Em entrevista ao jornal Tribuna Independente, o deputado estadual Francisco Tenório (PMN) disse não ter visto “celeuma” na auditoria feita na folha de pagamento da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. É mesmo, deputado? Bem, antes de tudo é bom relembrar o histórico para se ter acesso ao relatório sobre a auditoria (que não é nem a auditoria em si, pois divulgar além poderia comprometer segurança de servidores e gerar exposições desnecessárias. Nisto, o deputado Marcelo Victor (PSD) esteve correto).

No histórico, está uma pressão que foi exercida pela imprensa, pelo Ministério Público Estadual e pelo deputado estadual Rodrigo Cunha (PSDB) – necessariamente nesta ordem! – para que o documento se tornasse público e o parlamento divulgasse, mesmo diante da falácia do presidente Luiz Dantas (PMDB), que dizia respeitar o princípio da publicidade. Não fosse a pressão, a população sequer saberia que a auditoria já havia sido finalizada. Afinal, Luiz Dantas não tocou no assunto por livre vontade, mas por ser questionado pela jornalista Vanessa Alencar.

Não houvesse celeuma...não teria sido tão difícil o acesso ao relatório da auditoria. Simples assim, caro deputado Francisco Tenório. Sem mais, sem menos.

Agora, vamos ao mérito. Nas questões administrativas, a auditoria revelou uma Casa completamente desorganizada em relação ao pagamento do seu servidor. São fichas cadastrais que faltam informações, programa ultrapassado, as informações não são guardadas com a segurança devida, falta estrutura lógica e tecnológica para lidar com os Recursos Humanos do parlamento estadual, enfim... e a culpa disto são das Mesas Diretoras que se sucederam ao longo do tempo. Nunca resolveram o problema, mesmo correndo rios de dinheiro por meio do duodécimo.

É que a prioridade parece ter sido outra ao longo destes últimos anos, como mostraram a Operação Taturana, a “lista de ouro” e a mais recente ação da Polícia Federal ao “visitar” a Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Então, fossem apenas os erros a serem corrigidos de forma administrativa, a auditoria já traria uma pergunta a ser feita pela imprensa com toda força: por qual razão o parlamento estadual não aprimorou a gestão se tinha as ferramentas, os funcionários e o dinheiro para isso? São ações das Mesas que precisam ser “auditadas” ao longo do tempo.

E não falo desta Mesa, afinal a auditoria vai até o ano de 2014.

O fato é que não são apenas estas questões. Como já mostrou o CadaMinuto – e neste texto não detalharei mais – pessoas mortas receberam salários; há indícios de enxerto na folha após Constituição Federal, por conta da nomeação dos prodígios adolescentes de 14 anos de idade; problemas relacionados aos CPFs que precisam ser explicados, suspeitas de pagamentos indevidos a funcionários, dentre outros pontos. E é aqui que podem residir os crimes mais graves, não apenas pelo dolo da má-gestão, mas pela culpa: “a intenção de...”.

Como não haver celeuma, caro deputado Francisco Tenório?

Por esta razão que o Ministério Público Estadual vai se debruçar sobre o assunto. O procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça acertou no pedido de solicitação que fez a Casa de Tavares Bastos. Não que não se acredite no trabalho do procurador da Casa, Diógenes Tenório. Porém, lá o órgão da procuradoria é consultivo. Então, a sociedade precisa que outro órgão externo seja vigilante em relação a medidas que serão adotadas a partir do resultado da auditoria.

Mas eis a fala de Tenório na reportagem da Tribuna Independente: “É uma decisão que já foi tomada pela Mesa. Não vejo essa celeuma em torno disso. Acho que uma avaliação aprofundada do Ministério Público nessa auditoria ajuda a todos. A Mesa já encaminhou ao MPE toda a auditoria”. Se Tenório diz não observar celeuma, no sentido de dizer que fazem por aí “muito barulho por nada”, tal qual a peça shakespeariana; eu digo que aqui cabe uma outra sentença  do dramaturgo: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”.

Estou no twitter: @lulavilar