O senador Renan Calheiros (PMDB) quer o “melhor de dois mundos”. Pelo visto anda interpretando de forma equivocada o filósofo Leibniz, quando este se refere ao melhor dos mundos possíveis diante da realidade que existe. Mas, é que a filosofia de Calheiros se resume às estratégias políticas. Sendo assim, na mais recente entrevista que deu, todas as suas frases foram friamente calculadas, como diria o Chapolin Colorado.
Só que diferente do personagem Chapolin, Renan Calheiros calcula de forma precisa e com bastante atenção ao xadrez político que o país vive.
Ao mesmo tempo em que aproveita o desgaste de Temer com as reformas que o governo federal quer propor, sendo um crítico ferrenho desta, usando do mesmo tom da oposição, Renan Calheiros quer estar ao lado do Executivo e se manter governo. No passado, Renan Calheiros já fez o mesmo em relação à ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Esse foi o tom da entrevista que concedeu ao SBT local. Diz que não rompeu com Michel Temer, mas comparou o governo à seleção brasileira quando esta era comandada por Dunga. Quem é o Dunga em questão? Michel Temer, evidentemente. Renan Calheiros – já disse isso aqui! – busca uma agenda positiva diante dos desgastes que há em relação em ao seu próprio nome, diante da Lava Jato.
Calheiros diz que não há rompimento, “mas posições diferentes”. “O governo está parecendo com a seleção do Dunga. Nós não precisamos mais do Dunga e precisamos do Tite para governar o Brasil”. Ora, se Dunga é Temer, quem seria o Tite na opinião de Renan Calheiros? Se isto não é ser oposição, o que seria ser oposição? Afinal, neste caso, quem tem um amigo como Renan não precisa de inimigo...
Por sinal, inimigo é o que Temer não precisa. Ele consegue ser seu próprio inimigo sozinho, ao se equivocar em pronunciamentos, não discutir as reformas como deveria e permitir que estas sejam usadas de todas as formas pelos adversários mais ferrenhos. Inclusive, algumas das propostas que Temer defende hoje, o PT já defendeu quando era governo. É só buscar nas notícias antigas.
“O PMDB é um partido grande no Senado. São 22 senadores. 30% da composição da Casa. É natural e democrático que dentro do PMDB existam pessoas que pensam diferentemente. É isto que está acontecendo. Nós estamos vivendo no Brasil uma circunstância dramática e dificílima. Foi um país que sempre cresceu em 50 anos. A nossa vocação é pelo crescimento. De repente temos três anos de recessão e desemprego. É preciso fazer algo para que o país saia dessa situação. Esse é o meu foco e o foco da bancada no Senado”, afirma Renan Calheiros.
No mérito, ele está corretíssimo.
Para Renan Calheiros, PMDB e governo são entidades diferentes. Pois é, são. Ele está correto ao afirmar isto. Mesmo com o PMDB sempre sendo governo nos últimos anos independente do presidente que esteve no comando do país. “Eu conversei com o presidente Temer várias vezes”, colocou e mostrou uma preocupação de Temer com a legitimidade do governo. Bem cirúrgico para alimentar o discurso do “governo ilegítimo” usado pela oposição. Renan Calheiros é um exímio enxadrista até nas entrevistas. É sempre interessante observar isto. Cada palavra, cada sentença, é muito bem pensada. Portanto, não é apenas uma questão de mérito do que é dito.
Renan ainda disse que Eduardo Cunha – o ex-presidente da Câmara – ainda interfere no governo de Michel Temer. Ou seja: deu outro discurso de oposição. Ele defendeu ainda a saída de ministros do governo, como mudanças no Ministério da Justiça. Como disse em postagem anterior: é Renan Calheiros sendo Renan Calheiros...
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