Na quarta-feira, dia 1º, o senador Renan Calheiros (PMDB) se despede de uma cadeira que lhe foi muito útil nos últimos anos, sobretudo em tempos de Lava Jato: a da presidência do Senado Federal. Mas será o fim da Era Calheiros no Senado? Claro que não! Desde 2007, quando conseguiu dar a volta por cima das denúncias contra ele, Calheiros voltou mais forte e se tornou um dos grandes enxadristas da política. Maior do que já era.

Calheiros soube conquistar poder independente do grupo que está no comando da nação. Isto se dá desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando – naquele governo – foi ministro da Justiça e um dos responsáveis pelo malfadado Estatuto do Desarmamento. O maior desafio de Renan Calheiros não são as relações políticas de Brasília, pois soube sempre “viajar” com um pé em cada canoa, retirando o pé daquela que vai virar, ainda buscando agradar a gregos e troianos.

Quem duvida disto que se lembre do julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Renan foi aliado até o último momento, mesmo mantendo – diante dos holofotes – a postura de isento. Foi peça fundamental para garantir os direitos políticos de Rousseff, desmembrando a Constituição na frente do presidente do Supremo Tribunal Federal. Este é Renan: o homem que dá nó em pingo d’água.

O maior desafio de Renan Calheiros é o tabuleiro político para 2018. Primeiro: lidar com os desdobramentos da Lava Jato para sair ileso. Segundo: lidar com as consequências políticas disto para se reeleger senador.

Agora, na quarta-feira, o provável presidente será Eunício Oliveira (PMDB). Renan Calheiros mantém a incógnita sobre seu futuro. Só descartou – em entrevistas recentes – a possibilidade de voltar ao cargo de ministro da Justiça no governo do presidente Michel Temer (PMDB). Mas, independente do caminho que tome, Renan Calheiros seguirá sendo maior que muitos de seus colegas de Casa. Ainda que não tenha nenhum cargo, este é Renan.

Os passos de Renan Calheiros estão sendo acompanhados pelo Palácio do Planalto. A relação com Temer não é das melhores. De acordo com a imprensa nacional, Calheiros pode ocupar a posição estratégica de presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). É uma cadeira onde poderá negociar com força com o presidente Temer. Todavia, conforme o Correio Braziliense, a possibilidade é remota. Calheiros teria dito que não se sente “atraído” pelo posto.

O fato é que Renan Calheiros nunca move uma peça do xadrez sem pensar em dois ou três movimentos à frente.

Em Alagoas, seu desafio é costurar alianças que garanta a ele – como ocorreu em 2010 – um processo eleitoral confortável e sem muitos adversários. Naquele momento, Calheiros chegava ao processo eleitoral combalido por conta das denúncias envolvendo o nome da jornalista Mônica Veloso e seus “bois de ouro”. Por conta disto, surgiram postulantes à cadeira do peemedebista que apostavam no “novo nome”. O ex-delegado da Polícia Federal, José Pinto de Luna – que havia virado símbolo do combate à corrupção no Estado, devido a Operação Taturana – se lançou como pré-candidato ao Senado pelo PT.

Como, na época, o PT era um puxadinho do PMDB em Alagoas, Pinto de Luna sofreu a rasteira e teve que se contentar com uma candidatura à Câmara de Deputados. Renan sabia que eram apenas duas cadeiras. Logo, teria como rival apenas Heloísa Helena, na época no PSOL. O fato surpresa daquela eleição foi Benedito de Lira (PP), que se elegeu senador em primeiro lugar. Renan foi o segundo.

Não podemos esquecer que Lira foi uma surpresa, pois sequer era visto como ameaça diante dos resultados das pesquisas da época.

Agora, o desafio de Calheiros é maior. Dentro do próprio PMDB, o ministro do Turismo, Marx Beltrão está de olho na vaga. Do outro lado, o senador Benedito de Lira afastou a aposentadoria e vai para a disputa. O ex-governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) também pretende voltar ao Senado Federal. Existe ainda remota possibilidade do ministro dos Transportes, Maurício Quintella (PR) ser candidato.

Quintella, Lira e Vilela são do grupo oposto ao de Renan Calheiros. O principal partido deste grupo é o PSDB que pode lançar Rui Palmeira – atual prefeito de Maceió – ao governo do Estado. Renan, além de se dedicar aos bastidores de Brasília e aos desdobramentos da Lava Jato, também terá que se dedicar e muito ao tabuleiro do xadrez político em Alagoas.

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