Por Leonardo Bastos
São tempos de super-herói no cinema, muito super-herói! Não é uma novidade, mas nunca se viu tantos personagens com superpoderes em Hollywood como hoje. Desde que a Marvel iniciou seu universo expandido nas telonas em Homem de Ferro (Jon Favreau, 2008), a produção desse chamado “subgênero” chega a gerar atualmente quatro ou cinco longas por ano, responsáveis pela maior parte das bilheterias mundo afora. O último exemplar entrou em cartaz nos últimos dias, A Liga da Justiça (Zack Snyder, 2017), e arrecadou mais de R$ 14 milhões em sua estreia nos cinemas brasileiros. Quando essa tendência vai encher o saco? Não sei, mas muita água ainda vai rolar. Dos trabalhos protagonizados por essa galera que usa trajes especiais e possui super-poderes, listo aqui cinco títulos que considero indispensáveis.
5. Watchmen – O Filme (Watchmen, Zack Snyder, 2009)
Adaptação de uma graphic novel de grande prestígio até mesmo na crítica literária, Watchmen chegou aos cinemas metralhado de comparações com o material original. É muito mal recebido até hoje, o que acho extremamente injusto. Com uma narrativa densa e complexa que é raríssima num tipo de cinema que frequentemente subestima a inteligência do público, é o único trabalho de Zack Snyder que julgo à altura da habitual pretensão que encontramos na filmografia do diretor. O apuro estético de Snyder está em total coesão com o espírito da obra – nem o slow motion incomoda aqui. Apresentando personagens vivenciando as paranóias deixadas pela Guerra Fria e defrontando questões existenciais, não vá ver Watchmen esperando algo mastigável e genérico, pois vai deixar de apreciar uma projeção visceral, ácida e de personalidade.

4. Corpo Fechado (Unbreakable, M. Night Shyamalan, 2001)
Não há explosões, porradaria, armaduras, martelos encantados, capas e um orçamento estratosférico de CGI em Corpo Fechado, mas ainda assim a sensação de ameaça de colapso é constante em sua narrativa. M. Night Shyamalan (quando ainda prometia ser um dos grandes cineastas do século 21) fez uma obra de inquietação e expectativas, aplicando uma direção que faz com que as possibilidades oníricas do mundo que retrata surjam no imaginário do espectador. Jamais o “sugira, não mostre” foi tão forte em uma história sobre pessoas lidando com superpoderes. Trata-se de uma obra que quebrou a barreira ação/aventura para experimentar o suspense no subgênero. Bruce Willys e Samuel L Jackson estão em grandes momentos aqui.

3. Logan (Logan, James Mangold, 2017)
Sou fascinado pela franquia X-Men, riquíssima em alegorias sobre intolerância que se encaixam tragicamente em nossa realidade contemporânea. Logan é meu predileto deste universo justamente por ir ainda além dos ambiciosos conceitos explorados e focar nas sequelas que o decorrer dos anos de ódio e perdas deixou nos personagens. A imortalidade se revela mais do que nunca um fardo para Logan. É um filme sobre heróis esgotados e que se mantêm vivos somente pelo instinto de sobrevivência. E, acreditem, nunca imaginei que que existiria um filme que fosse capaz de me fazer desejar a morte de um herói que cresci acompanhando.

2. O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, Christopher Nolan, 2008)
Discordo totalmente quando mencionam O Cavaleiro das Trevas como o filme precursor do tom sombrio no cinema de super-herói, já que esse mérito é de Bryan Singer ao trazer em X-Men (2000) uma seriedade nunca antes vista em traduções cinematográficas de HQs. Mas é incontestável que Christopher Nolan deixou sua marca autoral na história da sétima arte com esta obra-prima que incorpora uma áurea quase noir e desenvolve uma atmosfera tão desprovida de qualquer luz e esperança quanto a fotografia concebida por Wally Pfister. Tendo em vista que uma das grandes fragilidades que encontro no subgênero é a figura do vilão, fico pensando se ainda veremos uma composição tão enigmática, esquizofrênica e marcante como a de Heath Ledger como Coringa.

1. Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, Sam Raimi, 2004);
Peter Parker não foi apenas um dos personagens que me apresentou ao universo dos heróis, mas à magia e o poder de identificação do cinema como todo. Muito mais do que um filme sobre um garoto que tem habilidades de aracnídeo e enfrenta vilões com aparência de duendes e moluscos, Homem-Aranha sempre foi a trajetória de um protagonista que lida com a transição da adolescência para a vida adulta e, com ela, todos os problemas e dilemas derivados. Elevando esse conceito ao ápice nesta continuação, Sam Raimi conduziu uma aventura com um equilíbrio de drama, comédia e ação, talvez, jamais alcançado novamente com tamanha perfeição em outros trabalhos do subgênero.
