Li, nas entrevistas concedidas à imprensa, que o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), rebateu a reportagem do Fantástico (Rede Globo) sobre a situação da Secretaria de Saúde do Estado de Alagoas. Primeiro ponto: poderia ter “rebatido” antes, pois a reportagem do Fantástico não apresentou novidades, mas sim mostrou o que a imprensa local já havia mostrado em rede nacional, expondo ainda mais o seu governo.
Com todo respeito ao governador, que tem sim acertado em muitas áreas, como Segurança e Fazenda, suas respostas deixaram a dever e confundiram alhos com bugalhos.
O governador, portanto, poderia ter usado de entrevistas antes para colocar os “pingos nos is” da forma mais detalhada. Afinal, as denúncias de fracionamento de compras, do não pagamento a fornecedores, de ambulâncias paradas, além de compras questionáveis já haviam sido feitas antes, tanto no parlamento estadual, quanto em muitas reportagens. Alguns desses questionamentos foram feitos, por exemplo, antes mesmo da Operação Correlatos da Polícia Federal.
O deputado estadual Bruno Toledo (PROS) já havia encaminhado para o secretário Cristhian Teixeira uma série de questionamentos sobre o assunto. E outra: se há o abastecimento hoje no Hospital Geral do Estado (HGE), como já divulgou o governo do Estado, e Renan Filho voltou a tocar no assunto, é uma resposta e não uma constante. É só buscar as matérias jornalísticas antigas para perceber que a falta de insumos e medicamos existiam, bem como o problema com os fornecedores.
E antes que acusem: sim, eu presto consultoria ao parlamentar. E isso é público. O que coloco aqui é um fato. Os questionamentos feitos por ele foram encaminhados antes da Operação.
Agora, é sim função do governo buscar a solução e garantir os atendimentos no HGE, bem como em toda a rede. Simples assim. Se isto for feito, o governo age certo buscando corrigir seus erros.
Mas, um ponto da entrevista de Renan Filho - conforme as declarações concedidas à imprensa - chama atenção. Trata-se da compra de matérias para a sede da Secretaria com preços no mínimo questionáveis. Entre eles, o Fantástico mostrou a compra de uma cortina para o gabinete da Secretaria ao custo de R$ 29 mil.
Renan Filho diz que “esses R$ 29 mil da persiana não representam 0,1% da despesa”. Bem, não interessa. É que os “R$ 29 mil” não são citados em função unicamente da cifra, mas sim das prioridades. Afinal, não deve ser a única compra questionável com recursos que poderiam ser melhor empregados em outras áreas. O que se questiona é justamente as prioridades da pasta e as motivações de seus gastos. Utilizando-se de um exemplo, governador: é como R$ 802 mil em material de construção a partir do empenho 2017NE02494.
São vários pontos do Portal da Transparência que podem ser discutidos. Então, pouco importa a porcentagem disso quando comparado ao gasto global. A questão é: o gasto foi correto? No todo, segundo a reportagem do Fantástico, são quase R$ 180 mil em mobília. Claro que isso é pouco perto do orçamento da pasta. Mas era necessário? Era prioridade? Nesses gastos estão a restauração do gabinete do secretário.
O secretário - na reportagem do Fantástico - defendeu tais gastos como “necessários” e disse que “está andando dentro da legalidade, cobrando os materiais sejam eles quais forem, dentro da legalidade”. Como disse uma senhora ouvida pela Rede Globo, a cobrança existe porque não é de graça, mas sim dinheiro de impostos. É exatamente isso!
Comparar o valor de tais gastos com o orçamento global da pasta não responde a nada. Por essa razão, a entrevista do governador à imprensa, incluindo o CadaMinuto, é muito pouco diante dos esclarecimentos que se pede. Não responde ao cerne da questão.
No mais, que o Executivo apoie o andamento das investigações é a posição mais correta que o governador Renan Filho poderia assumir. Que assim seja e que todas as informações sejam prestadas para que a Correlatos possa avançar em seus detalhes.
Culpa da imprensa
O que ainda espanta é o governador acusar a imprensa de ver a coisa “enviesada” e assim confundir o pensamento do cidadão. Renan Filho, a imprensa cumpre o seu papel, nesse caso, que é o de cobrar explicações ao governo.
Na própria matéria do Fantástico, o secretário Cristhian Teixeira foi ouvido e a ex-secretária não falou porque não quis, ainda assim encaminhou nota.
A questão é que - até esse momento - o governo não conseguiu encaminhar as respostas precisas em relação à Operação Correlatos e outros problemas da Saúde. Tanto é assim que quem fez o questionamento anteriormente não obteve as respostas.
E vejam essa fala do governador dirigida a um repórter:
“Na sala onde você trabalha também tem uma cortina e você nunca perguntou quanto custa. Você deveria perguntar ao seu chefe, que ele vai te falar”.
Sim, governador. Na empresa onde trabalho tem cadeiras, cortinas etc. E eu nunca perguntei quanto elas custaram. Sabe por qual razão, governador? Elas foram pagas pelo empresário com o dinheiro obtido da empresa e não por meio dos impostos colhidos do cidadão. Essa é a diferença.
Se um empresário resolve gastar uma fortuna com os móveis de sua empresa, o problema é dele. Se o governo resolve gastar uma fortuna com os móveis de uma secretaria, o problema é de todos os pagadores de impostos. Essa é a diferença, governador.
E o governador ainda diz: “As organizações em Alagoas têm excelentes prédios para a imprensa trabalhar. A Secretaria de Saúde tem que ser em péssima condição?”. Desde quando excelentes locais para trabalhar são sinônimos de excessivos gastos com o que não é prioridade, ainda mais quando se trata de dinheiro público em uma área onde o “cobertor” parece ser sempre curto.
Sinceramente, governador, as desculpas dadas não respondem aos pontos cruciais do que é levantado.
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