Em seu primeiro discurso em Alagoas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) distribuiu afagos aos anfitriões. De um lado, elogios ao governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB). Do outro, o senador Renan Calheiros (PMDB).
Nada fora da cartilha e/ou distante do esperando. A gafe foi Lula ter errado nome da cidade de Penedo, chamando o município de Toledo. Rapidamente corrigiu o erro no palanque. Em geral, Lula discursou para a militância e buscou este tom que é o de sua “pré-campanha pelo país”. Agora, pelo que se viu no palanque, com dois fortes cabos-eleitorais: Renan Filho e Renan Calheiros.
A semente da aliança PT e PMDB em Alagoas está lançada. Renan Calheiros aposta que a aproximação com Lula pode lhe render bons frutos, apesar da imagem do presidente também sofrer desgastes. É que Calheiros não mira apenas em Lula, mas na ferrenha militância que o cerca. Terá êxito? Aí é com a História.
Lula fez sua parte ao distribuir elogios a Renan Calheiros. Foi acolhido pelos peemedebistas assim como os acolheu.
Quanto ao governador, segundo Lula, Renan Filho estar ao seu lado é um ato de coragem. Prestem atenção na fala: “normalmente, se um governador tiver medo do governo federal ele não virá receber um ex-presidente da República. Portanto, um projeto de independência é muito importante”.
Como Lula diz que isso ocorre “normalmente”, fica a pergunta: eram assim as práticas de seu governo e do governo de sua sucessora Dilma Rousseff (PT) com os governadores? Terá sido um ato falho para mais uma crítica ao presidente Michel Temer (PMDB), insinuando que ele tem trabalhado para que governadores não estejam ao seu lado? Ou então, possivelmente, é algo muito comum no discurso de Lula: o “nós” contra “eles”?
Quem aproveitou o palanque de Lula para atacar Temer foi o senador Renan Calheiros. O peemedebista classificou as gestões do ex-presidente como “do povo, diferentemente do governo de agora”. Calheiros se abraça com Lula por apostar em uma agenda que o beneficie com a militância do PT. Uma forma de refazer a própria imagem para 2018, depois de ter o desgaste que teve - e provavelmente ainda terá - diante dos desdobramentos da Operação Lava Jato.
De um lado, Renan Calheiros aposta na impopularidade de Michel Temer. No outro, acredita que a densidade eleitoral que Lula ainda possui e a militância de esquerda pode lhe dar sombra. Ao falar de Temer, Calheiros lembrou do déficit das contas públicas e de cortes em programas sociais. Fatos - diga-se de passagem - que também ocorreram na gestão de Dilma Rousseff.
Renan Filho retribuiu os afagos. O governador evitou atacar Temer como fez o pai, mas elogiou as gestões de Lula e disse que “Alagoas e o Nordeste eram muito gratos” ao ex-presidente petista. Com os discursos, Renan Calheiros e Renan Filho reconstroem a união com o PT local, que sempre existiu em Alagoas, mas houve uma ruptura no processo de votação do impeachment de Dilma Rousseff.
Lula reconheceu as divergências que teve com Renan Calheiros, mas salientou que na época em que o peemedebista foi presidente do Senado Federal os governos do PT tinham facilidade de aprovar matérias. É, a gente sabe bem disso! O ex-presidente destacou Calheiros como o principal opositor de Temer na luta contra “as reformas” Trabalhista e da Previdência.
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