Há quem diga que rir é o melhor remédio e essa medicação sem contra-indicação é distribuída em doses nada homeopáticas pelos componentes do projeto extensionista Sorriso de Plantão. O material de trabalho, além do conhecimento acadêmico é um sorriso no rosto e o desafio de levar alegria e descontração às crianças internadas nas pediatrias dos hospitais públicos da capital.

A reportagem do CadaMinuto mostra um pouco quem são e o que move alguns dos “especialistas” na terapia do riso que, em seus conceitos mais gerais, pensa o indivíduo que está acometido por uma doença ou na condição de paciente à espera por um tratamento ou diagnóstico, como um ser que vê no sorriso algo que pode colaborar em sua recuperação.

Para a professora e coordenadora do Projeto de Extensão Sorriso de Plantão, Maria Rosa da Silva, “o ato de sorrir como um recurso que compõe o tratamento de um paciente é algo mais complexo do que aparenta, uma vez que o ambiente hospitalar não é um lugar em que enxergamos, a um primeiro olhar, objetos ou situações que podem ser encaminhadas para o plano do risível”.

“Há mais de 15 anos utilizamos a figura do palhaço doutor com o intuito de colaborar não somente com a recuperação de crianças hospitalizadas, mas também interagir com acompanhantes e funcionários dos hospitais”, explicou a coordenadora, acrescentando que o Sorriso de Plantão, projeto de extensão da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em colaboração com a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), utiliza a terapia do riso para amenizar o processo de dor e sofrimento causado pela internação hospitalar.

 

Professora e coordenadora do Projeto de Extensão Sorriso de Plantão, Maria Rosa da Silva (Foto: Cortesia)

 

A equipe do Sorriso de Plantão atua todos os sábados, no turno da tarde, em cinco hospitais de Maceió: Hospital Universitário Professor Alberto Nunes (HUPAA), Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), Hospital Geral do Estado (HGE), Santa Casa de Misericórdia (Unidade Farol) e Clínica Infantil Daisy Breda.

“Não tem preço”

A estudante de fisioterapia da Uncisal, Joyceane Alves de Oliveira comenta que conheceu o projeto por meio de uma amiga de turma (que atualmente é ex-integrante) que comentava o quanto era prazeroso e instigante atuar no Sorriso de Plantão. “Ingressei no grupo e garanto que a sensação é indescritível, não tem preço”, afirmou a estudante.

Ao falar sobre as atividades Joyceane afirma que “dar um plantão vai muito além de colocar uma roupa caracterizada e um nariz vermelho, a partir do momento que batem às 14h do sábado é a ‘Fabulare’ que entra em ação, esqueço a minha idade, meus problemas, e tenho um único objetivo, arrancar sorrisos desses seres tão pequenos e amáveis. Quando o trem passa, e as crianças vêm atrás para brincar conosco é uma energia de outro mundo, é sobrenatural”.

A alegria da turma do Sorriso de Plantão também é distribuída e pensada não só para os pequenos acamados, mas também para os pais que acompanham os filhos em situações bastante delicadas.  Mas a melhor recompensa para a estudante da Uncisal é “a sensação de ouvir ‘obrigada por fazer meu filho sorrir’, ‘vocês salvaram nosso sábado’, ‘queria que viessem todos os dias’ e tantas outras frases positivas que nos fazem perceber o quanto é grandioso o pouco que fazemos, o quanto uma música, um sorriso, um abraço e alguns brinquedos fazem diferença”, declarou ela.

 

Joyceane se transforma na Dra. Fabulare (Foto: Cortesia)

 

“Ser palhaço doutor é realmente um sopro de vida no coração de alguém, e com toda certeza o Sorriso vai muito além do plantão. Não tem como explicar a sensação, apenas sentir. É preciso viver ao menos uma vez na vida para saber e entender o que estou tentando descrever. E quando se entra, se cria um laço, um vínculo do qual não é nada fácil se desprender. É uma sensação que desejo que todos possam sentir”, declarou Joyceane.

“O Sorriso me mudou”

Com uma imensa vontade de levar alegria às pessoas, Paula Gabrielle de Almeida, estudante de enfermagem da Ufal revela que muitas vezes viu pacientes que necessitavam apenas de um pouquinho de atenção, uma conversa ou um conforto. Já “ao entrar no Sorriso de Plantão pude perceber o ambiente hospitalar em outra perspectiva, a de Palhaço Doutor, o que me permitiu ter outro tipo de vínculo com os pacientes e descobrir maneiras de aliviar a dor, não negando o problema de saúde, mas sendo capaz de poder fazer com que aquela criança se sinta um pouco melhor”.

A doação não é só do tempo ou do conhecimento de cada um dos integrantes do Sorriso de Plantão, mas principalmente de emoção assim descreve Gabrielle ao relatar que “o Sorriso me mudou não só como futura enfermeira, mas como pessoa, porque ele mostra o lado mais humano da gente”.

Com emoções à flor da pele e demonstrações diárias de gratidão por parte dos pequenos pacientes, familiares e servidores dos hospitais onde o Sorriso de Plantão desenvolve as atividades, a futura enfermeira disse que “a gratificação é o sorriso que a gente recebe e ouvir uma frase como: eu estava triste hoje, vocês vieram e me trouxeram alegria”.

Integrantes e seleção

Durante os quinze anos de existência do Sorriso de Plantão já passaram mais de mil estudantes pelo projeto. Hoje o grupo conta com 105 integrantes, sendo dois professores e 103 universitários da Ufal e Uncisal, em sua maioria, e alguns estudantes de universidades particulares.

As ações são desenvolvidas todos os sábados, horário das 14h às 17h.

 

Tratamento vai além da medicina em si, vem também do amor (Foto: Gabriela Pessoa)

 

Os palhaços doutores, após a aprovação em um processo seletivo composto por prova teórica e testes práticos, são submetidos a um processo de capacitação que objetiva fornecer subsídios para que os novos integrantes se formem como disseminadores de sorrisos. Os membros são capacitados para melhor compreender que a brincadeira não é sinônimo de barulho extremo, pois o riso, no ambiente hospitalar, muitas vezes é encontrado através de um olhar, de escutar uma mãe que precisa desabafar ou em pequenos gestos de carinho.

Brincar com uma criança hospitalizada requer muito mais do que vontade de fazer o bem, visto que é preciso estudar as formas de interagir com crianças de diferentes patologias e diagnósticos, respeitando os limites dos pequenos pacientes e o espaço de trabalho. No final das contas, pelos relatos dos palhaços doutores, eles não apenas levam um pouco de alegria nos hospitais, como também saem deles mais felizes e humanos.