Não é muito difícil encontrar alguém que passe um tempão no telefone esperando para poder falar com a central de atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Além do alto número de ocorrências, existem os trotes que acabam congestionando as linhas e “roubando” a vez de alguém que esteja passando por um problema real. Pensando em coibir essas práticas, a Assembleia Legislativa Estadual (ALE) aprovou uma lei que pune os engraçadinhos que brincam com coisa séria.
De acordo com a assessoria de comunicação do Samu, a central recebe cerca de 1.200 ligações por dia em todo o estado, sendo que 780 delas – em média – são falsas e apenas 420 são referentes a chamados de casos verdadeiros. Isso representa uma média de 65% de trotes passados ao serviço de saúde em 2017.
Em todo o mês de agosto, das exatas 38.359 ligações que o Samu recebeu, 24.624 foram trotes. Segundo o supervisor-geral do órgão, Dárbio Alvim, esse número já chegou a ser de 80% de trotes e que essa é uma das principais dificuldades do serviço.
A assessoria do Samu informou ainda que a identificação dos trotes algumas vezes é detectada no próprio atendimento pelos Telefonistas Auxiliar de Regulação Médica. “Quando isso acontece, é feito um relatório e encaminhado para a Secretaria de Saúde, lá eles enviam para o Ministério Público para que as autoridades tomem ciência e identifique os responsáveis”.
Pensando nisso, o Samu criou um projeto de conscientização para alertar a população sobre os riscos que um trote pode causar. "Temos o projeto 'Samu nas Escolas', onde praticamente todas as semanas ofertamos palestras para crianças e adolescentes, mostrando o que implica para a sociedade em geral passar um trote. Uma maneira de fazer com que eles tenham a consciência de não fazer esse tipo de coisa" relatou.
Além desse projeto, O Samu busca ampliar a visão da sociedade com relação aos perigos da brincadeira de trotes. Por isso, foi criado neste mês de setembro um outro projeto chamado “Conheça o Samu”, onde são apresentados para a população o importante trabalho dos profissionais. O stand será colocado em pontos estratégicos da capital como, por exemplo, shoppings, além de também chegar a outros municípios.
O Samu explicou ainda que os trotes são divididos em duas categorias pelos telefonistas: os reais e não reais. Os primeiros são as ligações que fazem com que o serviço de saúde envie uma ambulância até o local e somente ao chegar neste, constatar que era um trote. “Isso acontece com muita frequência, infelizmente. Já chegamos a deslocar até helicóptero e duas ambulâncias a um local que nos disseram que tinha acontecido um grave acidente e ao chegarmos lá, não tinha nada", disse.
Punição aos infratores
A lei estadual 7.389/2012, de autoria do deputado Rodrigo Cunha (PSDB), prevê, além da multa, “a penalidade via cobrança na fatura de serviços telefônicos, por despesas decorrentes do acionamento indevido dos serviços telefônicos de atendimento a emergências envolvendo remoções ou resgates, combate a incidências ou ocorrências policiais institui, no âmbito do Estado de Alagoas”.
De acordo com o vereador por Maceió, Francisco Sales (PPL), a câmara municipal também apoia a causa e criou a campanha “Trote Não é Legal”, para inibir esse tipo de crime, que na maioria das vezes, segundo ele, é cometido por crianças que fazem por brincadeira.
“Essa lei visa uma penalidade de seis a um ano de reclusão e o infrator pode pagar uma multa. Mas além de ser muito pouco o valor a ser pago, é um problema que deve ser discutido na educação, pois a maioria desses trotes são feitos por crianças. É por isso que estamos em campanha itinerante para levar essa conscientização pelas escolas e fazer com que as crianças enxerguem que aquela brincadeira pode gerar danos sérios à sociedade” afirmou Sales.
Francisco informou ainda que se reúne frequentemente com conselheiros tutelares e diretores de escolas para que haja um diálogo de conscientização permanente com os alunos, o que deve ajudar e muito na diminuição das chamadas falsas.
Apesar de já existir uma lei para coibir os trotes criada há 5 anos, é muito difícil para o estado ter um mecanismo para encontrar com eficácia os responsáveis. Francisco acredita que o governo pode investir mais em tecnologia e comunicação para buscar reduzir esse crime tão comum.
“É melhor que tenhamos menos viaturas nas ruas, mas que tenham uma melhor comunicação entre elas do que ter várias guarnições e pouquíssima comunicação. Pois o diálogo acaba fortalecendo ainda mais o sistema de segurança e isso ajuda a inibir a ação das pessoas que cometem não só esse tipo de crime, mas como qualquer um outro” disse.
Francisco lamentou os números alarmantes dos trotes informados pelo Samu e pede para que a população cobre mais do poder público uma solução para esse problema, que apesar de silencioso, prejudica muito a sociedade.
"Esse é um problema muito sério, mas que infelizmente a sociedade não se atenta tanto para isso. É um tipo de coisa que nem deveria existir. Precisamos de investimentos para inibir isso. A população quer ter acesso aos serviços de saúde e esses trotes acabam atrapalhando e muito. Não podemos deixar que pessoas morram por um motivo tão banal" finalizou.
*estagiários