Em épocas onde é comum o ataque à instituição da Polícia Militar por conta de casos isolados, eis que é muito emocionante encontrar uma reportagem – produzida pela Agência Alagoas (órgão oficial do governo do Estado) – que mostra o lado mais humano de policiais que enfrentam diversas adversidades em suas batalhas cotidianas.

Claro que há os maus policiais e estes devem ser combatidos. Aliás, os maus de todas as profissões devem ser combatidos, sem corporativismo e com o foco naquilo que é a essência de cada atividade. Na essência da Polícia Militar, a árdua luta contra a criminalidade que se faz, na maioria das vezes, sem os equipamentos adequados (já que o crime evolui muito mais rápido), com salários que deveriam ser melhores e – em muitos momentos – enfrentando um discurso “politicamente correto” que nivela os policiais por baixo.

A jornalista Wanessa Neves conseguiu captar – com um olhar clínico – personagens maravilhosos. Conheço o policial Yan Agusto Macena. Um homem de bem que foi meu aluno, no período do Ensino Médio. Macena sempre demonstrou a paixão pela educação em sua vida e tratava de forma séria os estudos. Discutimos muitas obras na “sala dos professores”, onde solicitava indicações de livros e falava de seus planos rumo ao ensino universitário. É sempre comovente encontrar estudantes assim. Torna-se ainda mais gratificante quando observamos o êxito destes nas profissões que escolheram.

Não falarei muito sobre a reportagem de Wanessa Neves (sequer conheço a jornalista). Deixarei que o texto dela fale por si só. Confiram a reportagem dela em negrito:

O garotinho de nove anos de idade, Yan Augusto Macena, presenciou com encantamento a experiência de ver sua mãe se tornar policial militar do Estado de Alagoas. A garra, força de vontade, dedicação e profissionalismo com que exercia suas funções na corporação fizeram com que o menino crescesse com o desejo de um dia seguir seus passos.

Hoje aos 22 anos, o soldado atua no Batalhão de Polícia de Eventos (BPE), enquanto, sua genitora, a cabo Eva Macena, de 46 anos, está lotada no Batalhão de Polícia de Guardas (BPGd).

Natural da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, Eva tinha o sonho de se tornar policial militar desde a adolescência. No início da maioridade, ela trabalhou como agente contratada no Presídio Feminino Santa Luzia, na capital alagoana, fortalecendo ainda mais o seu desejo. Em 1999, ela foi proibida por sua família de tentar o concurso, já que eles não viam com bons olhos a futura profissão da filha, só em 2006 seu objetivo foi então alcançado.

“A sociedade evoluiu muito, hoje a mulher atua em diferentes profissões. Na época que expressei o desejo de ingressar na Polícia Militar, meus pais foram contra e nem de longe sonhavam em ver a filha nas fileiras da corporação. Cada dia se torna mais natural a escolha de uma mulher em ser tornar policial, e eu tive forças para insistir em meu sonho, porque enxerguei claramente que devia buscar, além de oportunidades pessoais, condições melhores para meus dois filhos. Sou uma pessoa realizada como profissional e como mãe”, assegurou emocionada a militar.

Uma rotina dupla, cansativa e que exige muita dedicação e coragem para vencer os obstáculos, preconceitos e seguir em frente, sempre. Ser mãe está longe de ser uma tarefa fácil, mas o amor inexplicável pelos filhos é o maior combustível para continuar na luta.

“Os primeiros anos de trabalho na corporação foram bem difíceis. Tinha além do Yan, uma menina de seis anos, Juliana Kelly, que precisava de minha atenção. Sempre estávamos juntos, e aí comecei a ficar um tempo maior sem eles para trabalhar. Mas todo o esforço é válido quando recebemos o abraço e o amor ao retornar de um serviço. Como policial e mãe, as tarefas são numerosas e a responsabilidade redobrada”, explica.

Toda a rotina da cabo Eva Macena era acompanhada de perto pelos filhos, especialmente, pelo mais velho, que observava a mãe admirado. “Ela sempre foi a minha 'super-heroína' real”. Eu sempre olhava ela fardada, saindo de casa, pronta para defender o desconhecido. Desde criança, eu pensava comigo que queria também fazer parte desse universo”, lembra Yan Augusto.

Oportunidade

A mãe foi surpreendida com a notícia de que seu primogênito iria prestar um concurso público para ter uma experiência em certames, na época com 17 anos, Yan tinha acabado de terminar o Ensino Médio. Assim, o menino iniciava sua trajetória, e, ao ser aprovado aumentou ainda mais o desejo de seguir os passos de Eva na carreira.

“Jamais imaginava que ele estaria na Polícia Militar, pois ele esperou um ano e três meses para ser convocado. Hoje, ele está seguindo a mesma profissão que eu,  é gratificante”, avalia Eva Macena.

O soldado Yan Augusto destacou que, durante o estágio supervisionado, no curso de formação, ele teve a primeira experiência de trabalhar lado a lado com sua mãe. Depois de formado, em 2013, ainda teve o privilégio de atuar na mesma Unidade Operacional que ela, no BPGd, porém a mãe na parte administrativa e ele na atividade fim, na operacionalidade.

“A minha mãe é para mim um exemplo de profissional e ser humano. Sempre elogiada por sua postura e comprometimento nas missões em que é designada. Eu e minha irmã temos um imenso orgulho da mulher, mãe, filha, esposa e militar que ela é. Simplesmente é tudo para mim, para nós”, resume Yan.

Não será surpresa se Juliana Kelly, em breve, se tornar uma policial ou bombeiro militar, já que a jovem de 18 anos está estudando com afinco para também prestar o concurso já anunciado pelo Governo do estado, e assim a família terá uma nova integrante nas fileiras milicianas.

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