O que revela a dança das cadeiras aberta pela oportunidade da janela partidária em Alagoas e no Brasil? A crise de representatividade da nossa democracia indireta. Os partidos políticos – com raras exceções – não possuem crenças sólidas, assim como a maioria dos políticos abrigados por estes. Diferem apenas – em maior ou menor grau – na forma como pensam intervir no Estado para se manterem vivos no estamento burocrático vigente.
Claro que há exceções. Mas como está embutido no vocábulo “exceções”, elas são raras...
Um ponto importante que é preciso que se diga: nessas mudanças de legendas, um foco maior nos pré-candidatos a deputado federal. Todas as siglas (e a única exceção tem sido o Novo) possuem um interesse particular nos mandatos da Câmara de Deputados. Motivo? É a quantidade de deputados federais eleitos que definem a excrescência chamada fundo partidário, onde o contribuinte paga pelas estruturas partidárias as quais não é filiado, por exemplo.
Fosse algo sério e comprometido com a função nobre da política, partidos representariam ideais e seriam mantidos por seus filiados que nesses acreditassem, buscando assim um “lugar ao sol” para defender suas teses.
Teríamos assim – e por isso o nome é partido, por não constituir um todo! – que abrigaria várias correntes da esquerda à direita, com debates caros ao cidadão como revisão do pacto federativo, intervenção ou não do Estado na economia, garantias de liberdades individuais, descentralização de poder e recursos etc.
Mas nada disso temos. O importante agora para os partidos é a matemática eleitoral. Repito: com raras exceções.
O sistema, portanto, já começa prostituído.
E o que os partidos fazem diante do desgaste promovido pela crise de representatividade: mudam de nome. Demonizam a palavra “partido” e viram Avante, Podemos, Movimento etc. Como se isso dissesse grande coisa ou significasse realmente mudança. É como pintar o muro externo da casa sem muitas vezes reformar o interior.
Até o desgastado PMDB, que é parte do problema de um governo irresponsável do passado, virou o MDB, querendo resgatar sua posição de luta contra o regime militar.
Nos muitos partidos que formam a democracia brasileira, em geral o que temos é 50 tons do mesmo cinza. Logo, o que significa a ida de um pré-candidato da sigla X para a sigla Y? Nada além de encontrar o melhor lugar onde a soma dos votos lhe garanta uma eleição mais fácil.
O eleitor tem sua parcela de culpa? Claro! Na maioria das vezes, ao ver um político investigado por algum fato, terceiriza a responsabilidade para a Justiça. Fica a espera de um milagre para que aquele político perca os privilégios e só então responda pelos seus atos.
É o caso, por exemplo, do que ocorre no Senado Federal. São 23 senadores que poderiam ver seus processos descer à primeira instância, não contando mais com o foro privilegiado, para assim então – respeitando o direito ao contraditório – respondam pelas acusações que são feitas. O que ocorre hoje é que, independente de cor partidária, tais investigações ganham cheiro do mofo no Supremo Tribunal Federal.
Entre esses 23 senadores, dois alagoanos: o senador Renan Calheiros (MDB) e o senador Benedito de Lira (PP). O senador Fernando Collor de Mello (PTC) também é alvo da Lava Jato, mas ainda tem mais quatro anos de mandato pela frente, tanto que tem o luxo de ser pré-candidato à Presidência da República. O tucano Aécio Neves (PSDB) – tão lembrado pelos petistas após a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT) – também faz parte dessa turma.
Regressando ao tema principal que é a mudança de legenda: o que vemos é o circo eleitoral em cena. Tal lógica, por exemplo, permitiu que o deputado federal Cícero Almeida – ao longo de sua trajetória política – trocasse mais de partido do que de sapato. Givaldo Carimbão, que agora está em casa nova, já passou pelo PSB, PROS e PHS, misturando sua visão católica de mundo às intempéries socialistas de siglas onde já esteve. Carimbão desafiou a química em sua vida política e conseguiu misturar água e óleo.
Vivemos uma democracia indireta onde a maioria dos partidos só possui uma identidade: a “ideologia” de superar cláusula de barreira, garantir deputados federais para ter dinheiro público em suas contas e realizar conchavos estamentários que são apelidados de “governabilidade”. Nada de novo no front. Pouco importa quem foi para onde foi...é o lápis na mão e interesses inconfessáveis na cabeça...
Estou no twitter: @lulavilar