O novo presidente estadual do PT, Ricardo Barbosa – que foi vereador por Maceió – concedeu uma longa entrevista ao jornal Tribuna Independente. Ele apresentou, ao jornalista Carlos Victor Costa, a visão que tem sobre o cenário político e como o partido, que enfrenta uma crise em todo o país devido aos escândalos que envolvem vários petistas, incluindo o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), deverá se comportar em Alagoas.
Não farei juízo de valor sobre as falas de Barbosa, mesmo sendo eu um crítico ferrenho do Partido dos Trabalhadores e das esquerdas (são divergências de ideias e de comportamentos!), como o leitor já conhece. Todavia, é interessante saber como o principal dirigente do partido (pelo cargo que ocupa) pensa. Farei apenas pequenas considerações sobre o jogo político e os discursos assumidos.
Barbosa diz que a discussão sobre o cenário “está se iniciando” e coloca que a eleição é conjuntural. De acordo com ele, o comportamento do PT depende do destino de Lula. A principal figura do país terá condições de ser candidato ou não? Eis a dúvida que reside na cabeça do PT local, segundo o próprio presidente estadual.
“Se Lula for candidato das esquerdas, o quadro aqui em Alagoas vai ser diferente. Se o Lula não for candidato, o quadro será outro. Nós temos que ver isso, como vai se dar essas fissuras em partidos grandes, inclusive em partidos golpistas que patrocinaram o golpe como o PMDB, que aqui em Alagoas é governo e que aqui até pouco tempo atrás o PT era governo também”, salientou.
Apesar de classificar os peemedebistas como golpistas, Barbosa mostrou certo cuidado ao citar a figura central do PMDB em Alagoas: o senador Renan Calheiros. “O Renan Calheiros hoje já tem se manifestado publicamente, inclusive sofrido ameaças de perder o seu cargo de líder do partido no Senado por conta da postura que ele vem assumindo de ser totalmente contrário as reformas do presidente (Michel) Temer (PMDB)”, destacou.
Bem, é um discurso que deixa aberta a porta de reconciliação entre o PT e o PMDB. Todavia, não nos esqueçamos dos recuos de Calheiros. O líder do Senado amenizou a pancada para cima do presidente Michel Temer. Isto influi? Será?
O PT e o PMDB em Alagoas sempre andaram muito juntos. Em 2010, Renan Calheiros tinha forte influência no Partido dos Trabalhadores. A sigla o ajudou a ser reconduzido ao Senado Federal. O ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Luna, que o diga diante da rasteira que levou naquele momento. Ali, Renan Calheiros já era Renan Calheiros.
Ricardo Barbosa avalia a recomposição com o PMDB local: “Isso vai se desdobrar, vai se estender e contaminar o processo eleitoral de 2018? Se for nós vamos ter que repensar como vai ser a nossa relação com Renan”.
Carlos Victor Costa fez uma excelente pergunta a Barbosa. Indagou sobre as perdas de espaços. O PT perdeu cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, com a saída do deputado estadual Ronaldo Medeiros da legenda. Medeiros deixou o comando municipal do PT para ir para o PMDB. Fugiu do desgaste, mesmo hoje sendo um dos críticos ferrenhos de Temer no parlamento estadual.
Ricardo Barbosa diz que o PT vai em busca de recompor os espaços com novos quadros. “A prioridade do partido é recuperar espaços perdidos. Agora verdadeiramente espaços do PT, então nós deveremos ter uma forte chapa de deputados estaduais para concorrer com a possibilidade de eleger dois a três”. Ou seja: os espaços antes ocupados por Marquinhos Madeira e Ronaldo Medeiros não eram “verdadeiramente espaços do PT”.
“O PT aprendeu e deverá aprender mais com erros que ocorreram no passado. A gente viu que o preço que esse equívoco cobra é grande, pois tivemos vários políticos que se elegeram aqui pelo partido e acabaram deixando o PT e saíram justamente no momento em que o partido mais precisava deles”, concluiu. Uma crítica, sobretudo, a Medeiros.
Ele não é citado nominalmente, mas é dito que ele trocou o PT pelo PMDB “no momento em que a gente mais precisava de companheiros na defesa do PT”. Barbosa não deixou de alfinetar dizendo que Medeiros foi para o partido que se manifestou favorável ao impeachment. Ora, mas é o partido de Renan Calheiros também. E Renan bancou o “isentão” no processo de impeachment. Lembram?
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