Genaldo, Reinaldo, Everson, Mary Montilla, Carla, Júnior, Luma, Sérgio, Jonas, Wellington. Nomes e histórias diferentes, mas que tiveram o mesmo final. Eles são 10 dos 23 crimes contra a vida da população LGBT (Gays,  Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) em 2017 em Alagoas. Os dados do Grupo Gay de Alagoas (GGAL) são computados por mortes que estão supostamente ligadas à homofobia.

Alguns casos foram desvendados e solucionados pela polícia. Outros parecem que foram esquecidos pela sociedade, mas não pela família que clama por Justiça, como é o caso da família de Ednaldo Araújo da Silva, 40 anos.

Luma, como era conhecida, foi morta na madrugada dia 21 de julho de 2017. Ela foi assassinada a tiros na praça Raul Ramos, no bairro do Poço, em Maceió. Até hoje o assassino permanece impune.

A irmã de Luma, Edilma Araújo, de 47 anos, disse à reportagem do Cada Minuto que o maior desejo dela é que a polícia consiga desvendar o mistério que atormenta a todos há sete meses.    

“No dia que Luma morreu fui chamada para identificar o corpo. Prestei depoimento na delegacia e tinha pedido aos policiais que puxassem as câmeras que havia no local, eles garantiram que fariam isso, mas nunca fizeram”, contou.

Edilma disse que procurou a Ordem dos  Advogados do Brasil (OAB) de Alagoas e que foi, juntamente com membros dos Direitos Humanos, para a delegacia. “Eles me ajudaram, me deram apoio, mas a polícia até hoje não descobriu quem matou meu irmão. O meu sonho é que o assassino pague pelo que fez, o meu irmão era uma pessoa do bem”, afirmou.

Para a irmã de Luma, o motivo do crime foi a homofobia. “Tenho certeza que mataram porque ela era travesti. Descobrem outros crimes, menos o dela”, desabafou.

Números assustam

Segundo dados do GGAL, 23 LGBTs foram mortos em 2017. Em 2016 foram 21 assassinados e em 2015, 23 casos. No Brasil, em 2017, foram 444 mortes.

Dos 23 casos registrados em Alagoas em 2017, 11 deles foram no interior e 6 foram contra travestis.  Conforme o Grupo Gay da Bahia, Alagoas é o quinto estado do país que mais mata gays e o terceiro da região Nordeste. 

Casos solucionados

Segundo o presidente do GGAL, Nildo Correia, ainda não há dados oficiais de quantos casos foram solucionados. Entretanto, três deles foram marcantes e os assassinos, presos.

Carla Viana, de 20 anos, foi assassinada a facadas por quatro adolescentes, um deles de apenas 13 anos. Segundo o delegado Eduardo Mero, a motivação teria sido a guerra de facção no bairro do Clima Bom. Entretanto, segundo o delegado, Carla não fazia parte de nenhuma facção.

Mary Montilla, de 26 anos, também foi alvo de criminosos no dia 2 de agosto. Mary foi assassinada por golpes de faca no pescoço. Os bandidos foram presos, mas as motivações não foram reveladas.

Wellington Felipe dos Santos, de 21 anos, foi encontrado morto em uma cova rasa no povoado Massagueira. Quatro suspeitos foram presos e um deles alegou ter matado por causa do comportamento sexual da vítima.

Casos não solucionados

Nildo disse que alguns casos não foram solucionados e garantiu que a grande maioria permanece impune.  "Infelizmente, a impunidade acaba contribuindo para que os números aumente. As mortes estão ligadas à homofobia", disse o presidente do GGAL.

Para Nildo, o GGAL segue em luta para que os casos diminuam, mas diz que grande parte do poder público não se interessa em ajudar. "Com isso, ficamos dando murro em ponta de faca".

Com o caso de Reinaldo, que foi morto em dezembro, Nildo Correia informou que o movimento vai até o delegado responsável ainda essa semana para cobrar celeridade.

Além disto, o movimento da Secretaria de Segurança Pública (SSP) a reativação do grupo de trabalho que era responsável pelo monitoramento de assassinatos e agressões físicas e morais aos LGBT. O grupo está desativado desde o começo da nova gestão da secretaria.

“O objetivo do grupo era também de acompanhar e assessorar a SSP com implantações de políticas inclusivas e prevenção a violência aos gays. Não existem medidas de prevenção à segurança para nós”, disse o presidente.

O que diz a SSP?

Em nota, a SSP não deu uma previsão de retorno do grupo de trabalho, mas disse que acompanha todas as mortes ocorridas em Alagoas, independente de faixa etária, gênero ou raça. 

Segundo a SSP, todos os casos são investigados pela Polícia Civil, que trabalha para elucidar, apontar a motivação de tais crimes e prender os autores. 

Ainda conforme a SSP, as estratégias da SSP visam combater o crime de forma macro para evitar que outros casos ocorram e que vidas sejam perdidas.

OAB cobra soluções

O presidente da Comissão de Defesa Social da OAB, Alberto Ferreira, disse que o ano de 2017 foi o ano de diversas reuniões com o GGAL e o Conselho Estadual e Municipal LGBT. Segundo ele, a comissão da OAB participou de vários movimentos contra a discriminação e tem buscado junto à SSP colher informações sobre os assassinatos em Alagoas.

"Alguns foram desvendados, outros não. Então a OAB tem estado atenta às situações. Temos tido preocupações com palestras educativas que faz com que a comunidade se fortaleça na sua caminhada e entenda seus direitos e deveres. A OAB participa ativamente da vida dos LGBTs do estado", garantiu o presidente da Comissão.