Sinto-me à vontade para chamar atenção para um ponto na homenagem a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que pretende ser prestada pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), entregando ao ex-presidente o titulo de doutor honoris causa. Sei que a honraria foi proposta em 2012, antes das inúmeras denúncias recentes e da condenação a nove anos e meio de prisão, em sentença proferida por Sérgio Moro. 

Porém, são as circunstâncias que chama atenção. E na política, não há coincidências. O título acabará - caso seja realmente entregue dentro do calendário previsto (mês de Agosto) - por fazer parte de uma agenda de Lula pelo Nordeste. Agenda esta de caráter político-eleitoral, onde o petista - por meio da militância organizada - visa fortalecer seu nome e não ficar fora do “jogo eleitoral”. 

Lula é livre - afinal foi condenado à prisão, mas pode recorrer em liberdade - para viajar pelo país, se reunir com quem queira recebê-lo, participar de eventos políticos, dar entrevistas ou pronunciamentos e - pelas regras do Estado Democrático de Direito - apresentar sua defesa no Tribunal Regional Federal (TRF). Agora, que fique claro: é uma agenda que visa o processo eleitoral de 2018. Que faça isso com os seus recursos, os recursos da militância. Já não basta as regalias cedias a qualquer ex-presidente para assessores e viagens?

Encaixar uma solenidade de entrega de título honoris causa dentro dessa “agenda” será transformar, nesse momento, a Universidade pública, paga com o dinheiro de todos os contribuintes, em palanque eleitoral para um condenado pela Justiça, que é acusado de participar de esquema de corrupção e ter liderado uma quadrilha que institucionalizou um esquema nefasto no país. Queiram ou não, isto acabará ocorrendo. Ainda que - inicialmente - o título tenha sido concedido dentro de outro contexto.

Caberia, no mínimo, o bom-senso. Afinal, é difícil de acreditar que - por cinco anos - o ex-presidente que recebeu diversas homenagens iguais não tenha encontrado “brecha” em sua agenda para vir a Alagoas participar de uma solenidade na Uneal e, agora diante da necessidade de percorrer o Nordeste e participar de evento, a “brecha” surja. 

E ao falar disso não é falar apenas de Lula, mas de qualquer político que esteja sendo acusado de participação em esquemas criminosos - ainda mais se já condenado - e, ao mesmo tempo, visando uma corrida eleitoral. Eu já seria contra se fosse um político com perspectivas eleitorais e buscasse utilizar uma universidade pública como palanque. E aí, pouco me importa se o político é de esquerda, direita, centro etc. Não seria a mesma crítica - apesar de achar errado também - se se tratasse de uma instituição privada. Mas, ainda assim olharia de forma crítica. 

Muitos dirão - como já ocorreu quando eu critiquei nas redes sociais - que “se não fosse um político do PT” eu deixaria passar. Bobagem! E provo que é bobagem tal argumentação. 

Em 2016,  a Câmara Municipal de Maceió organizou uma entrega de título de cidadão honorário de Maceió ao senador Aécio Neves (PSDB). Na época, sequer os escândalos envolvendo Aécio Neves tinham surgido nos noticiários com a força de hoje, mas ele já era citado na Operação Lava Jato. 

Naquele momento, eu me posicionei indagando em que mundo os senhores vereadores da capital alagoana estavam para homenagear, com uma honraria tão significativa, um político que seria investigado por envolvimento no maior escândalo de corrupção o país. Seria prudente aguardar. Colocar o título na gaveta. 

Além disso, questionei o que Neves fez pela capital alagoana para receber tal honraria. Dizia que não é justo ver nenhum desses senhores homenageados dessa forma enquanto não fosse passado a limpo tudo o que vemos todos os dias em noticiários, sendo denunciado pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal. E olhe que - naquele caso - se tratava de uma casa eminentemente política. Mas, como entregar um título de cidadão honorário - a meu ver a mais nobre honraria de uma cidade - a um acusado de receber propina. Não é prejulgamento, mas cautela. Pois, acaba se fazendo um palanque também. Por ter falado em redes sociais, até usei de alguns palavrões diante da revolta, no caso do tucano. 

Então, meus caros, não se trata de político A ou B, mas sim das circunstâncias que envolvem políticos A e B. 

Estou no twitter: @lulavilar