“A vida é resultado do que desejamos conquistar”, já diriam os versos de Busca Moderna, um dos singles da banda alagoana Mutação, e podem definir o momento do grupo. No próximo dia 20 de janeiro eles interrompem o hiato e sobem ao palco do Orákulo com a formação original para gravar o seu primeiro DVD.
Formada em 1999, a banda é referência do Hardcore em Alagoas, tendo na bagagem shows em quase todas as capitais do Nordeste e também em São Paulo, nesta ocasião a convite do Dead Fish. Mesmo com todo o sucesso e ascensão, a banda encerrou suas atividades em 2006, quando o vocalista Allan Houston anunciou que iria morar na Espanha. De lá pra cá, o grupo ainda se reuniu algumas vezes para shows, mas sem data para retorno definitivo.
“Depois do último show com a formação original da banda ficamos todos frustrados com a ida do Allan para Espanha, provavelmente porque na época vivíamos nosso melhor momento, “estávamos em ascensão”, ainda que fosse uma ascensão restrita ao mundo do Hardcore e do Punk Rock brasileiro. O Jonas sempre comparou o ocorrido com “estávamos na cara do gol, só não contávamos com aquele carrinho”. Nós acreditávamos demais na banda e no potencial que ela tinha, muito, em razão do empenho e comprometimento com o qual sempre nos dedicamos a ela, talvez por isso, sempre que a chama diminuía de intensidade, o universo conspirava a favor, e de uma forma ou de outra, “insistíamos” em nos reencontrar”, relembra Carlos Magno, baterista da Mutação.
Essa vontade de estar novamente nos palcos que nunca deixou que a banda parasse em definitivo foi responsável pelas reuniões que culminaram com o projeto de gravação do DVD. A ideia, segundo a banda, é tocar todas as músicas do álbum gravado em estúdio em 2004, intitulado “Por Quê”.
“O show do dia 20 vai ser diferente de tudo que fizemos até hoje, vão ser três guitarras no palco, queremos tentar ser o mais fidedigno possível às músicas do primeiro CD, uma vez que várias faixas do disco tem três guitarras gravadas. A formação será Allan Houston (voz), Carlos Magno (bateria), Carlos Peixoto (baixo), Jonas Lucena (guitarra), Derick Borba (guitarra) e Felipe De Vas(guitarra)”, explicou o baterista.
A priori, a Mutação não pretende voltar em definitivo à rotina de shows. A gravação do DVD é para eles a concretização de um sonho antigo, mas a banda planeja, ainda sem data definida, o lançamento de um segundo disco. Carlos Magno explicou que a banda já possui várias músicas escritas, sete delas prontas com melodia e arranjos concluídos. A dedicação por enquanto gira em torno do DVD. “Estamos ensaiando muito, e não haveria como ser diferente, a gravação de qualquer produto “ao vivo” demanda mais dedicação e empenho, nos vemos hoje como um misto de ansiedade e expectativa”, disse.
Voltar aos palcos sem dúvida será uma experiência recheada de sensações, sejam as lembranças da época em que a banda vivia seu auge, seja também a memória afetiva que a banda possui com o Orákulo. Foi lá que a banda fez show de lançamento do único CD ainda com Allan nos vocais e tocou novamente em 2012 com Dead Fish, desta vez com Saulo nos vocais.
Porém há elementos diferentes na Mutação dos idos de 2000 e na que subirá ao palco em 2017. Já diria o pensador Heráclito de Éfeso que nenhum indivíduo é o mesmo ao se banhar num rio duas vezes. Em 99 os cinco jovens queriam tocar, se divertir e fazer música. Hoje são homens na casa dos 30, alguns casados e com filhos. O mesmo será visto em parte do público que curtiu a banda na adolescência e irá ao show relembrar os sucessos.
“Acho que esse vai ser um dos pontos mais legais do show. Para uma parte do público, esse será mais um show da banda, um show com um clima mais nostálgico, oportunidade pra conversar e reencontrar velhos amigos, para outra parte, que só ouviu a banda através do cd vai ser o primeiro show, então a expectativa é um pouco mais intensa eu acho. Em 2000 éramos adolescentes com o exclusivo propósito de tocar, se divertir e fazer música, em 2017, apesar de fora dos palcos possuirmos inúmeras responsabilidades, contas pra pagar, filhos pra cuidar e educar vamos subir no palco com aquele mesmo propósito de 2000, tocar, se divertir e fazer música”, disse.
Aos fãs, a banda diz que por enquanto o propósito é tornar as imagens do show em DVD. O segundo disco ainda é um plano sem data para se tornar real. “Já os shows é muito pouco provável que venhamos a realizar outro, ao menos, tão cedo, quem sabe daqui a mais 11 anos”, brinca Carlos Magno.