Qual é meu lugar de fala?

02/03/2018 14:35 - Blog parada Sinistra com Renata Santos
Por Renata Santos
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Ao refletir sobre o que escrever nesse meu primeiro post, me deparei com um sentimento que há muito tempo não sentia e que na realidade pensei que. dificilmente sentiria novamente. O  medo de ser julgada pel@ outr@, de estar ocupando um lugar que não me pertence.

Lembro que a primeira vez que me senti assim foi aos 15 anos, quando ingressei no curso técnico em Contabilidade do principal colégio público da minha cidade no interior de São Paulo.

O ingresso no colégio era por meio de Vestibulinho e lá só estudava a nata da  sociedade. Recordo  que quando vi o filho do prefeito na minha turma me perguntei: o que eu estou fazendo aqui? E olha que naquela época eu nem mesmo reconhecia minha condição de negra, mulher e pobre.

De lá pra cá, esse sentimento me assombrou em muitos momentos, mas, ao longo da minha vida adulta, os caminhos trilhados, as leituras devoradas, a militância vivida, as histórias cruzadas e o empoderamento conquistado me fizeram esquecê-lo, até agora. Agora, como no passado, tive vontade de desistir, desistir de escrever e seguir com minha vida no modo automático, mas eis que, minha amiga Arísia Barros tão inspiradora, levou-me, em um impulso, a propor a escrita no Parada Sinistra. Deu-me coragem  para  enfrentar esse desafio.

Agora, você que está lendo deve está se questionando: Por que diabos ela decidiu falar sobre esse sentimento nesse primeiro post? E a resposta é simples. É porque em minhas reflexões cheguei à conclusão de que esse sentimento de desconforto, em lugares que aparentemente não são nossos  é algo construído, coletivamente, no imaginário social e que em algum momento, atinge, todas as mulheres, seja na hora  de se colocar numa reunião de trabalho, de discordar do companheiro em algum ponto na criação do filho ou de expressar sua opinião publicamente num blog.

E eu não poderia deixar escapar essa oportunidade de partilhar idéias nesse espaço que também será dedicado a isso. Desta forma, esse é o meu primeiro passo para iniciar mais um processo de desconstrução dentro de mim, para além do âmbito profissional.

É isso. Estou aqui para falar sobre essa Parada Sinistra que é SER MULHER, em todas as suas dimensões: angústias, fraquezas, tristezas, felicidades, ambições, reivindicações e tudo o mais que nos é de direito. Tudo que venha  contribuir com o debate.

E pegando o gancho do post anterior de Arísia: Se esse é meu lugar de fala? Não sei.

 Só sei que aquele sentimento não está mais aqui e eu estou disposta a dialogar com vocês.

E para você que dedicou alguns minutos para ler esse texto eu te pergunto, você já se perguntou qual é o seu lugar de fala?

Eu sou Renata dos Santos, paulista de nascimento, carioca de coração e apaixonada por Alagoas...

Nota:

Parada Sinistra: Gíria Carioca que significa algo positivo mas que pode apresentar dificuldade.

 

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