Leio - aqui no CadaMinuto - que a Prefeitura de Maceió, visando coibir o número de assaltos e, de fato!, preocupada com a segurança pública resolveu que vai extinguir o pagamento da tarifa de ônibus em dinheiro. Tudo será feito pelo “cartão legal”. De acordo com o prefeito Rui Palmeira (PSDB), 60% da população já possui o cartão e a estimativa é que até o final o ano a cobertura chegue a 100%. 

Não se trata aqui de uma crítica ao prefeito. Reconheço a boa intenção. Entendo a preocupação dele com a segurança e a tentativa de reduzir o número de assaltos. Creio que, neste aspecto, até terá resposta positiva.

Todavia, faço a crítica a forma como o Estado - em todas as suas esferas - trata a questão do combate à criminalidade. Nunca a discussão da causa é posta em cena, mas sempre o ataque aos efeitos e às consequências. O resultado disso é a limitação da liberdade do cidadão de bem nos pequenos atos. Mas, há quem ache que o conceito “cidadão de bem” é subjetivo, quando estamos falando daqueles que cumprem as leis, vivem honestamente e trabalham para ter o que possuem. 

É o “efeito salame”, onde a liberdade vai sendo tirada em pequenas fatias. O cidadão perdeu a escolha de não ter o cartão e pagar a passagem em dinheiro. Ora, “mas é em nome da segurança”, dirão os apressadinhos. É, eu sei que é. Mas quantas “pequenas coisas” foram tiradas de você “em nome da sua segurança”. Pense na fachada da sua casa cheia de grades, pense nos comércios de bairros onde, a partir de um determinado horário, o comerciante atende o cliente por trás de barras de ferro temendo que qualquer pessoa seja um assaltante, pense naquele passeio público onde você tem que esconder o seu celular, na corrida matinal na orla onde você teme pelo seu fone de ouvido...e por aí vai...

É assim que se chega a conclusão de que quando você é vítima de um assalto, você foi um “vacilão”. “É sempre o: mas, também você andando por aí com esse celular a mostra”, ou “mas também, foi reagir”, ou o “será que você não sabe que turista não pode andar por aí ostentando a máquina fotográfica, que burro é você!”. Ora, a culpa nunca é da vítima!!!!

Em uma canção, Renato Russo dizia que “os assassinos estão livres, nós não estamos”. E este raciocínio se faz presente no discurso enfático do “não reaja!”. Não estou aqui pregando a reação a qualquer custo, mas mostrando que o Estado diz: não podemos lhe proteger, então vamos lhe limitar. Limitaremos sua capacidade de defesa ao máximo e depois vamos impor os cuidados que você deve ter, já que o bandido está aí livre, leve e solto...”e o coitadinho é só uma vítima da sociedade”, completarão alguns!

Assim, como o Estado - repito: em todas as suas esferas! - não consegue combater a bandidagem e a enxerga de maneira crescente, eis a solução: restringir suas opções para lhe proteger! É desta forma que o usuário de ônibus em Maceió terá que ter o cartão de forma obrigatória até o fim do ano, para que se elimine a possibilidade do pagamento em dinheiro. 

Mas você estará protegido?

É claro que se elimina a possibilidade de roubar o ônibus e se reduz o estímulo ao bandido, mas o criminoso - cada vez mais ousado - não poderá entrar no coletivo para assaltar os passageiros? Você pagou o ônibus com o cartão, mas não terá em seu bolso o seu dinheiro, o seu celular e os seus pertences? 

Cada vez mais as políticas públicas - ao invés de focarem na causa - vão administrando as consequências e limitando as liberdades por temerem o bandido. É como você ter que encher sua casa de grandes e ao sair na rua, ter que esconder todos os seus pertences como "dicas de segurança". Isso vai do celular até o cidadão que resolveu correr na praia, como exercício matinal, com o seu fone de ouvido, como já citei no texto.

Ou seja: são os bandidos que ditam as regras e o Estado que se adequa a elas por conta das consequências. Compreenderam o raciocínio que está por trás dessas pequenas coisas? Talvez passe até batido! É a admissão da falência estatal... Como diria Adouls Huxley, bem-vindo ao “admirável mundo novo”, onde seu comportamento e suas escolhas não é ditado por você, mas pelo medo e pela sensação de insegurança. Enquanto isso, o Estado diz: “eu vou lhe proteger. Pode confiar, amiguinho!”.

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