Basta um passeio pelas redes sociais para encontrar pessoas revoltadas com o muro que o presidente dos EUA, Donald Trump (Republicano), pretende construir na fronteira dos Estados Unidos com o México. É um festival de adjetivos que são relacionados a Trump. Eles vão de racista, xenófobo ao vocábulo nazista com uma celeridade incrível, sem precisar de qualquer argumento ou de definição para o que de fato tais termos significam. Afinal, basta a paixão política para usá-los em tempos onde todo mundo vive em “voz alta”.

Fica parecendo que Trump é o grande mal do mundo que teve essa ideia.

Todavia, se você ama ou odeia o mundo, por coerência, você deveria entender que há uma história por trás do que você tão apressadamente opina. É que o muro já existe! E a história começa por aí.

O muro foi construído pelo ex-presidente Bill Clinton com o objetivo de barrar imigrantes ilegais. Barack Obama – o queridinho do mainstream midiático – deu continuidade ao muro com o mesmo objetivo. Eles, os primeiros a pensar no muro, são do Democratas. Clinton – por sinal – é o esposo de Hillary Clinton, que foi a rival de Trump. Por sinal, o mesmo Democratas que ajudou na fundação da KKK.

Mas estamos diante das coisas que o mainstream finge esquecer. Assim, ao sabor das convicções políticas de muitos jornalistas (e mostrarei isto daqui a pouco), são feitas reportagens tidas como “isentas”, mas com o objetivo primeiro de criar uma narrativa que separe os vilões dos heróis pelas interpretações ideológicas da realidade. Se forem necessários recortes na realidade, eles serão feitos. Tudo tem que caber na ideologia.

E aqui não se trata de elogiar o muro. Particularmente, não gosto da política de erguer muros. Porém, não me dissocio da realidade e isto inclui saber que o governo de Trump não será só isto. Como todo governante, terá acertos e erros. Manda a regra, que os acertos sejam reconhecidos e os erros criticados. O corte de financiamento de ONGs que promoviam o aborto com dinheiro público é um acerto, já que estas são não-governamentais.

Outro ponto que merece ser olhado com bastante crítica – mas sem se dissociar do mundo real – é o protecionismo. Em tese, sou contra o protecionismo por defender o livre-mercado. Mas vejam só: não é interessante que agora entre os que criticam o protecionismo estejam também os críticos do livre-mercado? Filho, se você é contra o livre-mercado como pode ser contra também ao protecionismo? É que alguns são contra ao que sua ideologia manda naquele momento, por isto permitir ganhar terreno e se impor em espaços. São capazes até de refazer a História ao prazer de suas convicções particulares.

Duvidam disso?

Observem o caso da deputada federal Maria do Rosário (PT). Ela fez em suas redes um repúdio ao Muro de Berlim. Afirmou que “sua geração” aplaudiu a queda daquele muro que dividia a Alemanha em duas: a Ocidental (capitalista) e Oriental (socialista). Comparou o Muro de Berlim com o muro de Trump. A senhora petista não leva em conta a realidade distinta e compara o incomparável.

Primeiro ponto: o Muro de Berlim não visava a imigração ilegal, mas uma separação entre comunistas e capitalistas. Foi erguido por socialistas – que possuem convicções semelhantes a de Rosário – para impedir que as pessoas da Alemanha Oriental fossem ao Ocidente. Antes do Muro de Berlim, três milhões de pessoas cruzaram a fronteira para o lado ocidental em busca de vida melhor. É a História. Maria do Rosário passou a defender o capitalismo de uma hora pra outra?

Segundo ponto: Ainda que sem querer, Maria do Rosário passou a elogiar os republicanos para poder condenar o Muro de Berlim e o muro de Trump. Elogiar os republicanos? Sim. Pois o pedido para que o muro viesse ao chão foi feito pelo presidente Ronald Reagan (republicano), em 1987, quando discursou em frente ao Muro de Berlim. Sua frase entrou para a história: “Sr Gorbachev, derrube este muro”. É que o líder soviético na época era Gorbachev. Rosário está em um partido que ama líderes soviéticos.

O muro de Trump, por mais repudiável que seja, não pertence a esta realidade, nem tem esta perspectiva histórica. Por sinal, o que Maria do Rosário acha hoje do “muro da vergonha” que foi erguido em Brasília durante um Sete de setembro para separar a ex-presidente Dilma, quando esta estava no comando da nação, dos manifestantes que pediam seu impeachment? Já que é para comparar muros sem olhar os contextos, então vamos lá...

Este é um dos exemplos de como a prisão ideológica pode moldar a realidade diante dos interesses momentâneos. É o que Trotsky chamou de “moral elástica”.

No início do texto falei que muito nasce das convicções assumidas de jornalistas que tentam ser isentos. Isto está nos atos falhos, como o de Carolina Cimenti quando disse que 700 milhões de pessoas estavam no protesto contra Trump no dia de sua posse. Ou quando outro jornalista – que não recordo o nome – disse que Trump nunca repudiou o apoio recebido por um líder da KKK. Trump repudia o apoio desde 2015.

Mas isto também se faz presente em outros lugares, como em declarações de jornalistas quando estes estão longe da grande mídia; ao fingirem separar o “profissional” do “pessoal”.

Vejam o caso de Sonia Bridi, que é jornalista. Em sua conta de twitter, Bridi conclamou os brasileiros a pararem de consumir produtos americanos, pois os EUA estavam fazendo bullying com o México. O motivo: o muro de Trump. A jornalista sequer mostra para o seu público que o muro já existe e o primeiro a fazer bullying foi Bill Clinton, que foi seguido por Obama.

Mas Bridi, para fazer o seu protesto, ainda se utilizou de uma invenção oriunda dos EUA: o twitter criado em 2006. Não é lindo? É que a realidade não é tão simplista quanto faz acreditar (ou parece acreditar) Sonia Bridi. Afinal, o mundo deve muitas invenções e produções aos americanos, assim como também deve a outros países. É a globalização que jamais pode ser confundida com globalismo. A este último, Donald Trump se opõe e faz certo ao se opor, ainda que algumas de suas medidas devam sim ser criticadas.

Bridi – em uma visão simplista – ainda separa o heróico México do vilão EUA. Porém, uma pesquisa rápida mostrará a jornalista – e a quem tiver interesse na realidade – que este heróico México também faz uso da “maldita” política dos muros, sendo ele (o México) o vilão da Guatemala. É que há um muro mexicano, conhecido como “muro da vergonha”, que foi construído para conter a imigração ilegal de pessoas da Guatemala e de outros países ali próximos.

O repúdio vale para os EUA, mas não para o México? E o boicote neste caso seria às tequilas ou ao seriado Chaves? Não raro, essa gente que odeia os americanos passa as férias na Disney e ama fazer compras em Nova York. Alguns até já moraram por lá para adquirir experiências que os fizessem melhorar de vida. É sempre algo lindo de se observar. Torço para que mais gente possa fazer tais viagens.

Então, meus amigos, não é que Trump não possa ser criticado. Pode e deve. Afinal, políticos devem ser vigiados e fiscalizados. Não podemos ter político de estimação. Porém, isto não é argumento para se dissociar da realidade e pintar um apocalipse onde ele não existe. Tais pinturas atendem única e exclusivamente a uma guerra cultural ideológica que tem os interesses do globalismo por trás.

É difícil resumir o globalismo em um artigo, ainda mais quando o objetivo deste artigo é outro. Para quem ficou curioso, indico o livro Introdução à Nova Ordem Mundial do escritor brasileiro Alexandre Costa.

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