O especialista em Direito Eleitoral, Adriano Soares, trouxe - em suas redes sociais - uma análise da bombástica entrevista de Joesley Batista - um dos executivos da JBS - à Revista Época. Batista se tornou a “metralhadora ambulante” da República, após sua delação premiada. Falou que os esquemas de corrupção institucionalizada iniciaram no governo PT, atacou os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT), mas cravou que o atual presidente Michel Temer (PMDB) é o “chefe da quadrilha”. 

Temer disse que tomará as medidas cabíveis contra Joesley. O que fica claro, não apenas com a delação de Joesley Batista, é o que há muito venho chamando de “estamento da República”, que nada mais é que uma casta com seu modo de operar muito bem definido, onde os partidos políticos - em especial PT e PSDB - executam uma estratégia das tesouras. Pouco importando quem está no comando, a estrutura é mantida em prol dos que ocupam o poder. Por isso, a República em frangalho e todas as instituições em descrédito. E isto vai dos investigados aos julgadores, passando pelos investigadores, diante do jogo de poder. 

Que o diga o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)...

Tal “jogo de poder” também se faz presente na Procuradoria Geral da República, como mostrou a matéria de IstoÉ, com as gravações divulgadas em que revelam os interesses do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de permanecer no cargo, sendo conduzido a este pela terceira vez. O que a IstoÉ traz é grave, pois reside aí um perigo para o andamento da Operação Lava Jato, que deve ir às últimas consequências, mas não pode estar a serviço de interesses pessoais de quem quer que seja. 

É fato que não pode ser ignorado. 

Se Temer tem culpa no cartório que pague! Assim como Lula, Dilma e os demais. O que não pode é o Estado Democrático de Direito ser atropelado por este ou aquele interesse pessoal. Aí, reside o perigo. 

Soares chamou atenção para o assunto, ainda que tenhamos - e o advogado sabe disso - pequenas divergências na forma de encarar o assunto. Todavia, nos mais recentes posicionamentos tendo a concordar com Adriano Soares. Ele analisa a matéria da Revista Época em que coloca que muitas afirmações feitas por Joesley Batista soam absurdas e merecem ser confrontadas com os fatos públicos. 

Diz Soares: “Temer seria o líder da mais perigosa organização criminosa. Quem a formaria? Diz ele: Eduardo Cunha. A mentira é evidente. Cunha tinha o seu grupo e o seu projeto pessoal. Nunca se submeteu a Temer. Impôs a sua candidatura à Câmara dos Deputados e atropelou Dilma e Temer. A rigor, Temer era um vice fraco, sem influência no governo, sendo notório o fato através da famosa carta em que fez reclamações sobre isso e foi alvo de chacotas”. 

Soares ainda segue: “Aécio seria o número dois do grupo inexistente. O PSDB apoiou Temer após o impeachment com interesse nas eleições de 2018. Não existe relação de proximidade pessoal entre ambos nem de trajetória política”. 

E o ponto mais óbvio: “Todo o enriquecimento da JBS foi multiplicado nos governos Lula e Dilma. O BNDES foi o maior investidor. Joesley diz que nunca deu um centavo de propina naquele sacrossanto local de investimentos bilionários, fonte de esquemas vistosos e investimentos internacionais feitos por interesse lulopetista e de construtoras, como a Odebrecht. Venezuela, Cuba, países da África. Além das famosas empresas campeãs nacionais, em que a JBS e a Oi foram exemplos notórios”

“São tantas mentiras evidentes, escondendo os reais parceiros da JBS, que indignam. Mas atendem como uma luva à lógica de Janot para tentar derrubar Temer. É nojento tudo isso”, finaliza o advogado. A “nojeira” é o que sempre foi: se apropriar de denúncias, que possuem as suas verdades, para a construção de narrativas conforme os interesses. 

Para mim, é evidente que Temer cometeu, no mínimo, crime de responsabilidade ao se envolver da forma como se envolveu com Joesley e a JBS. Tem que pagar por isso. Os indícios são suficientes para se investigar o presidente da República. Mas daí a construir a narrativa de que o mordomo era o dono da mansão assombrada, é um pouco demais.

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