meros coadjuvantes. A situação só mudaria com o nome de Rodrigo Cunha. Porém, o deputado estadual – que tem projeto para uma candidatura à Câmara de Deputados – sabe das dificuldades de disputar o governo do Estado contra o atual chefe do Executivo estadual, Renan Filho (MDB).

Renan Filho tem em suas mãos a máquina pública, inúmeras alianças com prefeitos e deputados e um conjunto de partidos que lhe garante mais tempo de televisão. A eleição de Cunha à Câmara de Deputados é, evidentemente, muito fácil que uma disputa majoritária. Pressionado pelo “ninho tucano”, Cunha pediu tempo para pensar e apresentar uma decisão. Mas, pensar em que?

Rodrigo Cunha está coberto de razão ao afirmar – na entrevista – que não pode ser apenas uma peça no jogo para ocupar um vácuo, como fizeram os tucanos em 2014, quando apresentaram o nome do atual prefeito de Palmeira dos Índios, Júlio Cézar (que hoje se encontra no PSB). Júlio Cézar aceitou o desafio porque mirava na Prefeitura de Palmeira dos Índios e assim se projetaria. Deu certo. As ambições de Cunha são outras. Logo, ele não é um mero soldado do PSDB sendo convocado para a guerra.

Há coisas em jogo: sua candidatura a deputado federal, sua biografia (já que tenta associar seu nome a uma independência em relaçã aos caciques) e possíveis alianças que manchem seu currículo. Cunha não aceita dividir o palanque com qualquer um. Só erra o deputado estadual ao não dizer claramente quem são os nomes que lhe incomodariam ao estarem no mesmo palanque.

Com isso, querendo ou não, Cunha acaba criando as condições perfeitas para dizer não ao PSDB. Afinal, é evidente que o ninho tucano quer um candidato que possa agrupar novamente uma série de legendas, incluindo o PP do senador Benedito de Lira, o Democratas de José Thomaz Nonô, o PROS do deputado estadual Bruno Toledo e outros que puderem chegar. Rodrigo Cunha não terá muito espaço para montar o palanque dos seus sonhos, vetando candidatos ao Senado Federal, por exemplo.

Uma candidatura de Cunha ao governo seria solução, mas também traria outros problemas de relacionamento na chapa. Rodrigo Cunha diz que os que estão hojeaí “ocupam esses espaços há 20 e 30 anos. E, recentemente, Rui Palmeira cotado para ser candidato ao governo, informou que seguiria na Prefeitura”, diz o deputado estaudal. Pois é, se ele for candidato ao governo, ao seu lado estarão esses mesmos que ele critica. Numa proporcional – apesar de estar na chapa tucana – não possui o peso de caminhar ao lado de ninguém no palanque. Vira um “lobo solitário”.  

Cunha diz que ainda analisa as possibilidades. “Não vou entrar numa campanha para beneficiar políticos. Não posso deixar criar um cenário favorável a isso. Sempre lutei por independência e não é agora que vou depender de alguém politicamente. Não quis fechar a porta de imediato porque essa discussão deixou de ser de um partido e passou a ser de um bloco. Fui em busca da sensação da rua, que é a que me interessa”. Eis aí meio-caminho andando para dizer não ao PSDB, que é seu partido.

Indagado sobre as alianças, ele responde: “Rodrigo Cunha não nasceu há quatro anos, nasceu há 36. Eu sei o que passei nessa vida, sei o que os maus políticos fizeram a minha família e o que eles fazem a muitas famílias. Não estou disposto a tudo por um cargo. Se alguém me disser que tenho de me aliar com alguns tipos de forças para ser eleito, prefiro ficar em casa. Não aceito qualquer acordo. Tem pessoas que fazem mal a esse estado”. O que é interessante? Bem, Cunha acaba assumindo que estes que fazem mal também estão em seu partido e em seu arco de alianças. Então, quem são eles, Rodrigo Cunha?

A resposta de Cunha já está praticamente dada: “Pode ter certeza, prefiro estar num cargo menor, não arriscar. Isso é melhor para mim do que o vale-tudo”. Indiretamente, ele criou todas as condições para dizer não. De certa forma, não está errado. O ninho tucano de Alagoas se esfacela em plena luz do dia...

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