Ocorreu no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) IFAL algo que acho grave: um professor atacou a fé alheia, no caso em tela o catolicismo, afirmando - conforme a denúncia - que a Igreja era uma “suruba”. Escarneceu Nosso Senhor Jesus Cristo, colocando-O como um “maconheiro”. Diria o mesmo se fosse outra fé ou se a aluna tivesse sido humilhada por ser ateia. 

Assim como um cristão não pode agredir quem possui outras religiões, nem agredir quem tem a liberdade de não acreditar, o cristão também merece respeito por sua fé. Fui ateu durante muitos antes de minha vida e me converti há quatro anos. Lembro aqui das palavras do meu pároco ao falar de outras religiões: “Respeitamos escolhas e não atacamos pessoas, mas sabemos no que cremos e como defendemos o que cremos. É como Jesus nos ensinou”. 

Quando ateu, nunca tive raiva de cristãos. Dialogava (no que depois me vi errado) sobre as razões da crença, mas compreendendo o que esta trouxe de salutar à humanidade, como uma moralidade que é pautada pelo amor e misericórdia ao pecador. Creio na importância de uma moral que respeito à vida e às liberdades individuais. Sempre vi isso no Cristianismo, apesar dos erros de alguns cristãos. Sim, como todos os seres humanos, eles também erram. 

Nosso Senhor Jesus Cristo sempre trouxe isso em suas palavras até, quando falou a pecadores. Mesmo ateu, lia a Bíblia com atenção e me encantava com o ensinamento de muitas parábolas, como a pregação do amor ao próximo e o respeito de forma indiscriminada. O bem sem olhar a quem. 

Há aqueles que achem que a fé cristã é inimiga de suas ciências. Para mim, uma bobagem. A Igreja Católica, em específico, foi a guardiã da filosofia grega e de muito dos conhecimentos produzidos pelos romanos antigos (que não sobreviveriam após a queda do Império), conservando obras que desenvolveram a lógica e a pedagogia muito antes de qualquer Renascimento; não se desfazendo inclusive das obras históricas que discordavam dela e possibilitando que, a partir do século XV/XVI, essas pudessem ser interpretadas longe da visão cristã, como fizeram filósofos do Iluminismo.

Sem a Igreja, não se teria esse momento histórico. Isso é um fato!

Em Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico da Igreja, há ainda o respeito às visões científicas. Quem duvida que leia a Suma Teológica. Vai encontrar isso logo nos primeiros capítulos. Poderia também falar de Mendel e a genética, de George Lemaître e o conhecimento da astrofísica que rendeu a tese do Big Bang, tão enaltecida tempos depois fora da Igreja. Do respeito à visão cosmológica de Sobre o Céu de Aristóteles, da filosofia de Leibniz, Pascal e tantos outros. 

É uma ignorância achar que uma visão religiosa limita o intelecto de alguém. Maior ignorância é confundir o conservadorismo filosófico, que tem apoio em visões transcendentais (em especial o Cristianismo) com algo reacionário e pegar um “espantalho” (que é alguém que não consegue rebater críticas sofridas) e colocar como exemplo do que é um conservador ou um cristão.

Como creio que o estudo elucida, indico o exemplo de Roger Scruton que, em um trabalho voltado à Educação e às Artes, resgatou milhares de pessoas que sofriam com o regime totalitário, ofertando-a novas perspectivas e ajudando a ampliar seus intelectos. Scruton, ainda vivo, é um dos maiores filósofos da humanidade. Leiam suas obras e vocês não encontrarão um pingo de ódio. Ao contrário, encontrarão uma preocupação em conservar valores caros à humanidade, como o respeito à vida, às divergências, às liberdades individuais e ao que de belo - ao longo da História - a humanidade construiu. 

O maior panfleto político em nome da liberdade, que é de Bastiat e se chama A Lei, é consagrado a Deus logo em suas primeiras páginas. 

O mesmo se dará com pensadores como Michael Oakeshott ou Edmund Burke. O conservadorismo filosófico tem por base, como diria o filósofo Ortega y Gasset, não o ataque aos outros, mas a busca pelo que não se banha no rio do tempo por serem considerados direitos naturais do homem, ou pré-civis, que é o que embasou o reconhecimento da vida como valor sagrado. Pois, ao contrário do que acreditava Thomas Paine ao falar da Revolução Francesa, não somos gerações soltas umas das outras, ou “folhas em branco” onde se pode construir uma utopia por meio de ideologias seculares.

Todas as nossas conquistas de hoje se dão porque subimos nos ombros de gigantes do passado. E aí, não se trata de uma visão nostálgica de querer regredir, o que caracteriza o reacionarismo. Mas sim, de uma visão sóbria de que devemos ser gratos a quem nos proporcionou as conquistas que temos hoje, como Dostoiévski e Shakespeare no campo das artes, Platão e Aristóteles no campo da filosofia, e tantos pensadores no campo da ciência. Muitos deles, cristãos. Outros, não cristãos. 

Atacar a fé ou a ausência de fé alheia de forma desmedida, humilhando o outro por meio de suas crenças, é que é promover o ódio. Defender-se disto não. A defesa é legítima desde que proporcional ao ataque. E o que a mãe do aluno fez foi usar dessa legitimidade: defendeu a crença de sua família apresentando queixa na instituição. Agora, é com o processo administrativo ou com a Justiça, caso também haja essa ação cabível. 

Não se promoveu, nesse caso, em momento algum ódio ou perseguição. Mas apenas, um fato: um católico tem todo o direito de reagir para que não seja alvo de perseguição por ser católico.

Como é direito de um homossexual não sofrer preconceito por ser homossexual. Como é direito de um negro não sofrer preconceito por ser negro. Pois tudo isso é crime. E pessoas nessa situação devem reagir e buscar seus direitos. Se é crime, como crime deve ser tratado. O ser humano deve ser respeitado por ser humano e ponto final. Em sua liberdade individual, ele tem direito a crer no que ele quiser. 

Assim como, o professor da instituição tem direito a ser ateu ou a acreditar em qualquer coisa que deseje. O que ele não tem é o direito de, usando do cargo, impor sua visão aos demais, humilhando quem pensa diferente por este se encontrar em uma situação de fragilidade, já que é audiência cativa e depende de notas concedidas pelo professor para avançar em sua carreira estudantil. Isto é coagir. Neste caso, a coação serve à doutrinação. Simples assim. 

Vi os depoimentos da mãe e, de forma prudente, ela ensinou a filha a como agir nas mais diversas situações justamente para evitar o ódio e o confronto. Mas, diante de algo que extrapolou os limites, o que fez ela? Buscou a legitimidade da ação. 

Ela e a filha não responderam ao ataque gratuito com outro ataque gratuito, mas sim com a postura adequada. Se alguém exagerou nas redes sociais, que responda por isso. Agora, não se pode usar um exemplo fora do contexto, para achar que o ocorrido em sala de aula não é grave. 

Não quero (e não se deve fazer) a promoção do ódio para cima do professor. Eu condeno o ato e não a pessoa. Essa tem que ter até o direito ao perdão, caso venha o arrependimento.

O Cristianismo nos ensina a piedade e a misericórdia no bom combate àquilo que consideramos pecados, adotando as vias justas e proporcionais. Fosse com a minha filha, eu faria exatamente o mesmo que esta mãe. Faria sem rancor ou ódio pelo professor, mas na esperança que o fato o servisse de lição. 

Tolerância não é deixar de discordar ou de se posicionar de forma incisiva quando necessário. Tolerância é entender que os outros possuem direito de professar uma fé com a qual eventualmente eu discordo. Se devo respeitar, devo ter respeito. Simples assim. E a fé de alguém não é elemento para que eu o julgue ou o humilhe, execrando aquilo que faz parte de seu culto. 

A lei penal prevê isso, é bom lembrar. 

Seria o mesmo caso se alguém, por ser de religião matriz africana, fosse humilhado com palavras pejorativas. Eu seria o primeiro a defender essa pessoa, como - nesse espaço - já defendi de injustiça pessoas que possuem convicções contrárias às minhas. É que uma injustiça contra um ser humano segue sendo uma injustiça, independente de eu concordar ou não com este ser humano. Se me calo diante disso, sou covarde. Se só defendo os alvos de injustiça que concordam comigo, faço seletividade.

Neste caso, meu elogio a gestão do IFAL. Marcou sua posição com prudência e imparcialidade, pois ainda precisa apurar os detalhes do ocorrido e garantir a legítima defesa que é direito de qualquer um. Por fim, atendeu a mãe com presteza e deu início aos procedimentos cabíveis. 

A gestão ainda lamentou o ocorrido e ratificou os preceitos de liberdade religiosa e respeito mútuo aos princípios básicos de convivência. É como tem que ser. 

Li textos que afirmam que o professor foi ameaçado de morte. Se alguém fez essa ameaça que seja investigado, que se mostre a ameaça. Agora, cito a postura de conservadores sérios nesse momento. Um deles é o Leonardo Dias, que foi em socorro da mãe, orientando aos procedimentos cabíveis, sem exageros, sem ameaças a quem quer que seja, mas pautado por valores de respeito ao outro. Dias agiu corretamente ao estender a mão. 

Católicos, por essência, defendem a vida, o respeito e a liberdade. É o que se encontra no Catecismo da Igreja Católica. Quem tiver dúvida que leia. Devem defender o combate a qualquer preconceito injusto. É o que se encontra no Catecismo da Igreja Católica, quem tiver dúvidas que leia. Se há uma postura a ser adotada pela Igreja é a de defender o seu direito à fé, sem exageros, sem ódio, mas pautado pelos ensinamentos cristãos e sem esquecer que para nós, Nosso Senhor Jesus Cristo é “Caminho, Verdade e Vida”. 

Se Cristo não é visto dessa forma por alguns de meus leitores, eles possuem o meu respeito. Todavia, não escondo a discordância. Você - assim como qualquer um - tem direito a acreditar no que bem entende. Eu não imponho minha visão católica a ninguém. Agora, a defendo minha crença onde quer que eu esteja; e quero ser respeitado por isso, assim como respeito o direito de outros não crerem, ou terem suas crenças divergentes. 

Não bastasse isso, ainda há as questões fáticas, que levam ao uso das falácias para humilhar os outros. Afinal, o que dá suporte a um professor - e aqui não é uma questão de fé, mas de lógica - para chamar Cristo de “maconheiro” ou afirmar que a Igreja é uma “suruba”. Uma simples leitura de Ian Mortimer - historiador não católico - seria o suficiente para derrubar uma bobagem que não se mantém em pé. Ainda há historiadores como Cristopher Dawson, Thomas Wood Júnior, Regina Pernoud e tantos outros que mostra de fato o que é a Igreja na História. 

Qualquer assunto discutido sem suporte fático para isso é falácia em nome de alguma ideologização.

Será que ainda há quem ache que a tese de Idade das Trevas se sustenta, mesmo depois das obras de Aquino, Santo Agostinho, Hugo de São Vitor, a contribuição do Trivium para a pedagogia, a fundação de hospitais, orfanatos etc. 

Claro que há maus católicos, como há pessoas más em todos os lugares. Mas a essência de uma fé se enxerga por aquilo que ela é e produz. Não pelo que exemplos isolados, por pior que sejam, fazem dela, no sentido de iludir incautos. Isso é uma coisa que os próprios bons cristãos denunciam, inclusive dentro da Igreja. 

Minha total admiração por essa mãe que assumiu para si uma função nobre: educar os próprios filhos dentro daquilo que é a crença de sua família. É um direito aos católicos como a qualquer um outro. Por ser católico, também me senti ofendido e injustiçado. Afinal, tenho amigos espíritas, ateus, de religiões de matriz africana e nunca ofendi nenhum deles, nem nos momentos em que fomos incisivos em discussões de defesa de nossas religiões. 

O direito que quero para mim, de ser católico onde quer que eu esteja e não ser agredido por isso, é o direito que quero para todos de professarem suas crenças sem serem alvos de qualquer tipo de preconceito, ataque, agressão injustificada, humilhação ou exclusão. Não tiro, portanto, o direito de alguém ser ateu. Mas uma agressão a quem quer que seja é algo a ser combatido.

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