A política reserva surpresas. Não quero com esse post dizer que o ex-ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa (PR) e o senador Renan Calheiros (MDB) sejam inimigos políticos ou rivais. Longe disso, Quintella esteve sim no campo de oposição ao MDB recentemente, mas sempre teve uma boa relação com a bancada federal em Brasília.
Manteve ainda uma relação institucional com o governador Renan Filho (MDB), em que pese duras críticas que já fez, como mostrei nesse blog logo que ele fechou aliança com o Executivo estadual em nome das eleições vindouras.
A surpresa que a política revela no pleito – diante da chapa encabeçada pelo MDB – se dá pela dobradinha dos dois, disputando o Senado Federal juntos, mas com convicções opostas em muitas pautas. É só olhar o histórico recente das posições políticas assumidas.
E aí, pouco importa se aliança de Quintella com o senador Renan Calheiros e o governador Renan Filho se deu em função da desistência do prefeito Rui Palmeira (PSDB) em participar do pleito. Afinal, convicções são convicções e um homem – ainda mais público – pode ser cobrado por elas.
Isso é o mínimo.
O interessante é de um lado termos, por exemplo, um dos mais aguerridos defensores do ex-presidente condenado Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT). Do outro, um recente crítico às posturas petistas, ao ponto de dizer que, no Ministério dos Transportes, estava na hora de trocar a ideologia pela lógica e pela aritimética.
Quintella foi um defensor das reformas de Michel Temer e do próprio governo federal. Renan Calheiros foi um opositor a Temer.
Neste campo, pode se incluir pautas para o futuro onde Quintella e Renan Calheiros – caso cheguem ao Senado Federal em 2019 – terão posições diferentes. Quintella tem aderido a uma agenda mais liberal com o passar do tempo. Renan Calheiros tem amado as teses esquerdistas de Estado forte, ao menos em seus mais recentes discursos. Ilustro aqui com a Reforma Trabalhista e também com a possibilidade futura de se redescutir a Previdência.
Com visões tão distintas, estarão juntos na campanha, um pedindo voto para o outro enquanto pedem votos para si mesmos. Afinal, essa é a dobradinha da chapa que tem Renan Filho na cabeça.
Outra divergência emblemática: Renan Calheiros é praticamente o pai do Estatuto do Desarmamento. Recentemente, o emedebista fez defesa ferrenha das teses desarmamentistas. Maurício Quintella Lessa já deixou claro sua posição pelo direito do cidadão, obedecendo a critérios objetivos, ter acesso ao porte de arma.
Não deixa de ser interessante observar proprietários de declarações tão distintas – ao menos nas visões passadas à imprensa durante entrevistas – no mesmo palanque e em nome de um mesmo projeto. É, no mínimo, curioso.
Repito: tudo isso não produz rivais. Afinal, o diálogo e a divegência sadia é parte da democracia, mas já se foi o tempo em que costuras políticas se davam por afinidades de convicções ou apreços ideológicos. A matemática eleitoral se revela mais importante.
Se pesquisarmos, obviamente, acharemos pontos em comum entre os postulantes ao Senado Federal. Todavia, as diferenças no campo das ideias são visíveis.
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