A mecanização no campo e a crise das usinas em Alagoas tirou o emprego de mais de 30 mil trabalhadores rurais ao longo da última década. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que em dez anos - 2008 a 2017 - 31.230 pessoas perderam o emprego na Indústria de Transformação em Alagoas.

Conforme o levantamento, em 2017, 72.642 pessoas estavam empregadas na área da Indústria de Transformação; em 2016, havia 76.939 e em 2015, 79.465 empregadas.

A situação para os trabalhadores é “péssima”, como definiu o presidente da Federação dos Trabalhadores Assalariados Rurais de Alagoas (Fetar) Cícero Domingos. Em alguns casos, a opção é ir embora de Alagoas para buscar emprego em outras cidades, mas nem sempre é tão fácil assim.

"Estou pensando em deixar Alagoas, o problema é que não tenho dinheiro para comprar a passagem e ir embora, afinal, não recebi o que tenho direito ainda", afirmou o trabalhador rural, José Leandro.

José entrou para a lista de desempregados após a Usina Santa Clotilde, localizada no município de Rio Largo ter demitido cerca de 90% do quadro funcional e ter protocolado na Justiça um requerimento de recuperação judicial.

"Me pegou desprevenido e agora preciso receber o dinheiro [décimo, FGTS, salário] que eles me devem. Tenho uma família para sustentar", alegou Leandro.

Demissões em massa

Entretanto, o presidente da Fetar, Cícero Domingos disse que o desemprego é maior do que o MTE mostrou.

A reportagem do Cada Minuto conversou com Cícero Domingos e o vice-presidente, Antônio Torres que definiram a situação no meio rural como "péssima".

Segundo Cícero, nos anos 80, havia cerca de 200 mil trabalhadores rurais no período de safra, mas esse número diminuiu para 50 mil. "Na entressafra – que acontece de março a setembro -, se esse número ficar, é de 50% dos 50 mil", disse. O presidente também contou que todo final de safra é demitido de 25 a 30 mil trabalhadores.

 

Cícero Domingos e Antônio Torres, Fetar

 

Tecnologia: um "prejuízo" aos trabalhadores rurais

Quando as usinas param o corte de cana e com os plantios pequenos, os trabalhadores são demitidos. Mas, para o vice-presidente da Fetar, a tecnologia também "prejudicou" os trabalhadores e tirou emprego de alguns deles.

"A tecnologia chegou ao campo. Hoje, há cerca de 60 máquinas em Alagoas e essas 60 máquinas tiram o emprego de 200 trabalhadores porque a máquina trabalha três turnos", destacou Antônio.

Segundo a Fetar, eles perdem por ano, 5 mil trabalhadores.

Falta mulher no campo

De acordo com o vice-presidente, se for feita uma comparação do passado com o tempo atual, o campo passou por uma mudança significativa. Antônio afirmou que falta mulher e jovens no campo.

"Hoje você tem o trabalhador que corta cana com a faixa etária entre 20 e 50 anos. Não há mais o público que é o mais jovem. A mulher não existe no campo e não produz igual ao homem", disse o vice-presidente.

Antônio falou à reportagem em Alagoas há 500 mulheres no campo, representando 1% dos 50 mil trabalhadores. "Antigamente, tínhamos pelo menos 30% de mulheres. Hoje em dia, por exemplo, as mulheres não estão ligadas diretamente ao serviço do campo, elas estão lavando as roupas, ajudando nos refeitórios, na escola rural, mas não no corte de cana", informou.

Para eles, as usinas de antigamente possuíam uma produtividade melhor quando comparadas com a atual situação. "O trabalhador de 10 anos atrás cortava 3 ou 4 toneladas de cana. Agora hoje, se ele não garantir de 8 pra frente, não tem emprego".

O trabalhador que tem a carteira assinada recebe o piso de R$ 990,00. Entretanto, dependendo da produção dele, ele pode receber até dois salários.

Usinas em AL

Há 30 anos, segundo a Fetag, o Estado de Alagoas contava com 37 usinas, mas atualmente são 16 usinas que continuam moendo e funcionando.

"A partir do momento que a matéria prima do campo diminuiu, as usinas não funcionaram mais. Então, elas juntam com duas ou três pra moerem em uma só", explicou Domingos.

Algumas usinas deram entrada na Justiça para recuperação judicial e o prazo é de 90 ou 120 dias para que seja aprovado. Após aprovado, o juiz faz o plano de recuperação para saber como vai pagar os trabalhadores demitidos. "Em alguns casos, os trabalhadores nem chegam a receber", disse o presidente.

Usinas falidas

João de Deus, Guaxuma, Agriza, Serrano, Peixe, Bititinga 1 e 2, São Simião e Laginha. Estas são algumas das usinas falidas. A Laginha, uma das mais famosas, cinco anos após decretada a falência, os débitos trabalhistas da massa devem ser pagos nos próximos dias. A época, o cálculo feito apontava que os débitos chegavam a R$ 220 milhões. Ao todo, são 16 usinas falidas.

Das 23 usinas que funcionam em Alagoas, 11 estão em recuperação judicial. "Eles estão querendo prazo para pagar o que devem e eles tem até 10 anos para pagar", confirmou o presidente da Fetar.

Para o presidente, o cenário para o trabalhador rural é considerado "péssimo" e o fornecedor de cana em Alagoas está escasso. "Tivemos uma reunião com o governador Renan Filho para buscarmos uma saída. Tinha um fundo garantidor que estava vindo pra Alagoas de mais de R$ 1 bilhão para reativar a moagem do Estado", explicou.

"O Governo está se mobilizando para ver onde vai arrumar esse recurso para crescer o fornecedor de cana. A proposta é de a pessoa que tenha a propriedade precisa fazer irrigação, o açude, viabilizar o cimento e viabilizar o empréstimo do Banco do Nordeste para crescer o fornecedor", falou Domingos.

Já para as usinas, a Fetar disse que a saída é "arrumar dinheiro" penhorando terras. "Hoje, as terras de Alagoas custam de R$ 4 a 5 milhões de reais. O governador junto com o empresariado está vendo isso porque se subirmos para 20 toneladas de cana, aumentamos o número dos trabalhadores para 80 mil".

Se daqui pra 2020, o Governo viabilizar o recurso para as usinas e uma linha de crédito para os fornecedores de cana, o desemprego vai cair.

"Vivemos um caos social no campo. Se eles voltarem a cortar cana, você volta a empregar os trabalhadores, inclusive dá a oportunidade do primeiro emprego aos jovens", disse Antônio.

Caso não, segundo o vice-presidente, os trabalhadores vão continuar migrando para o Mato Grosso, Góias, para buscarem emprego. "Em Campo Alegre, por exemplo, os trabalhadores de lá estão indo para Mato Grosso e passam três meses lá, durante esse tempo, eles ganham na faixa de R$ 5 mil, mas pagam passagem de ida/volta, alimentação e voltam sem nada", finalizou Antônio.