Não é justo colocar toda a culpa do esfacelamento de uma oposição nas costas do prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB). Ele tem todo o direito de não sair candidato e priorizar a Prefeitura de Maceió, cargo para o qual foi eleito. Porém, grande parcela dessa culpa é sim do prefeito. Não por sua decisão ou pelos motivos que levaram o gestor municipal a esta. Isso é o mínimo.
É a demora. O poder não deixa vácuo e o rio corre para o mar. Ditos que qualquer político experiente sabe interpretar. Rui é experiente nesse ramo...
O silêncio de Rui Palmeira durante um longo tempo foi associado – nos bastidores políticos – a posturas, tomadas por ele mesmo, que o colocavam como um articulador dessa frente opositora ao senador Renan Calheiros (MDB) e ao governador Renan Filho (MDB). O tucano, ao aceitar assumir a presidência do partido, disse – com todas as letras! – que participaria do pleito direta ou indiretamente. Não fez nem um, nem outro.
A desistência de Teotonio Vilela Filho (PSDB) de disputar o Senado Federal foi o primeiro passo para essa implosão. Mas, se Rui Palmeira tivesse sido candidato abriria os espaços que o ministro do Transporte, Maurício Quintella Lessa (PR) alemajava para disputar o Senado. Se, lá atrás tivesse já deixado claro que não iria para a disputa, seria articulador do grupo junto com Quintella e os demais líderes de partido (o senador Benedito de Lira (PP), o secretário municipal Thomaz Nonô (Democratas), o deputado estadual Bruno Toledo (PROS) etc) para se trabalhar um nome.
Ainda que esse nome tivesse menos densidade eleitoral que Rui Palmeira e – consequentemente – menos chances, ele serviria para estabelecer o norte de uma força política no enfrentamento ao MDB e seus aliados, que daria sobrevida ao PSDB para disputar eleições em 2020 e 2022, incluindo o próprio Rui Palmeira para eleições futuras.
Não que uma oposição liderada por Rui Palmeira seja lá grande coisa em termos de diferenciação de projetos para Alagoas. A gestão municipal tucana tem seus defeitos, não é exemplo em muitas ações e os aliados transitam, levando em conta o gênesis da política alagoana, ao sabor das conveniências por vários grupos políticos, sempre com a desculpa das “relações institucionais”.
É claro que relações institucionais boas entre as forças políticas fazem parte do bom combate. Mas, em grande parte das vezes – não sejamos hipócritas – ela é apenas uma desculpa para deixar todas as portas abertas.
Sem Vilela e sem Rui Palmeira, o PSDB tem hoje – de concreto – uma administração municipal em Arapiraca, que é conduzida pelo tucano Rogério Teófilo, mas que sofre com os vereadores e na opinião pública. Além dele, o deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB) que tem sua evidência por méritos próprios e a terá independente de partido. Logo, pode sair sem causar impacto.
O mandato de deputado federal de Pedro Vilela (PSDB) não teve o peso esperado. Está longe de ser uma futura liderança apesar de ter sido uma promessa. O PSDB sairá nanico desse processo eleitoral apesar de ter conseguido vitórias importantes em 2016 ao enfrentar o MDB. Terá enormes dificuldades de se recompor. O dirigente tucano Claudionor Araújo acertou ao falar que Rui Palmeira ainda poderá amargar um ostracismo ao fim da Prefeitura Municipal diante de lideranças que podem surgir. Entre elas, o próprio Rodrigo Cunha caso consolide a renovação do mandato, uma eleição a deputado federal ou qualquer outro passo a ser dado.
Rui Palmeira lavou as mãos em relação ao processo político. Até mesmo indiretamente está cada vez mais distante. Muitos dos seus aliados migram para o Palácio República dos Palmares com a confortável posição de fechar alianças com Renan Filho (MDB) sem perder espaços na Prefeitura de Maceió. É o caso de Maurício Quintella, que ainda assumiu – conforme bastidores – a missão de uma aliança institucional entre o prefeito e o governador.
Abraão Moura, fiel escudeiro de Rui Palmeira, também já anda pelos corredores do Palácio República dos Palmares e pode levar sua filha, pupila política e pré-candidata a deputada estadual Cibele Moura ao PR de Quintella. Até José Thomaz Nonô pode acabar conversando com o MDB. Pelo visto, Rui Palmeira nunca esteve interessado nesse processo eleitoral. Abriu mão de tudo. De ser candidato e de ser líder de um grupo.
De fora das conversas apenas o PP do senador Benedito de Lira que tenta, de todas as formas, salvar candidatos proporcionais e a eleição de Benedito de Lira ao Senado Federal. Por sinal, o senador, conforme bastidores, ainda irritadíssimo com o prefeito.
Cada vez mais sobra aos alagoanos a “opção única” diante da pouca projeção de um grupo de oposição. Repito: não falo da qualidade dessa oposição. Mas, por pior que ela fosse, em uma democracia, não ter opções, é sempre uma perda. A eleição se torna um passeio e legitima qualquer projeto, sem o mínimo questionamento, de uma força política que passa a deter muito poder em poucas mãos. Isto é sempre perigoso por mais bem intencionados que sejam os vitoriosos. É que, às vezes, de boa intenção o inferno está cheio.
Maurício Quintella foi o mais esperto da turma. Aparou arestas ao ser o primeiro a pular do barco e chegou ao Palácio com pompas e circunstâncias que o faz de ponte para outras alianças. Quintella rumo ao Senado dividirá a atenção com o senador Renan Calheiros. O governador Renan Filho sabe que, com isso, pode conversar de forma mais incisiva com os prefeitos cobrando o primeiro e o segundo voto ao Senado para o seu grupo. Afinal, é o todo poderoso Renan Calheiros e um ministro. É preciso muita convicção para um prefeito dizer não.
No xadrez, ainda se isola o ministro Marx Beltrão. Beltrão pensa em que agora? O MDB tinha compromisso com ele. Dane-se! É passado! A apatia de Rui Palmeira rende muitas rasteiras. No final das contas, o PSDB é aquele tapete escrito “wellcome” no qual os emedebistas e aliados poderão limpar os sapatos.
E todo mundo suspeitando que um postura favorável ao MDB viria de Teotonio Vilela Filho por conta de sua relação pessoal com Renan Calheiros? Quem diria...
Se nessa história, o PSDB perder os poucos nomes que ainda possui, Rui Palmeira – ainda que sem querer – pode ser chamado a uma reunião de diretório para que deixe de ser presidente estadual e assuma a função de coveiro.
E a terceira via que agora passou a ser a segunda pode sofrer da mesma inanição caso não tenha posturas firmes do deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB), e do procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça. São os principais players do jogo por lá. Ainda que não tenham uma “cabeça” de chapa para ganhar, podem apostar no futuro e na busca por reeleger JHC e eleger Gaspar para o Senado. Em caso de êxito passam a ser referência...mas, somente em caso de êxito...
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