Conversei com a promotora Cecília Carnaúba sobre o projeto do Ministério Público Estadual “Fale, Educação”. A ação será implantada em 14 escolas da rede estadual do ensino e – conforme Carnaúba – está pautada por metodologias que buscam aumentar o rendimento dos alunos em relação aos conteúdos da base curricular. Todavia, além disto, implantar conceitos de cidadania, respeito ao próximo, reconhecimento de direitos, sem viés partidário e/ou ideológico, mas respeitando todas as crenças e a família.

Carnaúba destaca que as etapas para a implantação do projeto já estão bastante avançadas e conta com o apoio da Secretaria de Estado da Educação. A promotora coloca ainda que o objetivo é medir o andamento do Fale, Educação durante as próprias etapas. “Precisamos caminhar avaliando para saber se estamos no caminho certo”. Cecília Carnaúba frisa que os resultados do projeto piloto – que se inicia pela capital – pode ser expandido para o interior de Alagoas em breve.

Conheça um pouco do Fale, Educação na entrevista abaixo:

No que consiste o projeto “Fale, Educação” e qual o objetivo dos promotores do Ministério Público com esta empreitada?

Nós estamos trabalhando dentro de uma linha de imparcialidade, pois o Ministério Público precisa ser isento de qualquer participação política e ideológica. O nosso dever, na verdade, é a defesa dos interesses sociais. A orientação do Conselho Nacional é de que o MP funcione como indutor de políticas públicas para tentar reduzir a quantidade de ações e demandas judiciais. Na área de Educação, com este trabalho, pretendemos induzir uma política pública para que se melhore a qualidade da Educação e se tenha uma participação social maior dentro da Educação, de forma absolutamente isenta. Não queremos direcionamentos ideológicos específicos, sejam eles políticos ou religioso, ou de qualquer natureza. Queremos trabalhar valores e o valor que funda o Fale, Educação é o da solidariedade. O princípio básico é o da igualdade humana. O projeto tem uma série de etapas que são chamadas de “interação”. O secretário de Estado nos designou 14 escolas na rede estadual para que implantasse o projeto piloto. Estamos em andamento com a etapa cidadania que é a ida dos promotores às escolas. São 14 promotores que integram o grupo. Mensalmente os promotores irão às escolas para tratar de um direito constitucional fundamental. Além disso, os objetivos e fundamentos do Estado, como o princípio da dignidade humana.

Como se darão estas falas dos promotores? Quais os resultados esperados?

Estas falas não estão dissociadas de resultados. Não está desvinculada de resultados por alunos. Temos uma metodologia específica que tomam por base estudos existentes. A metodologia expositiva resulta em no máximo 30% de aprendizagem do conteúdo que está sendo posto. Então, vamos induzir uma política de maior participação do aluno na formação do conhecimento para aumentar o índice de aprendizado e aproveitamento do conteúdo que faz parte da base curricular. O Fale, Educação não inventa a roda, mas usa mecanismos mais estudados para que se possa testar a metodologia e alcançar um resultado melhor.

Qual será o público alvo do Fale, Educação?

O projeto pode ser aplicado da educação básica à superior. O problema é que não há estrutura de pessoal para abranger tudo de uma vez. Então, vamos começar com um público de 15 a 18 anos, que é o público do Ensino Médio e fundamental II, nas escolas estaduais. Feito o piloto e avaliado o desenvolvimento, então pensaremos no futuro. Mas, não é só isto. O projeto tem outro pilar que é a escola do exemplo. Porque não adianta a escola dizer o que é certo se faz o que é errado. Existem estudos que mostram que repetimos o que temos como vivência, então precisamos ter uma vivência com ambientes que sejam corretos para repetir isso no futuro. Então, não pode haver uma escola que fala de sustentabilidade ambiental e a própria escola ajuda a poluir. É como falar de conceitos de dignidade humana e na escola faltar papel higiênico, o banheiro estar todo riscado, quebrado, enfim. Estamos trabalhando com esta necessidade de exemplos também. Para isto, estamos conversando com vários órgãos, como com o Instituto de Meio Ambiente para adotarmos práticas de sustentabilidade, coleta de lixo na escola, dentre outras ações. É preciso fazer isto com a participação do aluno. Que ele seja um agente ativo neste projeto. É preciso o aluno ter participação na escola, para não serem apenas receptores de um depósito de conhecimento.

Como está a receptividade dos professores em relação à ideia do Ministério Público, já que depende tanto desta ideia de parceria e o professor é que está na ponta?

Estavam todas as pessoas ávidas de oportunidade. Quando falamos do projeto, os professores que foram selecionados – são 30 ao todo – a Unit nos deu uma assessoria sobre a metodologia pedagógica. Os professores vieram e foram formados para o desenvolvimento disto. A formação vai continuar, pois a quantidade de professores é grande e precisamos trabalhar com todos eles. Esperamos que ao final de um ano termos implantado todas as interações. É inegável a boa vontade e o empenho dos professores em tentar uma ação diferente em busca de resultados.

Como foram escolhidas as escolas para a implantação do projeto piloto?

Solicitamos um critério de diversidade porque não abrangeríamos inicialmente toda a rede. Tudo precisa ser medido e planilhado para avaliar se o caminho está certo, saber se de fato funciona. Precisamos sentir isto na prática. A Secretaria selecionou escolas na capital por conta do raio de atuação da promotoria. Foram escolhidas aquelas que teriam mais facilidade de utilizar recursos, como espaços, multimídia, condições para as atividades a serem desenvolvidas, pois o papel do MP não pode ser apenas falar, mas motivar o debate e ainda ter um tempo para realização de trabalhos por parte do aluno, para que tenhamos o pensar individual dos alunos e a introdução do conceito de cidadania, do respeito pelo ser humano.

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