A deficiência nada mais é do que o não funcionamento total ou de parte de algo. Quando isto acontece nos seres humanos, o caso é bem mais grave. Seja a deficiência física, auditiva, visual, mental e dentre tantas outras que observamos no dia-a-dia, a vida de quem convive com este mal não é fácil. Na última sexta-feira, 22, foi o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência e, pensando nisso, a reportagem do CadaMinuto ouviu as histórias e indagações algumas pessoas que são e fazem parte de uma corrente que luta pelos direitos e pela inclusão.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), em pesquisa realizada no Censo de 2010, 859.515 pessoas possuem algum tipo de deficiência em Alagoas, sendo 536.248 visuais, 146.056 auditivas, 173.545 motoras e 59.954 com deficiência intelectual. O número é expressivo se tratando de um Estado que possui quase três milhões e meio de habitantes.

A Roseana Alves, de 44 anos, é uma dessas pessoas. Cadeirante, ela possuiu a deficiência física aos seis meses de idade e hoje faz parte de um grupo especializado no atendimento à pessoa com incapacidade: a Associação dos Deficientes físicos de Alagoas (Adefal), referência no tratamento para portadores de necessidades especiais em geral. “Eu considero a Adefal como minha segunda casa. Foi lá que aprendi a me aceitar e ver que minha deficiência não é uma doença a partir do trabalho que é realizado lá”, disse.

A instituição é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos com sede em Maceió e tem como finalidade a defesa dos interesses das pessoas com deficiência. Iniciou-se com o grupo Fraternidade Cristã dos Deficientes (FCD) da Igreja de Nossa Senhora Carmo (Igreja do Salgadinho) que se reunia com certa frequência na sacristia da igreja e já buscava, desde 1980, alternativas para a valorização e os direitos das pessoas com deficiência.

O presidente da Adefal, João Ferreira, que também é deficiente e anda de muletas, realizou um evento para chamar a atenção do público em uma área do Parque Shopping Maceió, na quinta-feira, 21. De acordo com ele, é necessário este tipo de solenidade como uma forma e buscar direitos. “A gente vem na luta há muitos anos e encontramos muitas barreiras arquitetônicas, pois nós temos os passeios públicos inadequados para as pessoas com deficiência, inacessibilidade a prédios para pessoas com deficiência, além de contar com os transportes públicos inadequados”, explicou João.

 

Não é só isso

O problema não só se concentra nas ruas, nos transportes públicos ou nos prédios inacessíveis. Para a também cadeirante Rubislanda Costa, de 55 anos e que é deficiente desde os 11, até para fazer uma visita nas praias fica difícil. “É complicado encontrar um banheiro na praia. Já é difícil para as pessoas que não tem algum tipo de deficiência, imagina para nós. Às vezes nem vou ver o mar devido a isso”, lamentou Rubislanda.

Ela também é uma associada da Adefal e realiza todos os tratamentos necessários na instituição para viver bem, porém o problema vai além das necessidades especiais. “Eu nunca sonhei em ter uma cadeira de rodas motorizada e hoje tenho.  Nós não temos condições de comprar uma motorizada e nem o SUS disponibiliza, e até muitas vezes eles não dão uma normal”, reclamou.

Uma portaria de número 1.272, de 25 de junho de 2013, do Ministério da Saúde, dá direito a qualquer cidadão, independentemente de classe ou renda, que ele possua direito a uma cadeira de roda gratuita através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Roseana endossou o comentário de Rubislanda e do presidente João Ferreira ao criticar a falta de áreas de lazer preparadas para portadores de necessidades especiais. “Essas áreas não são preparadas para nos receber. Além disso, andar de cadeira de rodas na via pública é complicado devido aos buracos e os altos e baixos das calçadas, muitas vezes tendo que competir o espaço com os carros na rua”, enfatizou.

Acessibilidade

Nesta semana, a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), da prefeitura de Maceió, realizou um circuito com o tema “Deficiente é o seu Preconceito”, no calçadão do comércio, no Centro de Maceió. O evento teve a presença de entidades ligadas à deficiência, além da realização de testes de glicemia, aferição de pressão, massagem corporal, arte-terapia, oficina de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e orientações sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Semds) para saber se há mais projetos e eventos como este para os próximos meses da gestão, mas até o momento não obtivemos resposta.

Enquanto isso, Roseana acredita em dias melhores para os portadores de deficiência física. “Ainda tenho muita esperança que um dia possamos nos sentir realizados diante da sociedade com relação a nossos direitos, além do conhecimento em geral de que todo mundo tem seu espaço, não importa se anda de muletas, ou cadeira de rodas que seremos excluídos. Cada um tem uma forma de andar e essa foi a que a gente adquiriu”, concluiu.

Prevenção

Em 2011, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite, com o objetivo de implementar e fiscalizar a efetivação das políticas públicas nos quatro eixos: Educação, Acessibilidade, Inclusão Social e Saúde.

Com isso, o Governo Federal visa ampliar o acesso e qualificar o atendimento às pessoas com deficiência no SUS com ênfase na organização de Rede e na organização integral à Saúde e, portanto, foram criadas as portarias GM nº793 de 24 de abril de 2012 e 835 de 25 de abril de 2012, que instituem a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência.

A população também deve fazer sua parte através de simples exames e cuidados primários da saúde como a puericultura, pré-natal e pós-natal, vacinação contra doenças transmissíveis, medidas contra doenças endêmicas, aconselhamento genético, normas e programas de segurança para evitar deficiências de doenças profissionais.

*Estagiário