Toda pesquisa é um reflexo de momento. Um retrato que se tira naquele instante em que os players estimados do jogo ocupam determinados espaços e circunstâncias. Erra quem a superestima e erra também quem a subestima, portanto. Se séria, é importante para um determinado político avaliar seus passos. Se vai abrir mão de suas convicções ou não para se tornar um “produto de marketing”, aí é outra história. É possível avaliar cenários mantendo o que se acredita e se comunicando melhor. Para o eleitor - também se uma pesquisa séria - tem sua importância para análises e influências. Não se pode negar que pesquisa influencia opinião pública. 

Pois bem, eis que temos mais uma pesquisa - divulgada desde ontem, pelo CadaMinuto - sobre as eleições em Alagoas. Li todos os comentários possíveis sobre a primeira pesquisa de intenções de votos em Alagoas em relação às disputas do governo do Estado e do Senado Federal. Sinceramente, não vi surpresas. 

Não me admirei, por exemplo, com o crescimento substancial - conforme os números coletados pela Compset, em parceria com o Portal CadaMinuto - do ministro do Turismo, Marx Beltrão (PMDB), em uma eventual disputa para o Senado. Assim como o senador Renan Calheiros (PMDB) - que parte para a reeleição - Beltrão é um “player” que se antecipou ao jogo. 

Marx Beltrão tem trabalhado uma agenda intensa em todo o país, incluindo Alagoas, o que tem dado projeção a sua imagem. Além disso, tem feito um excelente trabalho de comunicação nas redes sociais. Era evidente que teria algum crescimento com o passar do tempo e incomodaria, inclusive, ao próprio PMDB. O partido de Renan Calheiros tem prioridades. Elas se chamam Renan Calheiros e o governador Renan Filho, que também disputará sua reeleição. 

Quanto mais Marx Beltrão crescer, mais terá que lidar com o chamado “fogo amigo”. O ministro sabe disso e por esta razão possui o comando de outras legendas em Alagoas. É o chamado Plano A e Plano B. Beltrão conseguiu construir uma imagem própria. Distanciou-se do pai, o deputado estadual João Beltrão (PMDB), e também dos caciques peemedebistas. Isto deve incomodar o governador Renan Filho e o senador Renan Calheiros. Claro que jamais eles dirão isto em público. Mas sei do que estou falando. 

Marx Beltrão aparece com 25% das intenções de voto. É o terceiro posicionado, mas em um “empate técnico” com o senador Renan Calheiros (PMDB), que é o líder com 27% e o segundo colocado: o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) com 26%. O crescimento de Marx Beltrão é uma ameaça. 

Sobre a situação de Renan Calheiros já falei aqui em diversas postagens. Nos últimos anos, Renan Calheiros - exímio enxadrista da política alagoana - sofreu desgastes em função da forma como foi e é citado na Operação Lava Jato. Adotou a alternativa correta para sanar “danos”. Buscou construir para si uma agenda fora da Operação Lava Jato ao se opor ao presidente Michel Temer (PMDB). 

As pesquisas são tão importantes que Calheiros não as afastou ao tomar sua decisão. Ao deixar a liderança do PMDB no Senado Federal (antes de ser posto para fora) fez pesquisa para avaliar o impacto disto junto à opinião pública e viu que seria positivo. Calheiros se tornou um nome importante na luta contra as reformas Trabalhista e Previdenciária. Isto tem seu impacto.

Calheiros segue sendo um nome de peso. Além de adotar a posição que adotou, também trabalha muito bem nos bastidores “tirando” adversários de cena. Lembrem do processo eleitoral que enfrentou no passado e como se deram as ações de Renan. Fora isto, tem força com prefeitos do interior do Estado e isto faz a diferença em algum momento. É páreo duro. Porém, esta recente pesquisa eleitoral mostra o que eu já afirmava: é a eleição mais difícil para Renan Calheiros. 

Na última eleição que enfrentou, Calheiros já não foi o mais votado. Perdeu para o senador Benedito de Lira (PP). O que pesa contra Lira é que ele não é mais “a novidade que dança forró”. Vai precisar mais que isso. Lira também tem uma imagem que sofreu um certo desgastes com os últimos acontecimentos do país. Diferente de Renan Calheiros não tem as mesmas vitrines. 

Teotonio Vilela Filho é uma incógnita. Pode, inclusive, não ser candidato caso os planos do prefeito Rui Palmeira (PSDB) - que não aparece com o nome na pesquisa ao Senado, mas ao Governo do Estado - decida disputar a cadeira do Congresso Nacional. Isto pode alterar o cenário. Vilela é muito amigo de Renan Calheiros e isto também inclui a possibilidade de conversas. 

Agora, vejam: Marx Beltrão - com este resultado em mãos - deve investir ainda mais em seu futuro político. Renan Calheiros partirá para duas frentes: aprofundar as posições de oposição, buscando sua “agenda positiva” e trabalhar ainda mais nos bastidores, diante da força que tem. Vilela vai manter o silêncio de sempre. Benedito de Lira vai soltar aos “quatro ventos” - como já tem feito - de que é candidato à reeleição. 

Infelizmente, um dado importante ainda é desconhecido: as rejeições. Isso mostrará o “teto” que cada um desses nomes possuem. 

Mas, há outro “número” que também merece ser analisado e não pode ser esquecido. 32% dos eleitores afirmam que não votam em nenhum desses nomes. Um percentual tão alto ainda mostra o cenário aberto. Na ausência de novidades, é possível que parcela desse eleitorado migre para um dos nomes que estão postos na corrida. Quem for esperto, vai em busca dessa parcela. Se aparecer uma “novidade” disposta pode trabalhar em cima de uma pesquisa qualitativa para saber que “produto” ofertar a este público pode ter efeito significativo no quadro. 

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