Há exatos 25 anos, no dia 02 de outubro de 1992, a população brasileira ficou pasma com a maior chacina já registrada por Policiais Militares dentro de uma casa de detenção, em São Paulo: o massacre do Carandiru. Ao todo, foram 111 presos mortos, 156 pessoas feridas entre militares e detentos e ninguém julgado até hoje.
Na época, a Casa de Detenção de São Paulo, que era mais conhecida como Carandiru, localizado na zona norte da Capital, estava em um momento tenso de rebelião após dois detentos (Barba e Coelho) começarem a brigar dentro do pavilhão durante uma partida de futebol. Logo, os presos se dividiram em dois grupos rivais e a briga se espalha pelos andares.
Às 14h, a rebelião já está instalada e todos os carcereiros abandonam o local. Há fogo do lado de dentro, mas não há reivindicações por parte dos presos. Cerca de 320 policiais de batalhões de elite como Rota, Gate, 30 Choque e Cavalaria, além de alguns bombeiros, estacionam fora do pavilhão 9. O diretor do presídio, Ismael Pedrosa, tenta uma última negociação.
No entanto, às 16h30, a polícia rompe a barricada e entra no pavilhão. O coronel Ubiratan, responsável pela operação, diz que 86 homens participaram da operação. A promotoria diz que eram mais de 300, a maioria sem os crachás de identificação.
Ubiratan logo fica de fora da operação após alegar que ele foi atingido por uma explosão ao tentar subir para o décimo andar e levado ao hospital. No primeiro andar, policiais encontram nova barricada com um preso morto pendurado de cabeça para baixo. No total, 26 homens teriam sido assassinados neste piso, segundo a perícia.

Versões
Na versão dos presos, todos já haviam se rendido totalmente desarmado dentro das celas, porém os militares teriam atirado contra os detentos em regiões do tórax e da cabeça, indicando uma possibilidade de extermínio, segundo laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo.
Já a polícia diz que centenas de presos preparam uma tocaia. Militares teriam sido recebidos com estiletes sujos de sangue contaminado, facadas, sacos cheios de fezes e urina e tiros, sendo necessária a reação.
Às 18h, policiais mandam os presos tirarem a roupa e descerem para o pátio interno. Grupos de direitos humanos alegam que muitos foram executados durante essa operação. A rebelião está “controlada”.
Por fim, presos são escalados para carregar os corpos até o 1º andar, onde são empilhados, modificando o cenário do episódio e dificultando as conclusões da perícia.

Impunidade
Mesmo com todo o massacre realizado no Carandiru, ninguém foi punido até hoje. Em 2013, durante plenário do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, 23 dos 26 policiais militares acusados pela morte de 13 detentos que estavam no segundo pavimento do pavilhão 9 foram condenados a 156 anos de prisão em regime fechado.
Meses depois, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo leu a sentença de 624 anos de prisão a 25 réus policiais militares, dentre eles o coronel Ubiratan, que foram acusados de participação no massacre, especificamente na participação direta na morte de 52 detentos instalados no terceiro pavimento do pavilhão 9. O coronel foi assassinado a tiros em 2006 enquanto jantava em seu apartamento.
Em 2016, o Tribunal de Justiça anulou, nem segunda instância, os cinco júris do caso, ocorridos no Fórum da Barra Funda, que condenaram 74 agentes da Polícia Militar (PM) pelos assassinatos de 77 presos (os outros 34 presos teriam sido mortos pelos próprios colegas de celas), sendo mantido ainda em abril deste ano pelo mesmo tribunal.
Recentemente, a Justiça de São Paulo suspendeu a realização dos novos júris do massacre da Casa de Detenção do Carandiru até que recursos especiais do Ministério Público (MP) e das defesas dos policiais militares acusados de matar presos em 1992 sejam julgados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.

Números
Durante a operação, foram 111 presos mortos ao total (A polícia falou em oito após o massacre e ex-detentos insistem em mais de 200); 103 vítimas de disparos de arma de fogo, 8 vítimas de objetos cortantes; 130 detentos e 23 policias feridos; nenhum militar morto e 515 tiros disparados, segundo laudo pericial.
Até o momento foram 120 policiais indiciados, sendo 86 policiais julgados a 632 anos de prisão, mas revogadas até o momento.
*Estagiário