Não vou entrar no mérito de se é correto ou errado o investimento de recursos públicos em festas como Carnaval e São João. Tenho minha posição: o poder público deveria ser, no máximo, fomentador, criando um calendário permanente, independente de governo A ou B, que se auto-sustentasse em parceria com a inciativa privada. Há caminhos para isso. É só sentar e dialogar. Poderia até haver os incentivos fiscais para determinadas empresas que adotassem um bairro, por exemplo.
Pensar alternativas não custa nada. Como não se pensa, sempre é “nas coxas” e por meio de ações de impulso ou surpresa...
Mas, como tal ação nunca é planejada, sempre recai no colo do poder público que se organiza de última hora para destinar recursos na busca por manter uma tradição popular nordestina que é importante sim. É uma cultura a ser preservada que ainda garante emprego e renda para muita gente. Então, na ausência de pensar além para um calendário que não sofra riscos, eis que é a alternativa que resta. Que se faça, com zelo pelo recurso público e privilegiando artistas locais que pouco possuem oportunidade no restante do ano.
A questão aqui é outra e não entro nesse mérito, mas na sequência dos fatos: a Prefeitura de Maceió iria promover os festejos juninos na capital, inclusive com edital lançado pela Fundação Cultural de Maceió (FMAC). Isto por si só marca o caráter democrático que a FMAC tentou construir. Porém, diante das tragédias das chuvas, o prefeito Rui Palmeira (PSDB), suspendeu para priorizar recursos. Se estes recursos forem priorizados de fato em prol das vítimas e de ações preventivas para evitar tragédias futuras (o que há muito já deveria ter sido feito e o prefeito peca sim por isso! E o Ministério Público Estadual está corretíssimo em cobrar isso de todos os prefeitos, incluindo Maceió), acertou. Questão de prioridades.
Mas aí, primeiro vem o deputado federal Cícero Almeida (PMDB) com uma crítica açodada que esconde este fato da população, mas apenas se limita a dizer que não vai haver festejos privilegiando artistas locais. Ora, o edital buscava privilegiar artistas locais e bairros de Maceió. Foi suspenso depois, em decorrência do que ocorreu diante das chuvas. Todo mundo viu como a cidade ficou.
“Ah, mas o prefeito deveria investir em prevenção!”. É! Deveria! Concordo! E não apenas Rui Palmeira, mas todos os outros que passaram, inclusive Cícero Almeida, que já ocupou o cargo de prefeito. Neste sentido, pecam e muito por omissão. Já disse aqui que os asfaltos de Maceió parecem solúveis e não duram o que deveriam. Basta uma leve chuva para criar um caos na cidade. Fora outras questões históricas envolvendo áreas de risco onde todo mundo espera a tragédia para poder agir.
Entra administração e sai administração e as áreas de risco são as mesmas, as tragédias se repetem, as vias que alagam são as mesmas, o asfalto se desfaz do mesmo jeito, e ações assistencialistas de última hora se repetem com todo mundo de pires na mão em busca de recursos federais, diante de uma outra tragédia: o nosso federalismo centralizado na União.
Agora, aproveitando do cancelamento das festividades, o governador Renan Filho (PMDB) anunciou com toda “pompa e circunstância” que vai bancar as festividades em Maceió. Todos sabem que, no xadrez político, Renan Filho tem grande possibilidade de enfrentar Rui Palmeira nas urnas. E político não dá ponto sem nó. Renan Filho aproveitou a lacuna após uma forte crítica feita pelo deputado federal peemedebista que enfrentou Rui Palmeira nas urnas em 2016. Coincidências? Não acredito em coincidências na política.
Renan Filho faz bem em buscar ações para manter as festividades juninas que fazem parte da tradição? Se há recurso disponível para isto, faz! A questão não é esta. Não é o que se faz, mas como se faz. O governador poderia ter feito um discurso que não fez. Poderia ter dito que diante das chuvas que caíram em Maceió e que obrigaram a decisão da Prefeitura no cancelamento das festividades, o Executivo estadual se coloca em parceria para ajudar. A ação, se conjunta, traria resultados muito mais positivos. Nem tudo precisa ser política.
Uma outra questão: Renan Filho é o governador de Alagoas e não o de Maceió. Então, este mesmo empenho do governo estadual em relação à capital alagoana - por meio da Secretaria Estadual de Cultura - se dará também em outros municípios? Como o Executivo estadual pretende ajudar a todos os municípios a realizarem seus festejos juninos? O apoio é só a capital?
Tristes tempos onde tudo vira palanque...
Coloco isso aqui não por defender Rui Palmeira. Não o defendo. Ontem mesmo teci uma forte crítica ao senhor prefeito por sua forma de rebater as críticas que recebe. Está aí. Já critiquei a Prefeitura de Maceió por sua falta de diálogo com a população na implantação da Zona Azul, que - se não fosse o Ministério Público Estadual e o Ministério Público de Contas - seria empurrada goela adentro da comunidade, sem sequer ter sido apresentado planilhas de custo para se chegar ao valor da tarifa.
O segundo mandato de Rui Palmeira começou de forma pífia.
Aliás, neste quesito da Zona Azul, ainda aguardo uma resposta: quanto a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) lucrou com Zona Azul enquanto ela esteve ativa? Apareceu esse número por aí? O superintendente Antônio Moura não fala comigo. Disse que só me responde via assessoria de imprensa. Tenho gravado o áudio de sua resposta.
O que o São João em Maceió revela é que os palanques entre o prefeito Rui Palmeira e o governador Renan Filho seguem montados. Tudo é facilmente politizado. O pouco que houve de diálogo entre os dois se deu no momento das chuvas em Maceió, quando se reuniram com o presidente Michel Temer (PMDB). Mas, de lá pra cá, “mais do mesmo”. É um tentando crescer na falha do outro e vice-versa. Seja por subterfúgios ou de forma declarada.
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