É natural que diante de um grave problema se busque ouvir quem o estudou. Fiz diversos textos citando o jornalista Carlos Amorim. Eu não sou especialista no tema, mas ele é. Na época em que a questão me interessou, por volta do ano de 2013, eu me dediquei à leitura de vários textos, dentre eles a trilogia de Amorim, que é formada por História do Crime Organizado, A Irmandade do Crime e Assalto ao Poder. Todos excelentes.
Portanto, é sobre o conteúdo das obras dele que falo e não sobre o que eu penso necessariamente, pois não tenho gabarito para isto. O que fiz foi apenas reproduzir o que se encontra em suas obras. Fiz isto em pelo menos dois artigos neste blog e em algumas reflexões em minhas redes sociais.
Existiu até quem mandasse indiretas (em tempos de redes sociais elas são inevitáveis) para os meus textos, dizendo que estou querendo dar uma de "especialista". Eu mesmo não! Só li alguns autores que tratam do assunto. Dentre eles, Amorim. Não cometi o erro brutal de tomar os textos dele e os estudos dele para mim. Disse o tempo todo de quem eram aquelas colocações que faziam sentido e, consequentemente, mereciam ser resgatadas em tempos atuais.
E olhe que não concordo com tudo que ele diz. Mas isto não vem ao caso, pois posso não concordar com uma ou outra conclusão, mas os dados que ele apresenta são certeiros. Quem observar o site dele e também me acompanha vai perceber onde há discordâncias de visões de mundo.
Mas, no assunto facções criminosas (gênesis e modo de ação), ele é um dos que mais entendem do assunto neste país. Se eu fosse governante, iria ouvi-lo com toda a humildade do mundo. Não teria nada a perder. Teria muito a ganhar.
O problema é que temos governantes que querem fingir que o problema não existe e ficam dando outros diagnósticos para a população.
O senhor ministro da Justiça Alexandre de Moraes poderia marcar uma conversa com cidadão e ouvi-lo. Duvidam da importância disso, leiam o site de Carlos Amorim. Eis um trecho: "Após mais de 20 anos de parcerias, CV e PCC se desentenderam. Por trás da ruptura estão desacertos comerciais no mundo do tráfico de drogas e de armas de guerra, os segmentos mais lucrativos do crime organizado brasileiro, descontando a política, um tabuleiro privilegiado para os criminosos de colarinho branco. E a luta entre as facções, que controlam as cadeias em todo o país, ameaça se alastrar para regiões além da fronteira norte. Os próximos cenários do conflito podem ser os estados de Mato Grosso do Sul e do Paraná, também áreas de fronteiras com fornecedores de maconha, cocaína e armas".
Estas e outras informações por lá: https://carlosamorim.com/
Não conheço o ministro da Justiça, mas sempre tive uma boa relação com o ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa (PR). O cito aqui apenas para implorar que leve ao Ministério da Justiça - caso possa - a trilogia de Amorim, em especial os volumes Irmandade do Crime e Assalto ao Poder.
Eu sempre estranho quando as vozes que possuem o que falar são simplesmente deixadas de lado pelo mainstream. Não são sequer mencionadas. É como se ninguém neste país tivesse estudado o assunto. E não estou falando do assunto "presídios", mas do tema "facções criminosas".
Pois é óbvio que na questão em relação aos presídios, sabemos dos problemas de estrutura, do modelo absurdo de cárcere, da não separação de presos por periculosidade, das "antecipações de pena" que resultam em injustiças etc, etc, etc... Inclusive, o próprio Amorim faz estas distinções ao pontuar a falência do sistema carcerário no Brasil.
Mas, há outra questão que é varrida para baixo do tapete quando se discute apenas um lado: como o crime organizado se estruturou ao longo do tempo e funciona nos dias atuais, contando com “compras no atacado” de determinadas autoridades.
O que se viu na noite de ontem na reportagem do Fantástico foi justamente o olhar para apenas um ângulo da questão.
Se o MPF do Amazonas usar a informação que já possui para encaminhar uma "Lava Jato" direcionada às facções criminosas teremos um ganho enorme para o país. Aparecerão autoridades no meio do caminho, não duvidem!
Outra reflexão de Carlos Amorim que vai ao estômago do establishment: "É a velha tática do governo federal: esse negócio de organizações criminosas é problema dos estados. Brasília quer distância desses conflitos sangrentos. Como se não tivesse nada a ver com isso". É a fala de quem tem uma trilogia detalhada sobre o assunto.
Ainda bem que, em seu blog, Amorim resolveu falar sobre o assunto.
Sobre as discordâncias com o jornalista em questão: 1) ele faz elogios ao PT que eu não faço; 2) Ele já fez texto criticando a PEC dos gastos (eu não critico); 3) ele me parece ter um alinhamento a uma esquerda considerada democrática com quem tenho divergências e 4) ele sempre me pareceu contra o impeachment, classificando de forma errada, a meu ver, uma determinada bancada que faz parte do mesmo establishment de “conservadora”, quando na realidade o termo mais correto seria “patronato”, como mostra Raimundo Faoro em Os Donos do Poder.
Porém, devo reconhecer que ele é o autor de uma das mais importantes obras do jornalismo brasileiro. Seria desonestidade de minha parte não reconhecer, ignorar ou não indicar tais livros. É que é possível discordar reconhecendo o mérito de quem acerta na mosca em determinadas questões. Simples assim. É o que fez Amorim ser elogiado até por gente que critica muitas de suas posições políticas. É só pesquisar.
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