O senador Renan Calheiros (PMDB) deu uma entrevista à Folha de São Paulo em que diz - dentre outras coisas - que as notícias que dizem que ele teria dificuldades de se reeleger são “plantadas”. E credita o plantio ao governo federal do presidente Michel Temer (PMDB). 

É mesmo? Plantaram notícias? Bem, como nesse espaço escrevi exatamente isso, que se as eleições fossem hoje Renan Calheiros, mesmo sendo um fortíssimo candidato, teria dificuldades de reeleição e por isso constrói uma agenda positiva para si, eu digo: aqui nesse texto quem “planta” é a minha consciência, sem dever nada a absolutamente ninguém!

Digo mais: o “plantio” é feito com base na lógica, nos fatos postos e na análise que, por vezes, é fruto do óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. Logo: quem planta assim, colhe a verdade. Eu disse - inclusive - que Renan Calheiros é um candidato forte a ser batido em Alagoas, mas que enfrentará uma das eleições mais difíceis de sua vida por conta de desgastes naturais. 

Renan Calheiros é um dos citados na Operação Lava Jato, que tem causado indignação em boa parte da população. Encontrou - nas críticas feitas ao governo de Michel Temer, que tem uma baixa popularidade - uma “agenda positiva” que o reaproximou de setores e fez com que ele surgisse na mídia em outros temas que não apenas os inquéritos que “coleciona” no Supremo Tribunal Federal (STF). Calheiros ganha e perde com isso, como todo mundo que assume posições claras. 

Afirmo isso com base em um fato: antes de sair da liderança do PMDB para ser a “voz de oposição” mais forte ao governo Temer, Calheiros participou de reuniões para seguir na liderança e saiu, nos minutos finais, antes de ser expulso. Sua decisão foi embasada também por uma pesquisa de opinião - divulgada pelo blogueiro Edivaldo Júnior - que apontava que a maioria da população ouvida o queria como “opositor”. Se isto não é também uma preocupação com a própria imagem diante do processo eleitoral que se avizinha, eu não sei mais o que seja. 

Quanto ao cenário de 2018, Renan Calheiros terá dificuldades que não são semelhantes ao cenário de 2010 (voltarei ao passado nesse texto. Aguardem!). Lá, Calheiros também chegou com a imagem arranhada, mas detinha mais poder sobre o xadrez político.

Agora, são outros nomes no jogo que possuem - mesmo não tendo a habilidade enxadrista de Calheiros - suas densidades eleitorais. Um deles é o ministro do Turismo, Marx Beltrão (PMDB), além do senador Benedito de Lira (PP), do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), dentre outros, como o deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) e até mesmo o ministro do Transporte, Maurício Quintella (PR), ou ainda o prefeito Rui Palmeira (PSDB). São adversários que possuem as suas capilaridades. 

Claro que nem todos serão os candidatos, mas as pesquisas que envolvem tais nomes - mesmo sendo duas vagas para o Senado Federal - mostram que a situação de Calheiros é a seguinte: possui forte densidade eleitoral,  lidera em muitas, mas seus rivais estão ali no “cangote”. 

O que Renan Calheiros chama de “notícia plantada”, eu chamo de jornalismo que analisa os números e não depende de “benção” para publicar o que é posto. 

Em março deste ano, o Instituto Paraná publicou pesquisa com vários nomes ao Senado Federal. O resultado era o seguinte: Ronaldo Lessa: 35,3%; Teotônio Vilela: 27,8%; Renan Calheiros: 25,1%; Maurício Quintella: 18,0%; Benedito de Lira: 17,8% e Marx Beltrão: 16,0%.

Num cenário bem diferente, O Instituto Falpe fez uma pesquisa em julho (na chamada Grande Maceió, o que não dá uma amostragem completa, mas é bem relevante). Nela, Benedito de Lira aparece na liderança, com 15,75%, seguido de Renan, com 14%. Em terceiro lugar uma quase surpresa, com Rodrigo Cunha (13,25%), à frente de Teotonio Vilela (12,5%) e Marx Beltrão (8,5%).

O Ibrape também foi a campo em março e trouxe o seguinte quadro: Renan Calheiros com 35%, Teotonio Vilela com 27%, Marx Beltrão com 23%, Benedito de Lira com 21%. 

Notem que em todas elas - e eu nunca disse o contrário - Renan Calheiros possui densidade, mas seus rivais também. E quando se coloca todas as pesquisas realizadas nos últimos meses em ordem cronológica - pois só estou citando algumas, mas li todas - o que se observa é um crescimento de adversários. 

Mas, vamos a mais recente, que foi feita pela Compset e divulgada pelo CadaMinuto. Lá, Renan Calheiros, Teotonio Vilela Filho e Marx Beltrão aparecem praticamente empatados, mesmo com a liderança de Calheiros. O senador peemedebista tem 27%, contra 26% do ex-governador e 25% de Marx Beltrão. O quarto colocado é Benedito de Lira com 20%. E ainda há uma taxa de indecisos de 32%, o que mostra uma avenida aberta. 

É claro que Renan Calheiros pode se reeleger, mas é uma eleição difícil em que o senador precisa trabalhar o tabuleiro de xadrez de forma bem mais hábil do que já fez anteriormente. E assim tem feito. Ou não? Por acaso Renan Calheiros não pensa em política 24 horas por dia e não analisa cenários ao tomar decisões, como tem feito recentemente em relação à postura adotada de ferrenho opositor? 

O senador Renan Calheiros vai dizer que todos esses institutos também plantam números a mando do governo federal? 

Agora, vamos a 2010. Falei que voltaria a este ano. 

Lá, o senador Renan Calheiros tinha forte poder de influência sobre o PT local. Na época, no PT, o ex-delegado da Polícia Federal Pinto de Luna acalentava o sonho de disputar o Senado Federal. O PT coligou com o PMDB e Pinto de Luna foi retirado da disputa pelo Senado e jogado para disputar uma vaga da Câmara de Deputados. É claro que Renan Calheiros articulou isso e colocou Eduardo Bomfim - que não tinha densidade eleitoral - para ser o segundo candidato ao Senado da chapa. 

Vale salientar que isso limpava bem o campo, pois conforme as pesquisas na época a única adversária de Renan Calheiros seria a ex-vereadora e ex-senadora Heloísa Helena (Rede). Ora, se eram duas vagas, com Renan Calheiros e Heloísa Helena na disputa, não havia o que temer. 

Aí o leitor pergunta: e o senador Benedito de Lira (PP)? Ele foi a “zebra” do processo eleitoral. Lira não alcançava sequer a dezena nas pesquisas eleitorais. Com sua “dancinha de forró” e os ataques à candidatura de Heloísa Helena cresceu durante o pleito e, surpreendentemente, foi o senador mais votado. Renan Calheiros - nem ninguém! - jamais adivinharia isso. 

Então, Calheiros soube montar o jogo eleitoral naquele ano. Aliás, o que ele sabe fazer muito bem. Só que agora há decisões que não pertencem apenas a ele. Isto é “plantado” também, senador? 

Renan Calheiros diz que as pesquisas verdadeiras para 2018 não mostram o que estas pesquisas que aqui cito mostraram. Então, quais são as verdadeiras? Mostre. 

Com as que tenho em mãos, digo e repito o que sempre disse: Renan Calheiros é um candidato forte, mas que sofreu desgastes, busca trabalhar melhor a sua imagem pensando em 2018 e sabe que tem uma eleição dura pela frente em função de rivais que estão mostrando crescimento. 

Um deles é o peemedebista Marx Beltrão que estará em sua chapa, já que o PMDB local garantiu esse espaço a ele. Sendo assim, mesmo sendo forte e com possibilidade de reeleição, enfrenta o risco da derrota. Esse é o resumo da ópera que afirmo. E acredite senador, nunca falei com ninguém do governo federal para pensar dessa forma. É que fui alfabetizado…

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