Se existe algo que deve ser sagrado neste país é a liberdade de expressão e de livre pensamento. Infelizmente, estas duas coisas – fundamentais ao homem que quer ser livre - estão sendo ameaçadas diuturnamente pelo politicamente correto e a censura ideológica. São ações para tentar proibir marchinhas em carnavais, patrulhas do pensamento alheio, e há até artigo ensinando como as pessoas devem se fantasiar para não ofenderem minorias. Coloquei isso em minhas redes.
Estamos virando o país do “mimimi”. Um bando de ofendidinhos que em tudo vê crime de opinião. É patético e dantesco. As pessoas “pisam em ovos” para falar em público. Fica parecendo que estamos na distopia descrita por George Orwell no livro 1984.
Porém, dentre as ameaças mais graves à liberdade de expressão está aquela que tenta calar o humor. O humor – por meio de charges, piadas, paródias, enfim... – é um instrumento de forte crítica social, que, justamente por meio da hipérbole (que é o exagero), escolhe um alvo e nos faz refletir sobre a situação.
O humor pode ainda humanizar aqueles que se acham “mitificados” e “acima de qualquer suspeita”, como ocorre com os políticos que possuem séquitos ou são os corruptos de estimação de alguém.
O humor tem que ser ácido e ainda assim encarado como humor. Quando a piada é ruim, se ignora e segue em frente. Sem “mimimi”. Por exemplo, eu sou cristão. O que mais existe por aí é humor ofendendo cristãos. O canal Porta dos Fundos então...são vídeos e mais vídeos tocando neste ponto. Não me ofende. Eu simplesmente ignoro. Não fico por aí chorando as pitangas. Apenas lamento o que para mim é humor de baixíssima qualidade e não assisto. É escolha! Algo que existe nos territórios de liberdade.
Mas parece que a estatal Correios não entende assim. Esta estatal, que detém o monopólio dos serviços que presta, resolveu se sentir incomodada por conta de uma piada feita pelo Charges.com.br. A piada usa o recurso hiperbólico, mas como a direção do Correios não tem senso de humor não deve ter identificado isto.
É aquele momento em que é preciso desenhar. São duas linhas de raciocínio na piada: 1) as reclamações que existem contra o Correios e seus serviços; 2) o fato de – mesmo diante de tantas reclamações – a empresa estatal querer ser operadora de celular. E aí se compara a entrega de mensagens por celular ao que ocorre com serviços como o Sedex. Ora, nós que somos OBRIGADOS a sermos clientes do Correios rimos. Identificamos, evidentemente, o que é hiperbólico, mas rimos. O Correios não quer sofrer crítica? Quer monopolizar também as piadas que se conta sobre a empresa?
O Correios quer ser monopólio do senso de humor também?
Há muito que o Correios deveria era ser privatizado! Um absurdo que tal serviço seja monopólio do Estado. O grande problema dos monopólios é que os serviços acabam custando mais caro e o indivíduo fica preso a ser cliente somente daquela empresa. Comparem a telefonia do país antes da privatização e depois desta. Mas há outro perigo também no estatismo: é ele achar que o governo é quem sabe que piada deve ser feita ou que deve ser pensado. Ah, e sem contar com o desperdício de recursos públicos. O Correios vai sair notificando todo mundo que falar mal da empresa por aí? Vai precisar de muito trabalho. Quanto custaria isto?
Alguém avisa para o Correios que o Brasil ainda não é a URSS.
Eis o que publicou o Chages.com.br em suas redes sociais: “Fui notificado com ameaça de processo pelos Correios, que me mandaram tirar essa charge do ar EM 48 horas. Considerando-se que é um monopólio público, que fiz uma peça de humor e que me baseei em críticas amplamente divulgadas na imprensa, tô indignado. Eles tem 32 mil reclamações no "Reclame Aqui". Uma apenas marcada como "resolvida". E gastam os recursos públicos pra perseguir e ameaçar humoristas em vez de cuidar dos serviços sucateados. O que você acha?”
Eu não tiraria jamais a charge do ar. Espero que o veículo também assim o faça. É o que nos resta de forma de protesto diante de determinadas ações que perdem o bom-senso.
Que permaneça no ar esta piada aqui:https://charges.uol.com.br/2017/01/18/cotidiano-ligou-chegou/
Em um país normal poderiamos boicotar o Correios e escolher outra empresa. É, em um país normal...
Estou no twitter:@lulavilar