Deputada Mara Gabrilli diz que vota pela vida. Vida de quem? Do bandido?

10/02/2017 09:59 - Bene Barbosa
Por redação
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A deputada Mara Gabrilli do PSDB de São Paulo publicou em seu perfil do Facebook um longo texto (veja aqui: https://goo.gl/jD3zwQ) sobre quais seriam seus supostos motivos para apoiar o desarmamento e para votar contra o PL 3722/12 do deputado Rogério Peninha que revoga o Estatuto do Desarmamento e cria uma nova legislação que garantirá o direito de defesa do cidadão ordeiro. Pois bem, o texto, provavelmente escrito por algum assessor, é desonesto e fraudulento do princípio ao fim. Não há ali uma só linha verdadeira e por isso, embora admita que é cansativo fazê-lo, terei que desmontar ponto-a-ponto e espero que você tenha paciência de ler tudo. Acredite, valerá a pena! E vamos lá!

O título já mostra que há uma clara tentativa de demonizar os que são favoráveis ao projeto, pois se votar contra o mesmo é votar pela vida, votar a favor é o que? Votar a favor da morte? Nada mais falso! A diferença talvez esteja em uma pergunta simples: vida de quem? Do bandido ou do cidadão, do pai e mãe de família, do trabalhador? Eu também sou favorável a vida. A vida da minha família, dos meus filhos, dos meus amigos e de todos os demais bons cidadão que diariamente tombam sem defesa perante uma criminalidade cada vez mais violenta e armada.

Haverá retrocesso com a aprovação do PL 3722? Em partes sim, é verdade. E isso seria ruim? Bom, basta compararmos os dados criminais e em especial o número de homicídios atuais e os das décadas de 70, 80 e 90 quando o porte ilegal de arma sequer era crime e praticamente toda casa tinha uma arma em seu interior. Se o tal “retrocesso” for viver novamente em um país onde o criminoso tinha medo de invadir uma casa e levar um tiro de seu proprietário, para mim está de bom tamanho.

A deputada, ou seu assessor, sei lá, ainda chama de retrocesso o fim da renovação obrigatória do registro (eles falam em 3 anos, desconhecem até mesmo a legislação atual que recentemente já ampliou esse prazo para 5 anos). Para que serviu tal obrigatoriedade? Para nada! Ou melhor, não passou de uma dificuldade a mais para o cidadão que quer manter sua arma legalmente. Essa obrigatoriedade jogou na ilegalidade milhões de armas e diariamente vemos pessoas sem qualquer envolvimento com o crime sendo presas devido a isso.

Ao usar o Mapa da Violência tudo que eles conseguem é mostrar o quanto a atual legislação fracassou em impedir o acesso às armas pelos criminosos e que as dificuldades criadas pelo Estatuto do Desarmamento continuam não impedindo milhares de homicídios por ano! Interessante notar que sobre o percentual de homicídios com a utilização de armas de fogo tem subido nos últimos anos nem uma palavra, pois isso prova, como já disse, que a lei não impediu que os criminosos se armassem.

São Paulo tem uma taxa média de resolução de homicídios de 30% (acredite, é uma das melhores do país), portanto, 70% ficam sem serem esclarecidos e assim, impossível determinar com precisão os motivadores dos mesmos. A deputada – ou seu assessor, sei lá - desconhece ainda o fato que razões fúteis e torpes para efeitos de condenação são aquelas que ocorrem em total desproporção entre a ação e a reação. Um exemplo: se você está em um bar, derruba sua cerveja no pé de alguém que para o seu azar é um traficante homicida e ele o mata, foi por motivo fútil, banal. A intenção, absolutamente desonesta, é tentar fazer o seu incauto leitor acreditar que esses assassinatos por “motivos fúteis” foram cometidos por pessoas comuns que com suas armas legais e seus respectivos portes de armas. Conta outra, deputada!

As armas apreendidas em São Paulo que foram rastreadas foram apenas as que possuíam número de série intacto o que significa menos de 10% do total apreendido, só por isso já se concluiu que a amostra analisada está totalmente contaminada e qualquer analista sério e não mal-intencionado a descartaria de imediato. Não bastasse isso, apreendidas em que situação de crime? Registro vencido? Transporte irregular? Porte ilegal sem o cometimento de outro crime? Apreendida após o seu proprietário fazer um tiro de advertência para espantar um ladrão que pulou o seu muro (sim! Há apreensão da arma mesmo em casos de legítima defesa) Entenderam a desonestidade? Não é porque uma arma foi apreendida que ela automaticamente está envolvida em um “crime de sangue”.

Gostaria realmente de saber de onde eles tiraram o número de que 40% dos pacientes que são atendidos pela AACD são “vítimas de armas de fogo” (como se as armas saíssem por ai disparando sozinhas). Encontrei dados bem diferentes no próprio site da Instituição. Vejamos: “Destes, 77,4% tiveram lesões traumáticas (acidentes de trânsito, tiro, quedas, por exemplo) e 22,6% lesões não traumáticas (tumores, infecções, acidentes vasculares, por exemplo).

Dentre os números de vítimas de lesão medular por acidentes de trânsito, os acidentes com moto lideram o ranking com 43,6% dos casos, seguidos pelos acidentes de carro que representam 36,4%, atropelamento 12,7%. Acidente com bicicleta e acidente com caminhão somam 7,2%.”

Seja como for, quais são as histórias por trás daqueles que tragicamente acabaram permanentemente lesionados por disparos? A resposta é mais do que óbvia: a maioria absoluta foi pelas mãos de bandidos ilegalmente armados! E tome desonestidade! Aliás, pela lógica simplista apresentada e pelos números apresentados acima, muito mais útil seria proibir os veículos.

Como assim dizer que dos 285 atletas que participaram dos jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro 35,4% foram vítimas em acidentes de trânsito ou arma de fogo? Qual a porcentagem de um e de outro? 34,4% de acidentes de trânsito e 1% por disparo de arma? E, mais uma vez pergunto, desses quantos foram baleados por pessoas legalmente armadas? Claro que não saberemos essa resposta pelas mãos da deputada. Ah! Aproveitando, a nobre deputada poderia verificaras dificuldades quase intransponíveis dos atiradores paraolímpico.

Sim no Brasil a vida está banalizada! Não tenho a menor dúvida que há milhares de bandidos soltos e armados por ai que não pensariam duas vezes em me matar para roubar o meu celular e nada mais justo que eu tenha uma forma de me defender. É simples ou não? É! Basta um pouco de honestidade intelectual.

E para encerrar com chave de ouro vemos aquele número mágico de 160 mil vidas salvas. Número esse que varia de acordo com os humores de quem inventa, digo, de quem analisa. Já vi 120 mil, 74 mil, 200 mil. Ao que parece, não se acertam nem na hora de combinar os números. Pois bem, digamos que seja verdade que esse número exista (e não existe! Que fique claro.) não há qualquer comprovação que foi o Estatuto o Responsável pela redução e tais “vidas poupadas”! Nos últimos 10 anos a taxa de homicídios cresceu em 20 dos 27 estados brasileiros.

Oras, como explicar que em determinados estados (apenas 7) o Estatuto funcionou e nos outros 20 não? Não há como explicar, pois é mentira! O estatuto não foi o fator de redução em nenhum lugar! Políticas públicas é que fizeram a diferença, como por exemplo, em São Paulo que reduz seus homicídios desde 1999 (portanto muito antes do Estatuto) e conseguiu isso de uma forma que parece absurda para a deputada e sua assessoria: colocando bandidos na cadeia! Cadeia inclusive que a deputada fez questão de livrar os menores infratores quando votou contra a redução da maioridade penal.

Fica a pergunta que não quer calar: vida de quem, deputada?

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