Não sei se há correlação ou ligação entre os fatos, mas quando o ex-secretário de Prevenção à Violência, Jardel Aderico, deixou a pasta do governo do Estado de Alagoas, se despediu por meio de uma carta pública.
Aderico havia sido indicação do deputado federal Givaldo Carimbão (PHS). Assim como é indicação do parlamentar a atual secretária Evalda Bitencourt. Por sinal, em reportagem na imprensa, o próprio Carimbão confirmou a troca.
Em entrevista ao jornalista Nigel Santana, na Tribuna Independente, no dia 22 de dezembro, Givaldo Carimbão disse o seguinte: “A posse será na sexta-feira, a partir das 9h, no Palácio República dos Palmares. Esvalda tem um grande trabalho no campo social e atualmente exerce o cargo de superintendente de Políticas sobre Drogas na própria Seprev”.
A titular já era da equipe e comandava justamente o setor que tem sido repudiado pelo Arcebispado, como publiquei em postagem anterior. A denúncia do arcebispo Dom Antônio Muniz é do uso da estrutura de acolhimento aos dependentes químicos com finalidade político-eleitoreira. Precisa, evidentemente, ser investigado.
Não se trata de pré-julgamento. Mas, de lembrar que a denúncia é grave e não é a primeira vez que é feita por Dom Antônio Muniz. Não quero aqui, portanto, pré-julgar o parlamentar, muito menos a pasta. Porém, chamo atenção para os fatos que geram questionamentos por si mesmos.
Qual trecho da carta de despedida de Jardel Aderico que me chama atenção agora e que, na época de sua publicação, passou batido por mim? É esse aqui: “A verdade dos fatos, atos e atitudes será sempre aquela que foi construída no passado e continuará sendo, no futuro, por todos e para todos; e não para o benefício ou deleite de pequenos reinados sustentados na arrogância”.
Quais são os pequenos reinados sustentados na arrogância? Aderico teria mandado recado?
Aqui a íntegra do que falou Jardel Aderico ao deixar a Secretaria de Prevenção à Violência:
“O sentimento que me move, nos dias atuais, é de orgulho. Sou muito grato por ter tido a oportunidade de, ao lado do governador Renan Filho, liderar o processo de construção da política de prevenção à violência do estado de Alagoas, somando esforços com as áreas de drogas, criança e adolescente, medidas socioeducativas e prevenção, e acolhimento aos usuários e dependentes de drogas. Uma atitude inovadora e vanguardista, com resultados visíveis que, se levados adiante, com humildade e dedicação, serão duradouros.
Dados apontados por profissionais da imprensa, especialistas e colaboradores da segurança pública, destacam Alagoas, hoje, como um dos mais modernos desenhos de integração de políticas no campo da segurança e da prevenção à violência, com um conjunto de ações modernas e estruturadas, firmando-se como referência para o resto do país.
Assumi a Secretaria de Prevenção à Violência, criada em setembro de 2015, depois de uma reformulação do Governo na estrutura da antiga SEPAZ, visando implementar, no Estado de Alagoas, um modelo que contribuísse para a prevenção através da educação, mobilização e proteção social. Despeço-me da Seprev com a certeza de que vencemos esta importante etapa, e as políticas estão prontas, são maduras e apresentam resultados.
Meu sentimento é de dever cumprido, pois tive ao meu lado uma equipe de homens e mulheres dedicados e competentes, que juntos, oferecemos a Alagoas uma reflexão sobre os rumos das políticas de proteção e cuidado com as pessoas.
Neste momento, ecoa para mim, o tempo todo, a máxima de cuidar dos problemas da sociedade e de garantir que todos tenham uma condição existencial digna. Penso que é preciso provocar e ser agente das transformações, sabendo que o gestor público tem que ser forte, respeitando as expectativas das pessoas, mas que também promova mudanças. E é essa a contribuição que quero oferecer: pensar em novas posturas políticas, que têm sido, hoje, uma fonte de poder pelo poder, não do poder para servir, como deveria ser. Pensar a política como exercício de caridade. Um cenário possível de ser construído. Pois o duro caminho na evolução da gestão pública, em busca de uma maior eficiência e impacto nas ações, sem se descuidar da promoção de direitos, passa pela condução corajosa e inovadora de seus gestores.
Quanto ao futuro, ele é “logo ali”! Pois, com a liberdade de ação, pensamento e atitude, quero me dedicar diuturnamente à atuação social e oferecer ao meu estado o melhor dos meus sonhos e a mais vigorosa e transformadora energia dos meus dias. Jamais faltarei ao compromisso com o aprimoramento da ação pública, e farei todo o possível para preservar as conquistas, porque o mais valioso patrimônio de um cidadão é a liberdade crítica, honesta e despretensiosa.
A verdade dos fatos, atos e atitudes será sempre aquela que foi construída no passado e continuará sendo, no futuro, por todos e para todos; e não para o benefício ou deleite de pequenos reinados sustentados na arrogância.
Despeço-me, por ora, com total tranquilidade e senso de dever cumprido. Vamos em frente!”
Claro, pode ser só coincidência...
Na época, a assessoria da Seprev (conforme reportagem de Amanda Dantas, no Alagoas24Horas), disse o seguinte: “A assessoria da Seprev se limitou a dizer que Carimbão e Jardel discordaram de questões fundamentais na pasta e que a nova indicação atenderá “critérios técnicos””. Não se entrou em detalhes.
Mas vejam: as discordâncias eram com Carimbão e não com o governo do Estado de Alagoas, que é a quem a pasta está subordinada. É ou não é de se questionar?
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