Conversei com o pré-candidato à presidência João Amoêdo (Novo) no dia de ontem, 28. De passagem por Alagoas, Amoêdo palestrou para filiados e simpatizantes do partido e buscou defender as ideias da agremiação.
Para o pré-candidato, a mudança do país passa por alguns pilares fundamentais, como a redução da máquina pública, do poder coercitivo do Estado e o endurecimento do combate ao crime.
Amoêdo defendeu revisão de leis penais, desburocratização, redução de impostos e revisão do pacto federativo. Além disso, se colocou favorável à revogação do Estatuto do Desarmamento. Entretanto, entra em choque com algumas pautas da direita conservadora, como a temática do aborto, afirmando que o partido não possui uma posição definida, mas que esta fica a cargo dos candidatos, estando eles livres para serem contra ou a favor.
Na entrevista, há também outras temáticas. Confira na íntegra a entrevista exclusiva do CadaMinuto com João Amoêdo.
Diante do atual espectro político brasileiro, o senhor definiria o Partido Novo como uma agremiação de esquerda, centro ou de direita? Como o Novo se enquadra nesse quadro que ainda é um tanto confuso para muita gente que só tem contato com o que de fato é uma visão liberal ou conservadora agora?
A primeira definição do Novo é que ele é criado por cidadãos comuns com a preocupação genuína de melhorar a vida do individuo, do cidadão brasileiro. Entendemos que essa melhora passa por novas lideranças, novas posturas e uma intervenção menor do Estado, consequentemente por políticas mais liberais. É assim que vejo o Novo. Nenhum lugar do mundo se desenvolveu com um Estado que sufoca as liberdades individuais. É nisso que o Novo acredita. Em devolver a liberdade para as pessoas decidirem suas próprias vidas, com mais dinheiro no bolso do cidadão. E aí, se formos adotar um rótulo podemos dizer que o Novo é um partido mais liberal.
Dentro dessa perspectiva que o senhor coloca se chegar à presidência por onde começaria a transformar esse Brasil de hoje no Brasil que o senhor enxerga? É pelas mudanças econômicas? Pela segurança pública? Enfim, quais seriam as primeiras ações de um presidente do Novo?
Olha, a primeira coisa que a gente tem que fazer é dar exemplo. E isso envolve reduzir os privilégios da área pública, dos políticos, do Executivo, do Legislativo. Cortar verbas de gabinete, cortar gastos desnecessários, reduzir a máquina, para mostrar que chegamos realmente com o desejo de mudar essa realidade que temos hoje. Mostrar que estamos de fato preocupados com o dinheiro do povo brasileiro, que paga uma excessiva carga tributária sem ter os serviços em troca. Precisamos ter as contas do Estado equilibrada e diminuir a intervenção do Estado, simplificar e desburocratizar para que as pessoas possam empreender, porque é isso que gera emprego, que gera riqueza, que faz com que cresçam as rendas do cidadão. A segurança é um ponto que vem junto porque hoje é fundamental resolver essa situação. É fundamental melhorar esse cenário, porque os brasileiros saem de casa sem o receio se vai voltar. Eu diria que esses são os três pilares: reduzir o Estado, atacar a questão da segurança e ter uma desburocratização com um Estado com contas equilibradas.
O senhor coloca aí a questão da segurança pública. De fato, um país com 60 mil homicídios por ano. Isto deve ser tema de todas as campanhas. Mas na prática, como o Novo pensa em resolver esse problema?
Não existe uma bala de prata. Existe uma série de ações a serem tomadas, mas para citar algumas em concreto, como você coloca, a primeira é melhorar a integração entre o governo federal e governos estaduais para atacar o problema. Precisamos aparelhar melhor as polícias, melhorar o uso das tecnologias de combate ao crime e estabelecer metas. Ter uma corregedoria forte para evitar desvios de atuação, mas valorizar o policial. Precisamos ainda estabelecer parcerias público-privadas. Penso isso em relação aos presídios, porque hoje eles são máquinas de produzir novos criminosos. Também é necessário endurecer a legislação para punir criminosos, porque hoje se solta fácil demais os presos e isso traz uma sensação de impunidade. Combater fortemente o crime organizado. Além disso, revogar o Estatuto do Desarmamento. Não é o elemento principal da solução da violência, mas é razoável que as pessoas que querem proteger a sua vida, a sua propriedade, tenham o direito do acesso às armas.
Já que estamos falando de um ponto que é considerado uma das pernas do tripé dos serviços prestados pelo Estado, como o Novo pensa em lidar com as outras “pernas” desse tripé: Educação e a Saúde? Seriam áreas a serem privatizadas dentro de uma visão liberal que o Novo prega?
Eu entendo o seguinte: o Estado pode prover a possibilidade das pessoas terem acesso a uma boa Saúde e uma boa Educação, mas não necessariamente ele ser o gestor. O Estado é péssimo gestor e vemos isso em todas as empresas que ele tem. Se pudermos criar um sistema onde as pessoas tenham acesso à Educação e a Saúde por vales, como já existe essa realidade em vários países e assim possam usar recursos para comprar o serviço na iniciativa privada, podem ter acesso a este serviço de forma mais barata e com mais qualidade. Aliás, é o raciocínio já presente no Bolsa Família. Ao invés do governo criar uma estrutura para dar alimentos, ele dá o dinheiro para que as pessoas, diante da situação de vulnerabilidade, adquiram isso na iniciativa privada. Acredito que este seja o caminho, pois se reduz a estrutura do Estado e se garante o acesso dos mais pobres a um serviço de mais qualidade com menos recursos públicos empregados.
O senhor pensa em mexer no pacto federativo?
Certamente. Nós temos que mudar, porque hoje se concentra mais recursos nas mãos de um governo federal. Precisamos mudar isso e devolver o dinheiro para os Estados e municípios que é onde o cidadão realmente vive. Ele mora no município. É lá que se tem noção melhor das prioridades, dos aspectos regionais, pois as demandas e necessidades são diferentes. Essa centralização de poder em Brasília é ineficaz do ponto de vista administrativo e, além disso, cria o ambiente propício para a corrupção. Somos a favor de um federalismo de fato no Brasil.
Qual a perspectiva do Novo para 2018?
Olha, nós estamos muito satisfeitos com os resultados alcançados em 2016. Elegemos quatro vereadores, sem tempo de televisão e sem fazer coligações, mas somente mostrando o que nós pensamos por meio de campanhas baratas e engajamento, já que não usamos o fundo partidário e o Novo é uma estrutura bancada por seus filiados. Os vereadores apresentaram resultados, seguindo os compromissos partidários, reduzindo gastos e economizando recursos públicos, dentre outras ações. Estamos trazendo gente nova para a política, provando que é possível trazer pessoas qualificadas para os cargos públicos, sem usar verbas públicas. Agora, em 2018, usamos da mesma estratégia. E sou muito esperançoso porque há uma demanda da população por renovação. Fazemos processo seletivo para candidatos para buscar essas pessoas qualificadas. Há uma grande vantagem porque a renovação não passa por nomes novos apenas, mas por posturas e práticas diferentes. Faremos isso usando mídias sociais, gastando sola de sapato, mostrando o partido e conversando.
A oposição coloca o senhor como candidato dos bancos. Como o senhor responde a isso?
Quando montamos o partido, em 2010, foram oito anos de muito trabalho para defender os interesses do cidadão. Ao contrário do que dizem, o Novo pensa justamente em aumentar a concorrência também no setor financeiro. O Novo não representa nenhum interesse do banco. Quer reduzir a quantidade de juros que o Estado paga, privatizar bancos públicos para trazer mais concorrência para o setor financeiro. Então, dizer isso é uma tentativa de desqualificar o projeto do Novo sem apresentar qualquer tipo de informação que corresponda de fato à verdade.
O que o Novo pensa em relação à Previdência?
Uma reforma é totalmente necessária. Quanto antes melhor. É um buraco que vem crescendo. O Estado tem transferido cada vez mais os recursos dos mais pobres para os mais ricos e mudar isso passa essencialmente por repensar a Previdência. É fundamental pensar em um modelo de reforma.
O Novo tem uma postura muito forte em relação à economia. Mas quanto a outras pautas, que são polêmicas, mas que estão ligadas a uma questão moral. Como o Novo se posiciona, por exemplo, em relação ao tema do aborto?
O Novo em relação a alguns temas que são complexos e com entendimento diversos, como o aborto, por exemplo, o Novo deu autonomia para os seus mandatários de se posicionarem como compreendem e aí o eleitor terá a liberdade de questionar o candidato e votar nele conforme a posição assumida por este. Os mandatários têm autonomia quanto a questão do aborto e estão liberados para expressar sua opinião. Então, teremos candidatos que serão contra e candidatos que serão a favor. Caberá ao eleitor decidir qual candidato ele vai querer para representar as suas ideias.
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