A chamada “oposição” ao governo Renan Filho (PMDB) acerta na estratégia de pensar em bloco para ser organizar para enfrentar o “xadrez político”. Assim, delimita o campo, trabalha nomes e tenta agir de forma coesa independente do prefeito Rui Palmeira (PSDB) ser candidato ao Governo do Estado ou não. Por isso, a primeira reunião ocorrida no fim de semana passado foi considerada um “marco zero”. É a disputa pelo Palácio República dos Palmares (foto) e pelo Senado. 

Mas isso é estratégia política, o que não significa que seja conteúdo a ser apresentado. Por isso que friso como “a chamada oposição” e uso aspas para o vocábulo oposição. É que oposição em sentido amplo requer projeto diferenciado e não apenas posição crítica ou da crítica pela crítica, o que é ainda pior. Afinal, o eleitor não pode se contentar apenas com lados de um xadrez que se diferencie única e exclusivamente pela cor das peças. 

O que se pensa sobre Alagoas? Esse é o ponto central. Temos um Estado que carece de diversificação econômica dentro de um país - e Alagoas não é diferente e pode até ser isto de forma piorada - onde o Estado é centralizado, com um poder coercitivo enorme e com uma mentalidade de “babá do povo”. Isto tudo com municípios política-administrativamente dependentes em função de um pacto federativo nefasto. É impressionante como os prefeitos e deputados federais silenciam diante disso. 

Os primeiros porque “comem” no jogo. Os deputados federais porque se transformam em office-boys de luxo com as “emendas” e assim garantem parcerias e eleitorados em “currais fechados”.

Além disso, há dívida pública é imensa e os indicadores são terríveis. 

Então, se há oposição, o que ela pensa e o que aponta? Caso contrário, se não houver resposta, é mera disputa pelo poder entre caciques que - historicamente - migram de lado com uma facilidade terrível, levando em consideração apenas os espaços que lhes são ofertados. Como exemplo, cito um opositor atual: o deputado federal Ronaldo Lessa (PDT).

Lessa já esteve com os tucanos, deixou de estar, voltou a estar com os tucanos e assim vai. Ele não é exceção, mas regra. O mesmo se observa do outro lado. É o caso quando as negociações se baseiam em secretarias e tudo mais é adorno. Do lado da também chamada “situação”, não é diferente. Há muito que Alagoas carece de um projeto que reconheça os acertos do passado e que aponte para o futuro. Temos muito da prática do desmanchar tudo que foi feito lá atrás porque foi feito pelo outro. 

Que, se é para nascer uma oposição, ela tenha maturidade de apresentar projetos. Assim, acaba forçando a situação a também aprimorar projetos e ter ideias e não simplesmente uma colcha de retalhos com resultados aqui e ali em chamadas “ilhas de excelência”, como foi o governo do ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) e como vem sendo o do atual governador Renan Filho (PMDB).

Reconheço os acertos do governador Renan Filho na segurança pública e na Fazenda, mas vejo erros como a existência de uma pasta que apenas serve para acomodar o aliado politico e deputado federal Givaldo Carimbão (PHS): a Secretaria de Prevenção à Violência (Seprev). Algo que vem desde a era do tucanato. “Mas não há políticas importantes na pasta?”. Há sim! Porém, elas poderiam ser feitas de forma transversalizadas, reduzindo a estrutura do Estado. É um exemplo de um erro. 

Então, lanço um primeiro desafio à oposição: como os “caciques” que lá estão pensam o Estado enquanto máquina pública? Pode ser pauta das reuniões indo para além da matemática eleitoreira e dos espaços. A matemática eleitoral é claro que é importante e legítima, pois faz parte do jogo. Ela só não pode ser tudo. 

Há muito que Alagoas - e o Brasil - não possuem oposições e situações consistentes, mas simplesmente lados em função de quem se encontra no poder. Assim, há uma dicotomia falsa, uma pseudo-polarização, e uma preguiça intelectual enfadonha que nos dá um cansaço emocional na hora de discutir política. 

O grupo opositor hoje reúne PSDB, PP, PR, PDT, Democratas e PROS, além de outras siglas menores. Conta com gente inteligente e experiente como o ex-vice-governador José Thomaz Nonô (Dem) e com um nome jovem que tem boas ideias: o deputado estadual Bruno Toledo (PROS). E o atual ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa (PR) é alguém que pode muito contribuir. 

O encontro é legítimo e necessário. Toda boa oposição melhora a situação e vice-versa. Era para ser assim em ambientes políticos sadios. Só os autoritários desprezam a função da oposição sólida, ainda que isto inclua o jogo político. 

Que a eleição não seja um tapetão. 

E digo mais: mesmo sendo declaradamente de direita, troço para que surja uma terceira via de esquerda. Não que eu ache o que está aí de direita. Não é! Não é a oposição e não é a situação. Afinal, ambas possuem as figuras ligadas ao patronato oligárquico e gente com mentalidade estatista, que é tudo que, em essência, a direita repudia ao defender maior liberdade de mercado. O que quero dizer é que torço para que tenhamos cores claras no processo. É um tanto ingênuo, eu sei…mas, torcer e cobrar isso é um direito do cidadão. 

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